Categoria: Internet

Retomando o controle da sua atenção

Hoje começa o Jejum de Daniel. 21 dias longe de conteúdo secular inútil, focando nossa mente nas coisas de Deus. É importante fazer o Jejum de modo não religioso e não automático. Infelizmente, é fácil ligar o modo automático e trocar aquela enxurrada de informações seculares por uma enxurrada de conteúdo religioso. Sei que é mais fácil e nosso cérebro adora uma facilidade, mas não faça isso! Não basta ficar sem conteúdo secular ou sem redes sociais. 

Você não precisa (e nem deve) se entupir de conteúdo, substituir o secular pelo cristão no mesmo volume insano. O objetivo do Jejum de Daniel não é se encher de informações, mas se encher dos pensamentos de Deus. Para isso é preciso desacelerar. Ver menos coisas e pensar mais nas coisas que vê. 

Uma pesquisa recente mostrou que o modo como usamos a internet está mudando a memória, a atenção e as habilidades sociais das pessoas. O alto fluxo de informações faz com que nossa atenção se torne dividida e diminui nossa capacidade de manter a concentração em uma mesma tarefa. As mudanças em nossa capacidade de reter informações são ainda mais assustadoras. Como conseguem recuperar informações online, as pessoas pararam de estocá-las em sua memória. Um estudo mostrou que a atividade cerebral em áreas críticas da memória diminui conforme as pessoas pesquisam informações online. 

A razão disso é que cérebro funciona em constante economia de energia. Ele consome cerca de 20% da energia do nosso corpo e, por isso, quanto menos gasto tiver, melhor irá trabalhar. Assim, seu esforço é direcionado para automatizar o máximo possível de atividades, para sobrar mais energia para as funções importantes. Quando percebe que a informação que ele busca está disponível do lado de fora, não vai se esforçar para armazená-la. 

Outro estudo mostra que nosso cérebro sente “fome” de informação. O consumo de informações ativa o sistema de recompensa cerebral, liberando dopamina (neurotransmissor ligado à sensação de prazer, relacionado também ao consumo de drogas). Então, podemos dizer que a informação (qualquer tipo de informação, o cérebro não diferencia se é algo útil ou porcaria) pode funcionar como uma droga. Imagine o que acontece quando a informação vem em alta quantidade e de consumo super rápido — como fotos, textos curtos, vídeos curtos, como os que consumimos diariamente nas redes sociais? Funciona mais ou menos como o que uma balinha cheia de açúcar e glucose de milho faz com nossa glicemia: joga o nível de glicose lá no alto e, depois da “onda”, o derruba rapidamente, fazendo com que precisemos de mais glicose, em um ciclo infinito (como a rolagem da tela do Instagram). 

Estamos sendo treinados a interagir com inúmeros links e conteúdos de uma maneira superficial na internet, sem prestar muita atenção a nada por muito tempo, apenas para receber a recompensa. Cachorrinhos esperando o biscoito. O que isso causa em nosso cérebro é a formação de um padrão de não prestar atenção em nada por muito tempo e manter sempre uma interação superficial com qualquer conteúdo. 

Você já deve imaginar o desastre que isso causa nos relacionamentos e — principalmente — no relacionamento com Deus. A tendência é transferir essa superficialidade também para o campo espiritual, e espiritualidade superficial nada mais é do que religiosidade vazia, um conjunto de rituais e práticas que nos dão a sensação de estarmos fazendo alguma coisa para Deus, mas que, sem a devida atenção, não surtem efeito. 

E nessa lista de rituais e práticas se incluem coisas que são muito importantes, a menos que sejam esvaziadas por essa tendência à superficialidade, como, por exemplo: orar diariamente, ler a Bíblia, ir à igreja, ouvir conteúdo cristão, etc. Não se trata do que você faz, mas de como você faz. Todas as coisas relacionadas à prática da fé têm absoluta necessidade de total atenção, foco e entendimento do que está sendo feito e do porquê está fazendo aquilo. E não apenas atenção à prática específica (como, por exemplo, a oração), mas a atenção nos demais momentos da vida, que é quando você vai colocar em prática aquilo que aprendeu durante a leitura da Bíblia ou durante a oração. Sem essa atitude de humildade, atenção e raciocínio, sua prática diária espiritual nada mais é do que exercício de religião. 

É preciso diferenciar religião e prática da fé e muitas vezes a diferença está mais no modo de se fazer determinadas coisas do que nas coisas, em si. Duas pessoas podem ter exatamente as mesmas práticas de aparente espiritualidade, mas uma delas está sendo religiosa e a outra está, de fato, vivendo a fé. Não cabe a nós julgar quem é quem — até porque, não temos acesso ao interior de ninguém além de nós mesmos. O que nos cabe é fazer o sacrifício que for preciso para garantir que sejamos aquela pessoa que está vivendo a fé de forma sincera. E muito do que define a sinceridade da sua fé está naquilo que você faz nos momentos em que não está fazendo coisas religiosas. Nas suas escolhas diárias, no seu modo de ver as pessoas, no julgamento que faz dos outros e de si mesmo, nos hábitos diários, naquilo em que gasta a maior parte do seu tempo e energia.

 A internet e as informações diárias (já que praticamente todos os meios de comunicação estão contaminados pelo ritmo acelerado da internet) precisam ser vistas como ferramentas e controladas por nossa capacidade de gerenciamento de tempo e definição de prioridades. Mas só conseguiremos fazer isso depois de tomarmos de volta o controle da nossa mente e o entregarmos para Deus. É preciso fazer um uso racional dessas novas tecnologias — e isso é verdade para qualquer pessoa que queira ser um ser humano funcional, mesmo aquelas que não estão minimamente interessadas em ter algum relacionamento com Deus. Quanto mais para aquelas que dizem estar preocupadas com o arrebatamento (que está logo ali) e a Salvação da alma! Como a pessoa espera ser arrebatada se 90% da sua atenção diária está sequestrada por um mecanismo que a tem treinado a ser superficial, emocional e focada no mundo físico? 

É possível ver claramente que o diabo tem usado esse nosso modo irracional de usar as novas tecnologias (principalmente as redes sociais que têm o scrolling infinito e o noticiário sensacionalista que só fala de desgraças) para formar uma sociedade de pessoas superficiais, constantemente irritadas e ansiosas, manipuláveis, pouco afeitas ao raciocínio, interessadas em buscar apenas seus próprios prazeres e treinadas a fazerem suas vontades. São exatamente essas as características do povo da época do anticristo, descrito no Apocalipse. E se não temos interesse de fazer parte desse pessoal, por que estamos treinando para isso com eles?

Nossa mente precisa da informação assim como nosso corpo precisa da comida, mas é essencial pensar na informação como algo que irá nutrir nosso espírito — nossa mente. Que tipo de informação devemos colocar dentro de nós? Essa é uma pergunta que exige uma resposta racional para guiar nossa escolha sobre o que consumimos. 

Obviamente, não iremos cortar completamente a internet de nossas vidas. Durante o Jejum de Daniel, nos abstemos de conteúdo secular inútil, notícias e conversas desnecessárias, mas continuamos acessando a internet para, por exemplo, assistir às lives diárias no Instagram do Bispo Macedo, acompanhar as reuniões do Templo de Salomão, assistir aos vídeos do Bispo Renato, ler os textos deste blog, etc. Continuaremos também consumindo informações em outros meios, como os livros da igreja, a Folha Universal e a revistinha do Jejum de Daniel (que também tem link para vídeos e conteúdo online).

 Por isso, precisamos entender que, além da desintoxicação mental, este período servirá para treinarmos um modo mais saudável de acesso à rede e às informações de um modo geral. Um modo intencional e consciente. Você não vai mais entrar na internet desmioladamente, como se tivesse todo o tempo do mundo. Vai entrar com prazo e propósito. Antes de acessar, defina o que irá acessar. Escreva em uma lista e siga exatamente o roteiro definido, pelo tempo determinado, de modo consciente. Não passe mais do que o tempo previsto, mas não faça seu acesso correndo. Lembre-se de que você precisa se treinar a passar mais tempo focado em uma só tarefa

Para isso, sempre que assistir a um vídeo, ler um texto ou uma passagem Bíblica, enfim, sempre que consumir um conteúdo da fé (online ou impresso), dedique algum tempo para pensar sobre o que consumiu. Pegue um papel e anote o que aprendeu, os pontos que mais lhe chamaram a atenção ou algo que você entendeu que precisa fazer. Eu sugiro que tenha seu caderno do Jejum de Daniel, para escrever e reler durante esses 21 dias. Tudo o que você aprender ou que se destacar na sua mente durante as leituras, coloque no papel. Mais tarde, releia e pense novamente sobre aquilo. Vai ajudar até na hora de orar, de saber o que pedir ou perguntar para Deus.

Dependendo do seu nível de dependência (estranha essa frase, “dependendo do seu nível de dependência” hahaha mas deu para entender, né?), talvez esse exercício seja um horror no início. Seu cérebro pode querer boicotar seus esforços, na tentativa de manter aqueles comportamentos que já estavam automatizados e com os quais ele conseguia poupar alguma energia e recebia recompensa (tudo ilusão, porque o excesso de informações cansa o cérebro e ele começa a tirar energia de outras funções. Mas ele não é muito esperto). Então, você precisa ser mais forte do que ele e manter seu propósito com uma ferramenta (na verdade, uma arma) que todas as pessoas possuem, mas quase ninguém usa: o sacrifício. Você lembra dele? Já falamos sobre isso em vários outros textos neste blog. 

Sacrifício, no sentido de renúncia, de abrir mão de alguma coisa por um objetivo maior. No caso em questão, conscientemente abrir mão da vontade de receber informações curtas e rápidas, com o objetivo de se desintoxicar desse ritmo enlouquecedor que o mundo tem nos imposto. Então, começaremos o Jejum ajustando nosso modo de consumir as informações que escolhermos consumir.

É assim que você vai recalibrar sua mente para se reconectar com Deus de um modo como talvez há muito tempo não se conectava (ou, quem sabe, nunca o tenha feito). O tema deste Jejum de Daniel é “21 dias para ter a mente de Cristo”. E eu lhe asseguro que a mente de Cristo não é acelerada, fragmentada e superficial como a mente das pessoas de 2021. E a nossa também não será. 

Fontes:

The online brain: how the Internet may be changing our cognition https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/wps.20617

Common neural code for reward and information value https://www.pnas.org/content/116/26/13061

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PS1. Isso é importante para todo mundo, mas particularmente essencial se você for jovem. Quanto mais jovem, mais o seu cérebro tem sido formado desse jeito todo errado aí, então seu esforço terá de ser maior. Os mais velhos já viveram grande parte da vida sem internet e redes sociais, então, em teoria, deveria ser mais fácil (ou menos difícil) ter uma relação mais saudável com essas tecnologias. Afinal de contas, a gente sabe que é possível. Mas os mais jovens também têm a vantagem de qualquer mudança ser mais fácil de se fazer (pode não parecer, mas é). Vai exigir sacrifício para todo mundo, mas também vai beneficiar todo mundo. 

PS2. Você vai ser um ET neste mundo. Um ET que entende a Bíblia, que tem paciência para textos longos, que tem paciência para ler livros, que tem paciência para escrever e pensar naquilo que leu e assistiu. Bem-vindo ao planeta das pessoas que conseguem viver em paz no caos em que o ser humano está mergulhado. Aprenda a gostar de ser diferente, de ser do contra. 

PS3. Sugeri o uso de papel/caderno/caderneta para anotações, primeiro porque é mais fácil recuperar essas informações depois (acredite em mim. Explicar isso exigiria um novo post enorme). Segundo, porque a ideia é fazer você diminuir o tempo em frente a telas. E terceiro, mas não menos importante, pesquisas indicam que usar papel (em vez de tablets e celulares) para escrever e ler facilita o pensamento abstrato, o que ajuda na compreensão, reflexão e raciocínio (vá que seja verdade, né? Não custa tentar). Então, pode até fazer as anotações nas famigeradas telas, mas, se puder escolher, sempre dê preferência ao papel.

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Procura-se a resistência

Em pleno século 21, nos vemos coagidos a entrar em caixinhas rotuladas e a pertencer a “categorias”, como se as pessoas de cada “categoria” tivessem as mesmas opiniões sobre os mesmos assuntos e não pudessem nunca ter um relacionamento saudável com pessoas de fora da sua bolha. 

Cresci e me desenvolvi em um mundo realmente plural, onde diversidade não tinha a ver com características físicas externas, mas com ideias e opiniões. Pensávamos diferente, tínhamos bagagens diferentes, mas nos deliciávamos ao descobrir pequenas similaridades em interesses e pensamentos.  Essas semelhanças nos uniam e nossas diferenças não nos afastavam. Isso foi antes do mainstream enlouquecer e decidir que agora estava na hora de acabar com o mundo e instaurar uma distopia que vai terminar com algum anticristo governando a coisa toda.

Porém, ainda existe a resistência. A resistência silenciosa (presa na espiral do silêncio por coação ou por vontade própria e preguiça de discutir com gente burra mesmo) que gosta de falar sobre bons livros, de compartilhar vídeos de bichinhos fofinhos, de observar girassóis, de plantar tomates, de admirar a natureza, e procurar o melhor nos outros e em si mesmo. A resistência que acredita que as pessoas não são seus corpos ou suas características físicas e que todo mundo tem condições de pensar (embora nem todos se interessem por isso). 

A resistência que entende que opinião deve ser bem fundamentada e que não precisa dar opinião sobre tudo o tempo todo. A resistência que gosta de respeitar o outro e de fazer as pessoas se sentirem felizes, mesmo quando pensam diferente. A resistência que não suporta a ideia de xingar ou agredir alguém. A resistência que está em paz e gosta de transmitir essa paz para outras pessoas. 

Ainda existe a resistência, e é com essas pessoas que eu quero falar. Não com os descerebrados beligerantes que gostam de metralhar desconhecidos (e conhecidos também, por que não?) em embates intermináveis e absolutamente inúteis entre pessoas que não querem e não vão ouvir o outro ou mudar de opinião. 

Não entendo o que leva essas pessoas a gastarem horas e horas do seu tempo inutilmente dessa forma. Confesso já ter sido belicosa no passado, mas não consigo me lembrar o que me levava a isso. Insegurança? Necessidade de autoafirmação? Não sei dizer. Só sei que agora, eu sou a resistência. Tenho minhas ideias, tenho minhas opiniões, elas não estão presas em caixinhas, em categorias, não falo por grupos e não me imponho rótulos. 

Se alguém quiser me conhecer, tem que ser pelos antigos métodos: o de ouvir, observar e acreditar. Conviver, ler, reler, escutar com atenção. Eu sou textão. Como a maioria das pessoas, aliás. Somos textões cheios de parágrafos e vírgulas e reticências e parênteses. Somos nuances e detalhes. Não podemos ser lidos por cima, correndo, de qualquer jeito. Você nunca vai entender ninguém se ler as pessoas assim. 

E eu realmente espero que a resistência, apesar de silenciosa, se encontre e consiga montar uma rede de conexões saudáveis no meio de todo esse caos, como um oásis de inteligência para acolher aqueles rebeldes que quiserem uma vida tranquila, próspera e feliz de verdade. É o que gostaria de fazer. É o que gostaria que todos os que são essa resistência pacífica e inconformada fizessem.

Se você também faz parte dessa resistência, que não está minimamente interessada em se digladiar com desconhecidos nas redes sociais em rinhas pautadas pela mídia, que não quer odiar pessoas por não serem cópias de você, que não compra os dogmas do mundo e nem os defende com a força visceral de uma defesa religiosa, fique à vontade por aqui e por qualquer outro lugar em que eu esteja. Gostaria que pudéssemos nos unir, ainda que na intersecção de nossos nichos de interesse e pensamento. Desde que se mantenha o respeito, aqui você nunca será desconsiderado. 

 

 

 

PS. Tenho que acrescentar um “desde que se mantenha o respeito” porque também não é a casa da mãe Joana, né? O mundo civilizado foi invadido por pessoas tão mal educadas que acham que podem entrar em blogs e redes sociais dos outros e sair ofendendo, xingando e sendo grosseiras com relação a assuntos e pessoas que são importantes para os donos dos blogs e perfis, com a desculpa de “dar a própria opinião”. Sou da velha guarda da internet. Tia Vanessa é um dinossauro que modera comentários, silencia contas e conversas inteiras no Twitter. Mas só de gente mal educada. Paz. Justiça. Respeito. Diversidade de pensamento. Educação. Sinceridade. Verdade. São poucas as coisas que eu prezo e exijo de quem convive comigo. Quer seja pessoalmente ou virtualmente, porque não faço distinção. Não sou uma pessoa online e outra pessoa offline. E acho que ninguém deveria ser.