Mês: maio 2009

Eu sou uma mosquita

Já comentei várias vezes a respeito do horror que tenho a inseticidas. Não consigo vê-los como meros “produtos de limpeza”. São venenos, daqueles bem venenosos, com caveirinha desenhada no rótulo e tudo o mais. Capazes, sim, de intoxicar um animal de estimação, tanto direta quanto indiretamente (o gato come uma barata envenenada, por exemplo), isso é ocorrência comum em clínicas veterinárias. Não confio e acredito em efeito cumulativo desse tipo de substância. Em todo caso, também não me agrada a idéia de expor meu organismo a esses produtos.

Mas isso é o de menos. Inseticida é quase que uma filosofia de vida, particular, alguns amam, outros odeiam, outros, abominam, e alguns acham absolutamente necessário.  O cheiro me incomoda, e mesmo os que não têm cheiro, me causam náuseas, mas nada que me incomode a ponto de apenas isso ser razão de eu não conseguir permanecer no ambiente, embora eu nunca permaneça no ambiente.

Ultimamente, porém, descobri certas coisas que me deixaram seriamente preocupada a respeito de minha existência. Primeiro, em minha penúltima viagem a Campo Grande, minha mãe, tentando me livrar dos ataques violentos dos mosquitos campograndenses, me deu um líquido de citronela para passar na pele. Quamurrí, colega! O cheiro daquele troço me ardeu todo o trato respiratório e meus pulmões se recusaram a trabalhar! Cadê o oxigênio? Cadê o oxigênio? Deu vontade de sair correndo!! E mamãe, tadinha, estava toda feliz, porque ama aquele cheirinho de citronela e achou que eu iria gostar, também.

Tentei me livrar da citronela lavando os braços (que era onde havia passado), mas não adiantou. Só consegui tirar o suficiente para não morrer sufocada, mas só de lembrar daquele cheiro horroroso, já sinto vontade de vomitar. É sério. Comecei a desconfiar que eu era um mosquito, mas não levei a sério.

Já em Porto Alegre, recentemente, sofri um ataque terrorista: diariamente entravam pela janela do meu quarto cerca de meia dúzia de Aedes Aegypti (sério), e mais um ou dois pernilongos tradicionais. Todos eles ávidos por um golinho do meu O negativo, desprezando profundamente o AB positivo do Davison. O sangue dele deve ser muito “eca” ou o meu é muuuuito maravilhoso, porque as mosquitas o ignoravam solenemente, enchendo minhas pernas, braços, costas, colo, rosto, nuca -e até pés-  de picadas. A situação estava ficando insustentável, o calor me impedia de ficar com a janela fechada, mas eu não podia correr o risco de pegar dengue, já que por ter tido dengue uma vez (em Campo Grande, claro), corria o risco de desenvolver dengue hemorrágica caso fosse contaminada novamente.  Entrei em contato com a Secretaria de saúde, passei meu endereço, esperava que encontrassem o foco dos mosquitos antes que eu desse o azar de ser encontrada por uma mosquitinha contaminada.

Os dias se passaram e nada da população mosquital diminuir. Então o Davison teve a magnífica idéia de comprar um repelente. Me lembrei de nunca ter me adaptado a repelentes, mas como grande parte de minha memória se fue depois do último burn out no ano passado, não soube dizer exatamente o que havia acontecido para eu concluir que não me adaptara bem. Então concordei, já que ele me garantiu que o repelente apenas afastaria os mosquitos, sem matar ninguém.

Eis que meu lindo esposo chega, certo dia, com o bendito repelente, em spray, todo chique. Quando ele aplicou em minhas pernas, a sensação gelada me pareceu bastante desconfortável, mas nada foi pior do que quando o cheiro do produto alcançou minhas narinas. De novo parecia que meus pulmões estavam mergulhados naquela desgraça cáustica, que irritou cada célula de meu apavorado sistema respiratório. Meus brônquios jamais ficaram tão bronqueados. Tive um desespero de me livrar daquele troço, nem que para isso fosse necessário me atirar em um tonel de ácido – devia ser mais agradável.

Mais uma vez, quamurrí! E tive a certeza de que eu nada mais sou do que uma mosquita superdimensionada. Não sei exatamente qual sensação foi pior, se a da citronela ou a do repelente. Então minha mãe me lembrou que ingerir levedo de cerveja regularmente mantém os mosquitos afastados. É verdade, nenhum inseto hematófago suporta sangue de suplementadores de levedo de cerveja. Lembro que mantivemos o Nermal sem pulgas por anos (e olha que naquele tempo éramos ignorantes e ele tinha acesso à rua) porque tivemos a sorte de ele amar o gosto do levedo de cerveja.

Ocorre que eu simplesmente não suporto o cheiro, muito menos o gosto do comprimido de levedo de cerveja, mas tenho tomado por obrigação. O Davison acha o gosto ótimo, mas eu sei que ele é exceção. Ao menos tenho conseguido manter minha pele mais ou menos intacta depois que passei a suplementar (ainda que com algum esforço) levedo de cerveja (que, a propósito, é ótimo para a saúde). Digo “mais ou menos” porque ultimamente tenho me incomodado com uma porção de carocinhos, vermelhidão, machucadinhos e coceira na pele e não sabia qual era a causa….até hoje. Mas essa é outra história.

A importância das redes de proteção