Dia: 15 de outubro de 2010

A discussão sobre descriminalização do aborto

Povo indignado porque Dilma se declara pessoalmente contra o aborto, mas favorável à descriminalização do aborto,  acha que ela está sendo contraditória. Não está. Não se trata de dizer se o aborto é CERTO ou ERRADO, não é isso o que está sendo discutido. Ser contra o aborto é achá-lo errado, mas ser a favor da descriminalização do aborto é não concordar com o fato de que as milhares de mulheres que fazem aborto hoje na clandestinidade sejam tratadas como criminosas. Tem muita coisa errada que não é crime, mas nem por isso deixa de ser errado.

Resolvi exemplificar de uma forma gráfica e bem simples, para ver se me faço entender:

aborto2

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Explicando a posição de Dilma e a minha, quando digo que não entendo a celeuma em torno do assunto:

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Aborto, religião e saúde pública

Respondi  a um email de um religioso e o publicarei aqui, pois a dúvida desta pessoa pode ser a de muitas outras:

“Marque V ou F:
1. [ F  ] Descriminalização do aborto = Legalização do aborto”

Não necessariamente, depende da lei a ser proposta e aprovada. Pode deixar de ser crime, só isso. Ou pode deixar de ser crime e passar a ser feito nos hospitais, por médicos, com acompanhamento psicológico.

“2. [  F ] Legalização do aborto ==> Aumento no nº de assassinatos de bebês”

Não mesmo. Legalizar o aborto fará com que ele saia da clandestinidade e será possível aos hospitais fazerem o atendimento dessas mulheres, inclusive com triagem psicológica ou por assistente social. Só isso já aumenta – e muito – a probabilidade de a mulher mudar de ideia, pois na maioria das vezes o aborto é feito por desespero. E diminuirá a mortalidade materna em decorrência do aborto. Ou seja, não apenas menos bebês serão mortos como também menos mulheres serão mortas. Bebês vão para o céu. Mulheres adultas que não estiverem salvas, vão para o inferno. Estou certa de que para Deus o mais importante é que elas não morram, para que tenham chance de serem salvas. Ou a vida só vale antes de nascer?

“3. [ F  ] Legalização do aborto ==> Médicos serão obrigados oficialmente a matar bebês”

Médicos serão AUTORIZADOS a matar bebês que já seriam mortos de qualquer maneira, evitando a morte das mães (e provavelmente, evitando maior sofrimento para o feto). Assim como podem se negar a efetuar qualquer procedimento, poderão se negar a efetuar um aborto, e passá-lo para um colega.


“E daí, como fica aquele mandamento: “Não Matarás”?”

Quando o cristão despreza a vida de milhares de mulheres que morrem por não ter conseguido fazer a escolha certa, está sendo conivente com a morte delas. Quando prefere defender a vida do feto  e fecha os olhos para a morte das mães, está pegando em pedras e atirando contra aquelas a quem deveria ajudar. Julga, sem um pingo de amor, e assim se torna cúmplice do sangue daquela mulher. No momento estamos, enquanto sociedade, matando fetos e mães. Se o aborto deixar de ser crime, haverá menos mortes de fetos e de mães. Muitos cristãos são contra isso. E onde fica aquele mandamento “não matarás?” Aliás, falando em mandamento, acho engraçado que quando a gente diz: “olha, não diga isso, que isso é mentira”, as pessoas fecham os ouvidos e continuam espalhando emails maldosos que recebem. Onde ficam, então, esses mandamentos:

“Não espalharás notícias falsas, nem darás mão ao ímpio, para seres testemunha maldosa. ”  Êxodo 23:1

“não dirás falso testemunho contra o teu próximo”  Êxodo 20:16

Ou um mandamento é mais importante do que o outro? Os cristãos deveriam estar revoltados contra aqueles que querem manipulá-los e que jogam na rede textos falsos, textos fora de contexto, distorcidos, maliciosos. Te garanto que Deus está bem menos preocupado com descriminalização do aborto do que com cristãos que agem com hipocrisia, achando que têm o direito de julgar alguém, de condenar as pessoas, de usar de palavras maldosas e carregadas de preconceito. Só para que você tenha ideia do grau de importância que Deus dá para cada uma dessas coisas (e que nós também deveríamos seguir):

“Seis coisas o Senhor aborrece, e a sétima a sua alma abomina”

Quais são essas seis coisas que ele aborrece?

“olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que trama projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal, testemunha falsa que profere mentiras”

Veja que ele colocou tudo no mesmo saco: para nós, pior seria quem derrama sangue inocente do que língua mentirosa, não é mesmo? Mas para ele, é tudo a mesma coisa. E não é mentira grande, é qualquer mentira, pois ele não especifica. Mas a sétima, ele não apenas aborrece, sua alma ABOMINA:

“o que semeia contendas entre irmãos”

(Provérbios 6:16-19)

Para Deus é abominável não o que derrama sangue inocente, mas o que semeia contendas entre irmãos. Deus não vê como vê o homem, seus pensamentos são diferentes dos nossos (ainda bem). Se fôssemos julgar Deus como um humano, incorreríamos no mesmo erro dos fariseus, que se achavam nesse direito. E, lendo a Bíblia, a gente percebe que o que ele mais despreza é aquele que conhece a Palavra, mas se porta contra ela (se dizendo a favor), se agarrando a picuinhas, olhando tudo com maus olhos, enchendo o coração de malícias, se achando mais santo do que os outros.


Não quero discutir teorias sobre o aborto, o que está em discussão não é se ele é CERTO ou se ele é ERRADO (isso é ÓBVIO), mas se deve ser considerado CRIME ou não. Não é uma questão religiosa, não é discutir se a vida começa no momento da implantação do embrião no útero ou não, mas a discussão é: o que fazer com a situação que já existe? São MILHARES de mulheres que morrem por conta de abortos clandestinos no país. E muitas das que não morrem, se arrependem depois, mas não tiveram a chance de um acompanhamento profissional antes do procedimento. É isso o que está sendo discutido. Mas as pessoas não estão entendendo isso. Ou não querem entender.

PS: Clique aqui para ler quantas mulheres são internadas no SUS em consequência de abortos clandestinos mal feitos.

PS2: Clique aqui para ler: aborto é causa de 10% dos casos de mortalidade materna, e em alguns estados é a principal causa.