Mês: fevereiro 2013

Desenvolvendo o hábito de escrever – O nascimento.

bebe.escrevendo

Eu tenho leitores que já têm o hábito de escrever, outros estão desenvolvendo, outros tinham, mas deixaram para lá, e alguns não têm, e não sabem se comunicar por escrito. Mas todos os meus leitores têm algo em comum – ainda que só descubram isso agora…rs… – a vontade de ser uma versão melhor de si mesmo.

É por isso que eles têm sacrificado sua vontade, sua preguiça e suas limitações e lutado para desenvolver o hábito de ler. Muitos me escrevem falando a respeito das mudanças que têm experimentado através da leitura. Que legal! Nem sempre consigo responder (ou demoro um século para isso…rs…) mas eu leio todos, comemoro cada vitória e conheço cada um de vocês pelo nome, viu? Nos reunimos todas as quintas (e alguns sábados) no blog da Cris e conversamos horroooores…e a cada comentário que leio, gosto mais dos meus leitores (a maioria é mulher, mas falo “leitores” para que os três ou quatro homens que me leem não se sintam excluídos…rs…) e a cada testemunho de vitórias, quero que alcancem ainda mais vitórias! Poder ajudá-los nessa caminhada é uma honra! E uma tarefa que desempenho com o maior prazer.

 Então, quero lhes propor um novo desafio. 🙂 Juntamente com o hábito de ler, que tal desenvolver o irmão dele – o hábito de escrever? Vou fazer alguns posts com dicas a respeito disso. O de hoje é bem básico, mas acredito que vá ajudar aqueles que – como eu – têm fome e sede de aprender mais e mais e mais.

 Escrever direitinho não é uma questão de receber uma iluminação divina especial, um dom que ninguém mais tem, só alguns “escolhidos”. Nããão! Escrever é só outra forma de falar! É comunicação. Exige treino para saber dominar a ferramenta, mas eu te garanto que se você se aplicar a isso, essa nova habilidade fará uma diferença enoorme na sua vida. Porque hoje são poucas as pessoas que se dedicam a isso. A maioria é muito preguiçosa e se contenta em fazer o mínimo aceitável.

Mas não você, meu amado leitor! Você é um ser humano diferente, que gosta de ler a maluquinha da Vanessa Lampert, que não se incomoda em viajar em um texto alucinadamente, até se dar conta de que leu duzentos mil parágrafos, bem feliz. Você que está descobrindo que gosta de ler! – Veja só! – Nunca imaginou que seria legal acompanhar um livro do começo ao fim! Nunca pensou que você – logo você, que se achava tão incapaz – poderia se tornar um leitor!! Na escola isso parecia tão chato, mas agora você tem controle sobre aquilo que lê e descobriu que livros são como pessoas: alguns são chatos, outros são legais, cada um tem sua própria personalidade e você está selecionando seus novos amigos de papel, e descobrindo uma realidade diferente, que jamais imaginou ser possível.

 Então, que tal um novo desafio? Que tal ir treinando, dando passinhos de bebê para desenvolver sua habilidade em se comunicar por escrito? Talvez você caia no começo, talvez escorregue aqui e ali – aprender a andar não é fácil – mas a cada novo passo, você se fortalece e vai se desenvolvendo. Daqui a pouco, ninguém te segura, meu amigo!

 Já pensou no quanto vai conseguir fazer? Em quantas pessoas vai alcançar? No quanto sua vida vai melhorar? No diferencial que vai ser profissionalmente, e em absolutamente todos os lugares? E-mails não serão mais sofrimento, as pessoas entenderão o que você diz! Suas anotações não lhe farão passar vergonha, você não se sentirá inseguro ou inferiorizado quando tiver de escrever algo para alguém – ou na frente de alguém. Uma limitação a menos na sua vida!

 Vai contar pontos quando estiver disputando aquela vaga com uma pessoa que comete erros de português ou – pior (eu considero pior, apesar de ser a maníaca da correção de texto…rsrs…) – de lógica. Porque escrever não é só saber regrinhas, não. Não é só saber se uma palavra é escrita com “x” ou com “ch”. O mais importante em escrever é se comunicar com coerência. Entender o que está dizendo. E se o que você está dizendo é o que você quer dizer. Escrever tem muito a ver com o falar. Mas tem mais a ver ainda com pensar. Sobre isso, cito Dad Squarisi: “A habilidade de escrever é resultado da habilidade de pensar – pensar de forma ordenada, lógica e prática.”

 Então está tudo interligado, amiguinhos. Ler ajuda a desenvolver essa habilidade de pensar de forma ordenada, lógica e prática. Pensar ajuda a desenvolver essa habilidade de escrever também de forma ordenada, lógica e prática. Não é só juntar letrinhas e palavrinhas encadeadas. É se comunicar!

Não se sinta inibido por não saber escrever tudo maravilhosamente bem de uma hora para outra. O importante é querer e se esforçar.

 Imagine a cena: a mulher chega na sala de parto, contrações cada vez menos espaçadas, sofrimento, dor, suor, pressa. Dilatação. O médico comemora: apareceu a cabecinha! Aquela pequena bolota cheia de cabelos realmente surgiu e – com dificuldade – começa a sair. Depois que a cabeça já está do lado de fora, o restante do corpinho do bebê escorrega rapidamente. Com agilidade, o médico pega a criança, que já grita e esperneia enquanto ele a coloca no colo da mãe e corta o cordão umbilical. Então, o bebê, ainda todo sujinho, é colocado em uma mesa ao lado, para ser revirado daqui e dali, cutucado, aspirado, e todas aquelas coisas assustadoras que enfermeiras fazem com recém-nascidos. Assustado, ele desce da mesa e sai correndo, as pequenas perninhas fazendo um esforço fenomenal, digno de maratonista. Surpreso, o médico corre atrás, as enfermeiras também, mas ninguém consegue alcançá-lo. O recém-nascido peladinho avança pelos corredores do hospital, incrivelmente não escorrega, apesar da gosma que ainda cobre sua pele. Corre, corre, corre, sai pela porta do hospital, sai na calçada e ganha a rua, alucinado, quase atingindo a velocidade da luz.

 Essa história parece realista?…rs… Ninguém nasce correndo. Então não se preocupe se no começo você errar mais do que gostaria. O importante é se esforçar para se desenvolver. Não queira escrever “bonito” ou rebuscado. O tempo das construções difíceis e enroladas já passou – graças a Deus. Hoje o que se valoriza é a naturalidade. Você quer ser compreendido, seu texto tem de ser claro.

 Então, passinhos de bebê. Nem que você tenha de engatinhar primeiro. Nem que você tenha de rolar antes de engatinhar! Lá pelos quatro meses – ou antes…cada vez mais cedo, na verdade…rs… – toda a família comemora o fato do bebê conseguir levantar a cabeça, firmando o pescocinho. Isso já é uma vitória! É assim. Se desenvolvendo lenta e gradualmente. Mas se desenvolvendo.

 Vamos começar com algumas dicas básicas:

  Não tente falar difícil. Use palavras que você está acostumado a falar. Você tem de se acostumar com o ato de escrever. As letrinhas são suas amigas…rsrsrs… Seu texto sairá mais natural quanto mais próximo da sua realidade ele for. Então, se solte.  🙂

 Agora, o fato de eu ter dito para não falar difícil não quer dizer que você seja obrigado a usar palavras que todo mundo usa. Nem que você tenha de se acomodar ao vocabulário que sempre teve. De vez em quando, você encontra em um texto ou em um livro uma palavra nova. Tenha um dicionário sempre à mão para esses momentos. Se não tiver um com você, anote a palavra. E anote, de preferência, a frase inteira, para entender o contexto em que ela foi dita. É como um jogo de detetive. Quando você chegar em casa, vai procurar  a palavra no dicionário e entender o sentido do que estava escrito. E seu vocabulário ficará melhor!

 Não tenha medo de escrever. – Faça comentários, escreva um diário, abra um blog. – Tudo é válido. Eu já contei minha história aqui. Comecei escrevendo diários, lá na infância. Mas nunca é tarde para começar. Carregue um bloquinho na bolsa. Quando ler alguma coisa, pense a respeito, escreva a respeito. Não precisa ser muito, no começo. Escreva qualquer coisa. É treino – como a leitura. Não interessa até que ano do colégio você fez. Isso é passado. Ensino formal é importante para a vida da pessoa, mas os maiores gênios da humanidade eram autodidatas. Alguns se especializaram depois, mas todos foram além daquilo que se ensina nos bancos de escola. Quem não estuda fora da escola, não se destaca.

 Informação não é exclusividade de colégios e faculdades. Está à disposição. Nas livrarias, nas bibliotecas, nas bancas, na internet. Hoje em dia, na verdade a informação está em todos os lugares – ao mesmo tempo. O problema é que a maioria das pessoas opta pela informação inútil. O entretenimento vazio. Muita gente neste mundo está vivendo de circo. Informações descartáveis que só gastam seu tempo: fofocas dos famosos, o que vai acontecer na novela, a própria novela, programas de humor vazios, páginas de piadinhas no Facebook, vídeos engraçadinhos… Entenda: não há problema em entretenimento. É saudável, mas tem de ser bem dosado. É como balinha de açúcar. Não dá para passar o dia inteiro comendo jujuba.

 Por enquanto, a dica sobre ortografia é: preste atenção no que lê. Na dúvida, pesquise na internet, procure no dicionário. Faça o teste e escreva algo no Word. Depois, vá no menu Ferramentas e clique em “Ortografia e Gramática”. Leia as sugestões de alteração, porque ele pode pegar os erros mais graves. Mas leia, porque às vezes ele viaja na maionese e diz que é erro, quando não é…rsrs…na dúvida, Google e dicionário.

 No começo, dá trabalho, mas você está fazendo um investimento em você mesmo, o sacrifício vale a pena. Aplique essas dicas mesmo se achar que já sabe escrever bem e tal. Pode ser que você tenha algo a melhorar. Depois do Word, releia o texto. O que você queria comunicar? Conseguiu? Acha que está claro para pessoas que não moram dentro da sua cabeça? Ah, é, tem isso. O leitor não mora dentro da sua cabeça…rsrs…às vezes você terá de dar informações para ele que para você seriam óbvias. Então leia o que você escreveu como se você fosse outra pessoa. Se isso te deixar intimidado para continuar a escrever, deixe para a próxima etapa, então e – por enquanto – escreva loucamente, como se não houvesse amanhã…rs…  O importante é perder o medo de escrever.

 Ah, e a última dica é: NÃO ESCREVA TUDO EM MAIÚSCULAS NA INTERNET. Isso significa que você está gritando. E atrapalha a leitura. Escrever é comunicação. Duas coisas na hora de escrever não podem ser ignoradas: a mensagem e o leitor. Ler o seu texto deve ser uma boa experiência, agradável, e que faça o leitor feliz. 🙂 E é nisso que vamos focar nos próximos posts da série “Desenvolvendo o hábito de escrever”.

Neemias

Eu ia escrever sobre outro livro, mas esta semana fiquei obcecada com Neemias. Pre-ci-sa-va compartilhar. Não consegui pensar em outra coisa, nem falar em outra coisa…rs…então vou quebrar o protocolo e fazer essa resenha diferente. :-)

Não é a primeira vez que leio esse livro, nem a segunda, nem a terceira, nem sei que vez é! Mas desta vez ele ganhou vida de uma maneira incrível! E eu espero que seja assim também com você, quando ler hoje (porque você vai ler hoje, né?…rs…), que essa história fale contigo tanto quanto falou comigo.

A forma de ele lidar com a oposição é fantástica (vou detalhar isso mais para frente), e também sua determinação, coragem, objetividade…  Vamos por partes. Um pause aqui na situação: o indivíduo era copeiro do rei! Ele era um simples copeiro, mas não olhou para isso quando viu que sua cidade estava em ruínas e se dispôs a liderar a reconstrução dos muros! Não tinha nenhuma pretensão de se tornar governador, chefe de exército, não buscava cargo algum, apenas queria fazer o que tinha de ser feito. O povo estava sofrendo, a obra precisava ser feita, havia muito a ser consertado.

Não olhou para nenhuma das suas impossibilidades: ele não era sequer construtor, era um simples copeiro (já disse isso?), servo do rei! Ele não era livre para ir e vir. Como, então, planejou algo tão ousado? Quando você lê o início do livro, percebe na oração que ele faz, que  já está decidido a tomar uma providência, embora não diga qual é. Pede apenas que seja bem sucedido e alcance favor “perante este homem”, mas não diz que homem. Ou seja, ele decidiu de uma maneira tão decidida (rs) que nem ao leitor ele informa! Ele simplesmente pede a ajuda de Deus e vai.

Que fé a desse homem! Ele sabe o que tem de ser feito, tem certeza do que tem de fazer, então não olha para nenhuma dificuldade, para nenhuma impossibilidade e demonstra grande coragem ao falar com o rei. Imagina só, ele pede uma licença para ir lá em Jerusalém reconstruir os muros! O rei poderia muito bem responder: “E eu com os muros de Jerusalém, Neemias? Fica na sua!” (Na linguagem da época, é claro…hahaha…) Mas olha só essa conversa:

“No ano vigésimo do rei Ataxerxes, uma vez posto o vinho diante dele, eu o tomei para oferecer e lhe dei; ora, eu nunca antes estivera triste diante dele. O rei me disse: Por que está triste o teu rosto, se não estás doente? Tem de ser tristeza do coração. Então, temi sobremaneira e lhe respondi: viva o rei para sempre! Como não me estaria triste o rosto se a cidade onde estão os sepulcros de meus pais, está assolada e tem as portas consumidas pelo fogo?”

Note que ele diz que temeu horrores, mas mesmo assim fala o que tem de falar. O temor que ele sentiu não o fez recuar, nem sequer hesitar. Ele enfrentou e disse o que tinha de dizer.

“ Disse-me o rei: Que me pedes agora? Então, orei ao Deus dos céus e disse ao rei: se é do agrado do rei, e se teu servo acha mercê em tua presença, peço-te que me envies a Judá, à cidade dos sepulcros de meus pais, para que eu a reedifique.”

Perceba como Neemias estava focado. Quando ele diz que orou ao Deus dos céus no meio da conversa, obviamente não interrompeu para ajoelhar, erguer as mãos ou fazer qualquer ritual religioso. Ele simplesmente falou com Deus (é bem provável que rapidamente) e respondeu ao rei. Isso mostra uma extrema dependência de Deus. Ele não responde confiando na capacidade dele de convencer o rei, simplesmente ora para ter a garantia de que a conversa terá bom resultado. Afinal de contas, ele tem um objetivo definido e uma fé definida. Depende 100% de Deus. Não tem como dar erado.

“Então, o rei, estando a rainha assentada junto dele, me disse: Quanto durará a tua ausência? Quando voltarás? Aprouve ao rei enviar-me e marquei certo prazo. E ainda disse ao rei: Se ao rei parece bem, deem-se-me cartas para os governadores dalém do Eufrates, para que me permitam passar e entrar em Judá, como também carta para Asafe, guarda das matas do rei, para que me dê madeira para os muros da cidade e para a casa em que deverei alojar-me. E o rei mas deu, porque a boa mão do meu Deus era comigo.”

Já li que Neemias devia ter um excelente relacionamento com o rei para que ele lhe desse todas essas coisas, inclusive uma longa licença…rs…Mas o bom relacionamento que ele tinha era com Deus! A última frase explica por que o rei concedeu tudo isso: a boa mão de Deus era com Neemias! E só era com ele por causa dessa disposição que ele tinha. Veja que Neemias não só foi ousado, mas também foi bastante inteligente. Planejou, e não teve medo de pedir ao rei as condições que iria precisar. O mais impressionante é que o rei aceitou, sem questionar. Apenas fixou um prazo, mas estou certa de que esse prazo inicial era muito menor do que o que acabou acontecendo, porque eu du-vi-do que algum chefe, por melhor que fosse, daria uma licença de mais de dez anos para o funcionário resolver problemas pessoais, em qualquer época da história da humanidade!

Eu tenho vontade de comentar o livro todo, mas escreveria outro livro, né? Então vou comentar apenas alguns trechinhos. Já na metade do segundo capítulo, quando Neemias parte com o firme objetivo de animar o povo a reconstruir os muros de Jerusalém, começa a oposição. A oposição é ridiculamente minúscula, composta por uns dois ou três indivíduos, que acabam arregimentando mais alguns outros ao longo do caminho, mas os problemáticos são basicamente Tobias, Sambalate e Gesém.

“Disto ficaram sabendo Sambalate, o horonita, e Tobias, o servo amonita; e muito lhes desagradou que alguém viesse a procurar o bem dos filhos de Israel”

O mal não se agrada quando alguém procura o bem dos filhos de Deus e é por isso que todo aquele que se dispõe a fazer o que sabe que tem de ser feito, encontra perseguição e oposição. Eu vejo nesses personagens a atitude da oposição que enfrentamos hoje…são os mesmos demônios, né? Então preste atenção às estratégias para saber identificar e se defender, com a técnica Ninja de Neemias. :-)

“Porém, Sambalate, o horonita, e Tobias, o servo amonita, e Gesém, o arábio, quando o souberam, zombaram de nós e nos desprezaram, e disseram: Que é isso que fazeis? Quereis rebelar-vos contra o rei? Então lhes respondi: o Deus dos céus é quem nos dará bom êxito; nós, seus servos, nos disporemos e reedificaremos; vos, todavia, não tendes parte, nem direito, nem memorial em Jerusalém”

A estratégia é a mesma até hoje: Primeiro, os inimigos tentaram desanimá-los com zombaria e desprezo. Neemias, porém, ignorou a provocação, deixando claro quem era quem: Deus era quem faria aquela obra dar certo. O povo de Deus era quem trabalharia para executar a obra e os inimigos…bem, os inimigos não tinham parte, nem direito e nem memorial algum naquilo que eles estavam fazendo…em outras palavras, eles não tinham nada a ver com isso! A lição aqui é clara. Quando te desprezarem e zombarem de você, não fique sentindo ou sofrendo…você vê Neemias magoado, triste? Não! Seja firme, e racional: ok, eu estou fazendo o que tenho que fazer. Deus é comigo. E esse pessoal que está me criticando e zombando da minha fé não tem nada com a minha vida!” Pronto. Siga seu caminho. Lá foi Neemias fazer o quê? O que ele sabia que tinha de ser feito. :-)

O segundo ataque veio no quarto capítulo:

“Tendo Sambalate ouvido que edificávamos o muro, ardeu em ira, e se indignou muito, e escarneceu dos judeus. Então, falou na presença de seus irmãos e do exército de Samaria e disse: Que fazem estes fracos judeus? Permitir-se-lhes-á isso? Sacrificarão? Darão cabo da obra num só dia? Renascerão, acaso, dos montões de pó as pedras que foram queimadas? Estava com ele Tobias, o amonita, e disse: Ainda que edifiquem, vindo uma raposa, derribará o seu muro de pedra.”

Aqui a estratégia foi tentar plantar dúvida. Tentar fazer com que se sentissem fracos e questionassem se realmente conseguiriam terminar. É assim sempre que a gente tenta começar qualquer coisa. Consertar algo dentro da gente, reconstruir nossa vida, ajudar uma pessoa, fazer a obra, nascer de novo, ter um encontro com Deus, começar um trabalho importante, enfrentar um desafio, dar um passo significativo…sempre a estratégia do mal é tentar colocar dúvida. Porém, a reação de Neemias foi orar, passando a situação para Deus, dizendo que estavam sendo desprezados e que era para Deus cuidar disso, “pois te provocaram à ira, na presença dos que edificavam”. Percebe? Neemias não diz que eles o provocaram, mas que provocaram a Deus! Ele se tira da equação e deixa bem claro como vê as coisas: o que estava fazendo era para Deus, então qualquer coisa que fizessem contra ele, era, na verdade, contra Deus. Aí reafirmava a sua fé, que é o melhor antídoto contra a dúvida. A melhor arma contra a dúvida é a certeza. :-)

“Mas, ouvindo Sambalate e Tobias, os arábios, os amonitas e os asdoditas que a reparação dos muros de Jerusalém ia avante e que já se começavam a fechar-lhe as brechas, ficaram sobremodo irados. Ajuntaram-se todos de comum acordo para virem atacar Jerusalém e suscitar contendas ali. Porém nós oramos ao nosso Deus e, como proteção, pusemos guarda contra eles, de dia e de noite.”

Ai, sério mesmo que precisa de algum comentário aqui? É muito forte isso! Quando viram que as brechas estavam sendo fechadas, os inimigos se indignaram e planejaram o ataque! É o que acontece quando você dá continuidade ao que começou ali em cima, no meu outro exemplo.  A solução foi orar e montar guarda. Mas a pressão piorou, e Neemias colocou as famílias detrás dos muros e mandou que o povo lutasse por elas! Quando começaram a dar ouvidos às ameaças dos inimigos, Neemias os trouxe à realidade: adianta se desesperar? Adianta acreditar que seus inimigos são mais fortes? Você tem de lutar, tem coisas mais importantes para defender! Quando os inimigos souberam que os judeus estavam prontos para lutar, desistiram do combate. Uma postura passiva diante dos problemas faz com que eles se fortaleçam sobre você! A única chance é estar pronto para lutar.

Dali em diante, a vigilância foi total: Estavam sempre alertas, trabalhando, mas já com as armas prontas para o caso do ataque acontecer. A impressão que eu tenho é que aquela ameaça os fez trabalhar mais ainda! Olha a diferença de quem trabalha com um foco, um objetivo definido. De quem faz a obra sabendo onde quer chegar e com Quem pode contar.

Depois, no sexto capítulo, a estratégia mudou.

“Tendo ouvido Sambalate, Tobias, Gesém, o arábio, e o resto dos nossos inimigos que eu tinha edificado o muro e que nele já não havia brecha nenhuma, ainda que até este tempo não tinha posto as portas nos portais, Sambalate e Gesém mandaram dizer-me: Vem, encontremo-nos, nas aldeias, no vale de Ono. Porém, intentavam fazer-me mal. Envie-lhes mensageiros a dizer: Estou fazendo grande obra, de modo que não poderei descer; por que cessaria a obra, enquanto eu a deixasse e fosse ter convosco? Quatro vezes me enviaram o mesmo pedido; eu, porém, lhes dei sempre a mesma resposta.”

Quando as brechas já estavam fechadas, eles quiseram atacar usando o medo. Primeiro, mandaram chamar Neemias, que percebeu que a intenção não era boa e disse que estava ocupado demais com a obra para dar atenção a ele :-D Olha que coisa linda! Quem está focado em fazer o que Deus já mostrou que tem de ser feito, usa a cabeça e não a emoção, então pensa: “peraí, eu tenho mais o que fazer”. Sim, seu tempo é limitado e precioso. O tempo que você gasta com alguém (uma pessoa ou uma situação, ou um pensamento…) que você sabe que te prejudica, poderia estar sendo gasto com a obra, com algo útil! Com aquilo que você sabe que deve ser feito. Então, se você está fazendo “grande obra”, vai deixá-la para perder tempo com algo ou alguém que quer te prejudicar?

Depois de insistir e receber sempre a mesma resposta, vieram com uma fofoca, ameaçando difamá-lo para o rei!!

“Então, Sambalate me enviou pela quinta vez o seu moço, o qual trazia na mão uma carta aberta, do teor seguinte: Entre as gentes se ouviu, e Gesém diz que tu e os judeus intentais revoltar-vos; por isso, reedificas o muro, e, segundo se diz, queres ser o rei deles, e puseste profetas para falarem a teu respeito em Jerusalém, dizendo: Este é rei em Judá. Ora, o rei ouvirá isso, segundo essas palavras. Vem, pois, agora, e consultemos juntamente.”

Em vez de ficar triste, bravo, de tentar se defender, de ficar ofendido e alimentar aquela conversa, Neemias teve uma reação maravilhosa! Ele cortou o assunto! :-)

“Mandei dizer-lhe: De tudo o que dizes coisa nenhuma sucedeu; tu, do teu coração é que o inventas”

E pronto! Acabou ali a resposta…rs… Simplesmente ignorou…acho que ele leu o post da Cristiane sobre como lidar com fofoca…rs… No versículo seguinte, ele fala da estratégia do mal para fazê-los parar e mostra sua confiança em Deus:

“Porque todos eles procuravam atemorizar-nos, dizendo: As suas mãos largarão a obra, e não se efetuará. Agora, pois, ó Deus, fortalece as minhas mãos”

E essa foi a estratégia do inimigo quando as brechas já estavam fechadas: o medo. Só se conseguisse fazer com que Neemias ficasse com medo, encontraria espaço para atingi-lo. Ele deixa isso bem claro em um trecho um pouco mais adiante:

“Para isto o subornaram, para me atemorizar, e para que eu, assim, viesse a proceder e a pecar, para que tivessem motivo de me infamar e me vituperassem”

Alguém em quem Neemias confiava foi subornado para amedrontá-lo e levá-lo a fazer algo que não era permitido. Parecia que o cidadão só queria proteger Neemias da ameaça de morte, “entra aqui, entra aqui, porque eles estão vindo te matar”, querendo que ele fosse para o meio do templo. Ele fez de um jeito para não dar nem tempo de Neemias pensar! Fique atento quando as coisas acontecerem de uma maneira meio atropelada. Neemias só conseguiu pensar porque ele não se deixou levar pela emoção! E se o desespero te empurra a fugir, pare e diga como Neemias: “homem como eu fugiria?” Ah, e outra coisa: cuidado com os conselhos. Por isso a gente tem de estar no Espírito, para evitar cair nessas ciladas.

Antes que alguém me pergunte, explico o seguinte trecho do capítulo 13:

“Contendi com eles, e os amaldiçoei, e espanquei alguns deles, e lhes arranquei os cabelos, e os conjurei por Deus, dizendo: Não dareis mais vossas filhas a seus filhos e não tomareis mais suas filhas, nem para vossos filhos, nem para vós mesmos.”

A naturalidade com que ele narra isso me faz achar graça, mas tá, sei que é polêmico. Acabei de dizer da fé de Neemias e de como ele era racional e de repente ele espanca uns, arranca os cabelos de outros…rs… Mas se você ler toda a sequência, verá que Neemias teve de se ausentar (o rei se lembrou da existência dele e o mandou chamar, mas depois deu outra licença inexplicável…rs…) e na volta, encontrou um monte de pepinos! Teve de resolver um problema atrás do outro.

Quando encontrou esses caras casados com mulheres de povos inimigos, idólatras, cujos filhos nem falavam mais judaico, mas a língua dos inimigos, já estava sem paciência alguma. O povo já sabia da verdade, mas continuava errando! No tempo de Neemias não tinha o batismo com o Espírito Santo, domínio próprio, essas coisas. E de qualquer maneira, ele era um ser humano, né? Eu não apoio, mas diante desse contexto, sem o batismo com o Espírito Santo, entendo perfeitamente o fato de ele surtar e sair no braço com os mais teimosos. E também entendo o que ele fez com os móveis de Tobias (spoiler, spoiler…rs…) no mesmo capítulo. Não prejudicou em nada a imagem que eu tinha dele…rs… Neemias não era um supersanto, era um homem de fé, com quem Deus sabia que podia contar.

O livro é excelente, e se eu fosse você, iria ler agora, bem devagar, atentamente, meditando em cada trecho, tentando entender o máximo que puder. Assim como em nosso dia a dia, as ameaças estavam em toda parte, foi mesmo uma guerra psicológica, sem batalha física. Neemias dependia apenas de Deus, pois não sabia em quem confiar. Mas por ele ter confiado única e exclusivamente em Deus, com uma fé racional e prática e por se manter sempre na dependência dEle e agindo (pois ele nunca parou, sempre que via algo que deveria ser feito, ia lá e fazia), sem dar ouvidos ao medo, às ameaças e às dificuldades, teve energia para ir até o fim, Deus foi com Ele e absolutamente TODOS os planos do mal foram frustrados. É um exemplo para todos nós (fora a parte de arrancar os cabelos dos teimosos, por favor).

Vanessa Lampert

Quer ler todas as resenhas? Clique aqui.

PS: Me lembrei de uma passagem que acho muito forte e que merece um texto à parte: clique para ler “Se chegar à obra para fazê-la”

PS2: Uma coisa interessante (e que tem a ver com o link que coloquei no primeiro PS), é que Neemias não precisou ouvir uma voz, não teve uma revelação, ninguém lhe passou uma profecia, ele simplesmente vê uma necessidade urgente e fala com Deus a respeito daquilo. Mais tarde ele diz que foi Deus quem colocou no coração dele a vontade de reconstruir os muros, então imagino que durante a oração ele tenha tido a certeza daquilo que tinha que fazer, então simplesmente agiu, movido e guiado por essa certeza.

PS3: Se você tiver alguma dificuldade com uma palavra desconhecida ou outra, tenha um dicionário ao lado. Não veja isso como uma barreira, mas como uma oportunidade de aprender algo novo! Vai te ajudar a pensar no sentido do que está escrito e você ainda adicionará uma palavra diferente ao seu vocabulário. Se não tiver um dicionário de papel (que eu prefiro, pois dá para sublinhar e fazer bagunça…rsrs, em qualquer livraria ou sebo você encontra) ou instalado no computador, tem algumas opções online, como o Michaelis e o Priberam. Já são uma mão na roda. :-)

Publicado originalmente no blog Cristiane Cardoso