bebe.escrevendo

Eu tenho leitores que já têm o hábito de escrever, outros estão desenvolvendo, outros tinham, mas deixaram para lá, e alguns não têm, e não sabem se comunicar por escrito. Mas todos os meus leitores têm algo em comum – ainda que só descubram isso agora…rs… – a vontade de ser uma versão melhor de si mesmo.

É por isso que eles têm sacrificado sua vontade, sua preguiça e suas limitações e lutado para desenvolver o hábito de ler. Muitos me escrevem falando a respeito das mudanças que têm experimentado através da leitura. Que legal! Nem sempre consigo responder (ou demoro um século para isso…rs…) mas eu leio todos, comemoro cada vitória e conheço cada um de vocês pelo nome, viu? Nos reunimos todas as quintas (e alguns sábados) no blog da Cris e conversamos horroooores…e a cada comentário que leio, gosto mais dos meus leitores (a maioria é mulher, mas falo “leitores” para que os três ou quatro homens que me leem não se sintam excluídos…rs…) e a cada testemunho de vitórias, quero que alcancem ainda mais vitórias! Poder ajudá-los nessa caminhada é uma honra! E uma tarefa que desempenho com o maior prazer.

 Então, quero lhes propor um novo desafio. 🙂 Juntamente com o hábito de ler, que tal desenvolver o irmão dele – o hábito de escrever? Vou fazer alguns posts com dicas a respeito disso. O de hoje é bem básico, mas acredito que vá ajudar aqueles que – como eu – têm fome e sede de aprender mais e mais e mais.

 Escrever direitinho não é uma questão de receber uma iluminação divina especial, um dom que ninguém mais tem, só alguns “escolhidos”. Nããão! Escrever é só outra forma de falar! É comunicação. Exige treino para saber dominar a ferramenta, mas eu te garanto que se você se aplicar a isso, essa nova habilidade fará uma diferença enoorme na sua vida. Porque hoje são poucas as pessoas que se dedicam a isso. A maioria é muito preguiçosa e se contenta em fazer o mínimo aceitável.

Mas não você, meu amado leitor! Você é um ser humano diferente, que gosta de ler a maluquinha da Vanessa Lampert, que não se incomoda em viajar em um texto alucinadamente, até se dar conta de que leu duzentos mil parágrafos, bem feliz. Você que está descobrindo que gosta de ler! – Veja só! – Nunca imaginou que seria legal acompanhar um livro do começo ao fim! Nunca pensou que você – logo você, que se achava tão incapaz – poderia se tornar um leitor!! Na escola isso parecia tão chato, mas agora você tem controle sobre aquilo que lê e descobriu que livros são como pessoas: alguns são chatos, outros são legais, cada um tem sua própria personalidade e você está selecionando seus novos amigos de papel, e descobrindo uma realidade diferente, que jamais imaginou ser possível.

 Então, que tal um novo desafio? Que tal ir treinando, dando passinhos de bebê para desenvolver sua habilidade em se comunicar por escrito? Talvez você caia no começo, talvez escorregue aqui e ali – aprender a andar não é fácil – mas a cada novo passo, você se fortalece e vai se desenvolvendo. Daqui a pouco, ninguém te segura, meu amigo!

 Já pensou no quanto vai conseguir fazer? Em quantas pessoas vai alcançar? No quanto sua vida vai melhorar? No diferencial que vai ser profissionalmente, e em absolutamente todos os lugares? E-mails não serão mais sofrimento, as pessoas entenderão o que você diz! Suas anotações não lhe farão passar vergonha, você não se sentirá inseguro ou inferiorizado quando tiver de escrever algo para alguém – ou na frente de alguém. Uma limitação a menos na sua vida!

 Vai contar pontos quando estiver disputando aquela vaga com uma pessoa que comete erros de português ou – pior (eu considero pior, apesar de ser a maníaca da correção de texto…rsrs…) – de lógica. Porque escrever não é só saber regrinhas, não. Não é só saber se uma palavra é escrita com “x” ou com “ch”. O mais importante em escrever é se comunicar com coerência. Entender o que está dizendo. E se o que você está dizendo é o que você quer dizer. Escrever tem muito a ver com o falar. Mas tem mais a ver ainda com pensar. Sobre isso, cito Dad Squarisi: “A habilidade de escrever é resultado da habilidade de pensar – pensar de forma ordenada, lógica e prática.”

 Então está tudo interligado, amiguinhos. Ler ajuda a desenvolver essa habilidade de pensar de forma ordenada, lógica e prática. Pensar ajuda a desenvolver essa habilidade de escrever também de forma ordenada, lógica e prática. Não é só juntar letrinhas e palavrinhas encadeadas. É se comunicar!

Não se sinta inibido por não saber escrever tudo maravilhosamente bem de uma hora para outra. O importante é querer e se esforçar.

 Imagine a cena: a mulher chega na sala de parto, contrações cada vez menos espaçadas, sofrimento, dor, suor, pressa. Dilatação. O médico comemora: apareceu a cabecinha! Aquela pequena bolota cheia de cabelos realmente surgiu e – com dificuldade – começa a sair. Depois que a cabeça já está do lado de fora, o restante do corpinho do bebê escorrega rapidamente. Com agilidade, o médico pega a criança, que já grita e esperneia enquanto ele a coloca no colo da mãe e corta o cordão umbilical. Então, o bebê, ainda todo sujinho, é colocado em uma mesa ao lado, para ser revirado daqui e dali, cutucado, aspirado, e todas aquelas coisas assustadoras que enfermeiras fazem com recém-nascidos. Assustado, ele desce da mesa e sai correndo, as pequenas perninhas fazendo um esforço fenomenal, digno de maratonista. Surpreso, o médico corre atrás, as enfermeiras também, mas ninguém consegue alcançá-lo. O recém-nascido peladinho avança pelos corredores do hospital, incrivelmente não escorrega, apesar da gosma que ainda cobre sua pele. Corre, corre, corre, sai pela porta do hospital, sai na calçada e ganha a rua, alucinado, quase atingindo a velocidade da luz.

 Essa história parece realista?…rs… Ninguém nasce correndo. Então não se preocupe se no começo você errar mais do que gostaria. O importante é se esforçar para se desenvolver. Não queira escrever “bonito” ou rebuscado. O tempo das construções difíceis e enroladas já passou – graças a Deus. Hoje o que se valoriza é a naturalidade. Você quer ser compreendido, seu texto tem de ser claro.

 Então, passinhos de bebê. Nem que você tenha de engatinhar primeiro. Nem que você tenha de rolar antes de engatinhar! Lá pelos quatro meses – ou antes…cada vez mais cedo, na verdade…rs… – toda a família comemora o fato do bebê conseguir levantar a cabeça, firmando o pescocinho. Isso já é uma vitória! É assim. Se desenvolvendo lenta e gradualmente. Mas se desenvolvendo.

 Vamos começar com algumas dicas básicas:

  Não tente falar difícil. Use palavras que você está acostumado a falar. Você tem de se acostumar com o ato de escrever. As letrinhas são suas amigas…rsrsrs… Seu texto sairá mais natural quanto mais próximo da sua realidade ele for. Então, se solte.  🙂

 Agora, o fato de eu ter dito para não falar difícil não quer dizer que você seja obrigado a usar palavras que todo mundo usa. Nem que você tenha de se acomodar ao vocabulário que sempre teve. De vez em quando, você encontra em um texto ou em um livro uma palavra nova. Tenha um dicionário sempre à mão para esses momentos. Se não tiver um com você, anote a palavra. E anote, de preferência, a frase inteira, para entender o contexto em que ela foi dita. É como um jogo de detetive. Quando você chegar em casa, vai procurar  a palavra no dicionário e entender o sentido do que estava escrito. E seu vocabulário ficará melhor!

 Não tenha medo de escrever. – Faça comentários, escreva um diário, abra um blog. – Tudo é válido. Eu já contei minha história aqui. Comecei escrevendo diários, lá na infância. Mas nunca é tarde para começar. Carregue um bloquinho na bolsa. Quando ler alguma coisa, pense a respeito, escreva a respeito. Não precisa ser muito, no começo. Escreva qualquer coisa. É treino – como a leitura. Não interessa até que ano do colégio você fez. Isso é passado. Ensino formal é importante para a vida da pessoa, mas os maiores gênios da humanidade eram autodidatas. Alguns se especializaram depois, mas todos foram além daquilo que se ensina nos bancos de escola. Quem não estuda fora da escola, não se destaca.

 Informação não é exclusividade de colégios e faculdades. Está à disposição. Nas livrarias, nas bibliotecas, nas bancas, na internet. Hoje em dia, na verdade a informação está em todos os lugares – ao mesmo tempo. O problema é que a maioria das pessoas opta pela informação inútil. O entretenimento vazio. Muita gente neste mundo está vivendo de circo. Informações descartáveis que só gastam seu tempo: fofocas dos famosos, o que vai acontecer na novela, a própria novela, programas de humor vazios, páginas de piadinhas no Facebook, vídeos engraçadinhos… Entenda: não há problema em entretenimento. É saudável, mas tem de ser bem dosado. É como balinha de açúcar. Não dá para passar o dia inteiro comendo jujuba.

 Por enquanto, a dica sobre ortografia é: preste atenção no que lê. Na dúvida, pesquise na internet, procure no dicionário. Faça o teste e escreva algo no Word. Depois, vá no menu Ferramentas e clique em “Ortografia e Gramática”. Leia as sugestões de alteração, porque ele pode pegar os erros mais graves. Mas leia, porque às vezes ele viaja na maionese e diz que é erro, quando não é…rsrs…na dúvida, Google e dicionário.

 No começo, dá trabalho, mas você está fazendo um investimento em você mesmo, o sacrifício vale a pena. Aplique essas dicas mesmo se achar que já sabe escrever bem e tal. Pode ser que você tenha algo a melhorar. Depois do Word, releia o texto. O que você queria comunicar? Conseguiu? Acha que está claro para pessoas que não moram dentro da sua cabeça? Ah, é, tem isso. O leitor não mora dentro da sua cabeça…rsrs…às vezes você terá de dar informações para ele que para você seriam óbvias. Então leia o que você escreveu como se você fosse outra pessoa. Se isso te deixar intimidado para continuar a escrever, deixe para a próxima etapa, então e – por enquanto – escreva loucamente, como se não houvesse amanhã…rs…  O importante é perder o medo de escrever.

 Ah, e a última dica é: NÃO ESCREVA TUDO EM MAIÚSCULAS NA INTERNET. Isso significa que você está gritando. E atrapalha a leitura. Escrever é comunicação. Duas coisas na hora de escrever não podem ser ignoradas: a mensagem e o leitor. Ler o seu texto deve ser uma boa experiência, agradável, e que faça o leitor feliz. 🙂 E é nisso que vamos focar nos próximos posts da série “Desenvolvendo o hábito de escrever”.