CAPA_ESCREVER_MELHOR_WEB_1Ouço muita gente dizer que gostaria de saber escrever, como se isso fosse um dom oferecido a poucos escolhidos. No entanto, escrever é uma habilidade a ser desenvolvida, como outra qualquer.

Por exemplo, todo mundo sabe que tocar violino é uma arte, mas ninguém espera que alguém pegue um violino e saia tocando perfeitamente por aí sem estudar nem um pouquinho sequer. Alguém que tenha talento para a coisa, se não se esforçar e treinar, não vai virar nada. Já alguém que não tenha talento, talvez nunca se torne um virtuose, mas pode aprender a tocar violino perfeitamente bem se estudar e praticar. A técnica aliada à vontade de crescer faz com que você alcance muito mais do que poderia imaginar.

O livro “Escrever Melhor – Guia para passar os textos a limpo” (Editora Contexto) de Dad Squarisi e Arlete Salvador, é um dos meus preferidos quando preciso indicar algum material para alguém. Prático, claro, simples de entender (até para quem não é da área) e com uma linguagem leve e divertida.

E talvez esse seja um dos segredos de aprender a escrever melhor: ter intimidade com a língua escrita a ponto de poder brincar com ela. Você joga um verbo para cá, inventa uma palavrinha nova ali, escolhe a melhor combinação de palavras, conversa com o leitor, identifica o que é inútil e corta…ou coloca, de propósito, algo que não tenha utilidade nenhuma, mas com algum objetivo superior…rs. Enfim, a uma certa altura, escrever se torna um “segundo idioma” que você domina perfeitamente.

Agora, falando sério (não que eu não estivesse falando sério antes), está cada vez mais raro encontrar quem escreva bem! E pelamordedeus, vamos explicar aqui que “escrever bem” não significa “escrever difícil”. Pelo contrário! Cada época tem seu estilo e o estilo da nossa época é linguagem clara, simples e natural. Livre, leve e solta. :-D

O livro ajuda muito nisso, porque é um guia básico para produzir textos objetivos e cortar excessos…ok, consigo ouvir as piadinhas de vocês a respeito de Vanessa Lampert, a Imperatriz do Reino dos Textos Gigantes, estar falando da importância de cortar excessos…mas como eu sempre digo, nem todo texto curto é objetivo e nem todo texto objetivo é curto. :-) Peço paciência, leia esse trecho do livro e entenda a que me refiro:

“Há casos em que o autor usa várias palavras quando uma pode dar o recado. Há outros em que utiliza duas orações quando uma basta. (…) Leia com atenção o parágrafo que segue, extraído de dissertação de mestrado apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Trata-se de bom exemplo de verborragia:

 ‘O profundo conhecimento dos hábitos e específicas necessidades dos potenciais grupos de usuários de um espaço habitável será de inestimável valor para que, ao se elaborar o projeto, se atinja o objetivo de conferir ao usuário o domínio sobre o uso do produto adquirido – sua moradia – para que esse lhe seja de fato prazeroso, seguro e responsável por um verdadeiro progresso na qualidade de vida de seus usuários, ou seja, o conforto doméstico.’

Se você não entendeu o que o autor quis dizer, não entre em pânico. Há palavras de mais e sentido de menos. Resultado: não dá mesmo para entender. É apenas possível supor que ele pretende afirmar o seguinte:

‘O conhecimento dos hábitos e necessidades dos moradores é fundamental para a elaboração de projeto arquitetônico de apartamento confortável.’

Palavras têm peso. Poder. Vida. É preciso escolhê-las com cuidado, porque há palavras para tudo. Afirmar é mais incisivo do que contar. Gritar é mais agressivo do que afirmar. E assim vai a rica Língua Portuguesa.”

E antes que algum jornalista (porque eles estão em toda parte) venha com a conversa comodista de que “ah, mas depois a edição faz esse trabalho!” (que é parente do “ah, não preciso me preocupar com gramática porque tem o revisor” – sério, existe gente que pensa assim!), eu lhe pergunto: se o jornalista não aprende a editar seu próprio texto, como poderá se tornar editor algum dia? Sinceramente, não entendo quem se acomoda às suas limitações e não fica querendo se livrar delas a qualquer custo (tenha alergia a limitações, meu amigo).

Além dessas noções mais gerais de edição de textos, você também encontra explicações claras sobre regrinhas de gramática e ortografia que a gente achava chatíssimo decorar na escola…e era chato, mesmo! Sabe o que torna regras de gramática e fórmulas de física, matemática e química tão distantes de nossa realidade? Essa mania esquisita que a escola tem de nos fazer decorar, simplesmente. Ninguém explica a lógica daquilo ali (porque existe uma lógica!)…o que raios levou aquela regra a ser criada? Qual é o objetivo, para que serve? É melhor você entender como usar determinada regra do que decorar a bendita regra.

Nisso eu acho que “Escrever Melhor” ajuda bastante. Descortina aquelas regrinhas que pareciam indecifráveis na infância. Prestando atenção aos exemplos, você entende como funciona cada dica ou regrinha. Mas às vezes a própria explicação já basta. O longo comentário a respeito do uso da crase, por exemplo, começa assim:

“Crase é como aliança no anular esquerdo. Avisa que estamos diante de ilustre senhora casada. A preposição a se encontra com outro a. Pode ser artigo ou pronome demonstrativo. Os dois se olham. Sorriem um para o outro. O coração estremece. Aí, não dá outra. Juntam os trapinhos e viram um único ser.”

Não é lindo?

 

Vanessa Lampert

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P.S: Trabalhando com isso ou não, uma coisa é certa: a gente se comunica por escrito todos os dias. Seja em um comentário no blog, seja escrevendo um e-mail…uma oportunidade de trabalho pode surgir por causa de algum texto seu na internet, ou mesmo por impressionar seu futuro empregador (eles vasculham nossas redes sociais hoje em dia, você sabe) com sua fluência verbal no Facebook…

P.S2: Se você ainda não sabe escrever direito, se comete muitos erros ou tem dificuldades com a escrita, vou colocar algumas dicas rápidas e práticas aqui no blog nas próximas semanas. Não se sinta constrangido, a maioria das pessoas tem essa dificuldade. O importante é que você queira melhorar, se aprimorar. Se eu fosse você, investiria nisso. Por mais que no começo pareça complicado ou difícil (tudo parece, no começo), busque aperfeiçoar essa habilidade.

P.S3: Deu saudade de vocês também, viu? Tive de me afastar de todos os blogs e estava escrevendo só na Folha Universal (vocês estão acompanhando o jornal? O que eu sempre digo a respeito dos livros, vale para ele também: é maravilhoso doar para outras pessoas, mas não doe nada que você não tenha lido. Como pode querer que alguém leia se você mesmo não lê?).