Dia: 16 de julho de 2014

Ainda sobre romances

Eu estou com ideia fixa em relação a romances. Na verdade, não é bem uma ideia fixa, é uma espécie de revolta. Porque não encontro nada que traga alguma coisa realmente útil ao leitor. Nada que seja, ao mesmo tempo, entretenimento e um bom conselheiro. Por muitos anos eu fui defensora da literatura de entretenimento que é só entretenimento. No entanto, descobri que isso não existe. Se é literatura, não é só entretenimento. Inevitavelmente, ela vai falar alguma coisa para o leitor. Ela vai deixar alguma marca, de qualquer maneira.

O enorme poder dos livros sobre as pessoas já está mais do que provado, divulgado e experimentado. Mas é importante que aqueles que escrevem literatura entendam que além de divertir, devem influenciar. E que, além de influenciar, devem divertir. Uma coisa não pode vir dissociada da outra. Porque o que eu vejo em alguns escritores que têm interesse claro de influenciar positivamente, como os cristãos, é um descaso inexplicável com a qualidade literária. É como se pensassem: “o que importa é a mensagem, então, vamos escrever de qualquer jeito”.

Eu me lembro de ter visto no blog da editora Mundo Cristão (infelizmente o post não existe mais, eu já procurei) um post se lamentando de não haver mercado para romances cristãos no Brasil e dizendo que estavam apostando em dois novos títulos (na época), torcendo para que o público se interessasse. É só raciocinar um pouquinho. Como pode haver mercado para ficção no Brasil e não haver mercado para ficção cristã? Isso non ecziste! Se ficção cristã tiver qualidade (oi, Francine Rivers), vai vender. Se não tiver, não vai vender. Se bem que alguns, mesmo sem qualidade nem literária, nem de conteúdo (oi, Daniel Mastral), vendem.

O livro em que eles apostavam era “Acontece a cada primavera”, de Gary Chapman e Catherine Palmer e a premissa parece muito interessante. Gary Chapman tem um livro chamado “As quatro estações do amor” e a ideia era fazer um romance (depois descobri que era uma série) mostrando, na prática, os ensinamentos do livro de Gary.  Quase como aquele especial da Record baseado no Casamento Blindado. Eu realmente me empolguei com a ideia e comprei o livro, cheia de boas intenções de fazer uma resenha e tal.

Nunca demorei taaaaaaaaanto para ler um romance. Na verdade, não consegui chegar ao fim até hoje. E olha que eu sou a doida que leu “Amor de Redenção” em poucas horas. “Acontece a cada primavera” tem um ritmo extremamente arrastado e faz tudo o que você não deveria fazer ao escrever um livro: uma porção de cenas desnecessárias e diálogos inúteis. Já havia passado da metade do livro e confidenciei ao meu marido:

– Barbaridade, estou lendo esse “Acontece a cada primavera”, que livro mais chato! Já passei da metade e até agora não aconteceu nada! – E ele, sério:

– Decerto ainda não chegou a primavera.

Hahahahaha…esse é o Davison. Eu já deveria saber…rs. Então, um recado às editoras cristãs: um romance não vai vender horrores só porque ele é cristão. Se ele for bom, certamente vai vender bem, sendo cristão ou não. Se ele for chato, vai vender só até os leitores comprarem e perceberem que é chato. E se as editoras cristãs não abrirem os olhos para essa realidade, as editoras seculares, sempre mais espertas, vão aproveitar para investir nesse mercado com bons títulos de autores cristãos. Eu, particularmente, não vejo problema nenhum nisso, desde que bons títulos que tenham boas mensagens e excelente qualidade literária estejam a nosso alcance nas livrarias. Porque eu tenho um sonho, amigos, de poder entrar em uma livraria e encontrar opções para leitores como eu, exigentes no quesito “qualidade” e no quesito “conteúdo”. E sou do tipo que acredita que sonhos podem se tornar reais. 🙂

A propósito, como me perguntaram aqui e no Facebook, vim atualizar o texto: sim, eu resolvi fazer alguma coisa a respeito e já estou escrevendo um romance. Dois, na verdade. Não falo muito sobre isso (embora esteja lá no PS do outro post) porque meu tempo é muito escasso e escrevo nas poucas horas vagas, então eu não faço a menor ideia de quando vou conseguir terminar. Mas vai ser algo que vai interessar tanto a meninas quanto a meninos. Sem cara de “livro de crente”. É fazer pelos outros o que eu gostaria de receber: um livro normal, interessante e saudável. Darei mais informações assim que tiver alguma informação para dar…rs.

 

PS. Caso ainda não tenha lido, clique aqui para ver o que escrevi sobre romances da última vez em que mencionei o assunto, também falando para o público cristão.

Os meus 18 anos

Dia desses alguém me disse que eu não entendia as coisas por ser muito novinha. Ela não disse por mal, apenas me julgou ingênua. Depois, comentou que meu jeito lembrava ela mesma aos 18 anos. Provavelmente uma época em que ela era ingênua e achava que as coisas eram muito melhores do que descobriu que eram, depois que coisas não muito boas aconteceram em sua vida. Então, achei importante falar a respeito de como eu era aos 18 anos. Espero que ajude alguém.

Estava escrevendo sobre algumas passagens da minha vida (depois coloco aqui, aos poucos), então resgatei um diário antigo (para ver se tinha alguma coisa que valesse a pena transcrever) e me deparei com uma pessoa muito diferente de mim. Ela vivia em torno de si mesma, se enganava com paixões platônicas para não pensar em sua história e em sua vida. Quando perdeu as coisas frágeis em que se apoiava, desabou.

Eu tinha 18 anos. Culpava a todo mundo por minhas frustrações. Minhas irmãs eram insuportáveis. Minha mãe era amiga, mas não tomava partido. Meus irmãos eram legais, mas viviam a vida deles. A relação com meu pai era de atritos. Eu não sabia me defender sem ser agressiva. O inferno fazia a festa na minha vida.

Não vou detalhar todas as coisas que passei na vida, ou o post não teria fim. Mas para quem não conhece minha história, apenas um resumo: meus pais se separaram quando eu tinha um ano, minha mãe ficou sozinha com os 5 filhos. Aos 18 anos, eu já tinha passado 4 anos doente, já tinha feito uma cirurgia cardíaca, tinha perdido quatro tios e meu avô (estou me referindo ao lado da minha mãe, pois não tive contato com a família do meu pai) em um período de 7 anos, com direito a um assassinato a tiros, pelas costas, não esclarecido até hoje, um rapaz de 32 anos morrendo de infarto, um acidente de carro que, dizem, não foi acidente, um câncer que matou em 3 meses,  e uma leucemia que torturou por mais de um ano.

Já na área amorosa, eu não tinha visto uma família feliz. Mesmo os casais que se amavam, viviam brigando. Adultério era muito comum, quase tradição. Ou seja, eu tinha problemas de verdade com que lidar. Mesmo assim, resolvi arranjar alguns problemas imaginários com as paixões platônicas, que, na verdade, eram apenas uma desculpa para eu me esconder. Apesar de ter sido uma criança alegre e comunicativa, aos 18 anos eu era fechada, tímida e muito depressiva. Alguns trechos do diário fizeram com que eu me perguntasse como sobrevivi. Dá vontade de sacudir a guria e mandar ela acordar! Dê uma olhada em duas amostras…são trechinhos retirados dos seguintes dias:

02/07/98

“Ela não entende que todo esse meu jeito, todas as minhas cobranças não são apenas manifestações de uma adolescente intolerante e um pouco rebelde, mas isso e minha irresponsabilidade e desinteresse são um pedido de ajuda! A cry for help! Porque eu quero sair desse abismo horroroso no qual eu caí, eu queria que acontecesse algo na minha vida, alguma coisa que mudasse a minha vida, qualquer coisa que a mude para melhor, porque para pior é impossível e mesmo se fosse possível eu não suportaria.

Minha vida perdeu seu rumo e eu perdi a força, a coragem e a esperança, só o que eu quero fazer agora é deitar, descansar e desistir.”

07/07/98

“Hoje estou menos deprimida, mas não consigo me sentir totalmente feliz aqui e sei que nunca conseguirei, só que o problema nem está tanto na cidade, está em mim, não sei o que fazer, não sei se isso tem solução, no momento me contento em dormir e chorar, só não quero mais preocupar mamãe.”

Eu leio essas coisas e hoje sei qual seria a resposta para todas essas angústias. Eu me lembro da angústia. Me lembro de como era terrível aquele vazio, de como eu me sentia infeliz, sozinha e pressionada. Eu me lembro de minha forma negativa de encarar as coisas e de como tudo era um problema. Lembro de como eu me sentia desamparada e de como não conseguia explicar essas coisas para ninguém, eu só sentia e escrevia no meu diário. Eu me lembro de como era pessimista, de como declarava coisas ruins e de como achava que nunca iria ser feliz. Eu me lembro de todas as minhas formas erradas de pensar e, sinceramente, me sinto uma sobrevivente. Eu vivi 100 anos em 28 (até o momento em que nasci de novo, há 5 anos) e dou graças a Deus por ter conseguido aproveitar a chance de ter uma nova vida.

Depois de 98, aconteceram coisas que mudaram a minha vida para pior, e eu suportei. E foram essas mesmas coisas que me mostraram a porta de saída do abismo. E hoje eu leio essas coisas e penso em quantas pessoas não estão lá fora, do mesmo jeito que eu estava. Por fora, aparentemente bem, lúcidas e agressivas. Ninguém quer chegar perto delas, ninguém quer conviver com elas, porque elas aparentam não precisar de ninguém. No entanto, por dentro estão dilaceradas. Talvez não saibam expressar o que sentem por escrito, como eu fazia, mas sentem. Sentem a dor, sentem o abandono, sentem o desespero, sentem a angústia. Querem, desesperadamente, que alguma coisa mude suas vidas, enquanto a mudança está ao alcance de suas mãos – e elas não sabem.

O que eu diria para essa Vanessa de 18 anos? Puxa, que oportunidade se eu tivesse aberto os olhos tão cedo assim! Eu diria: Olha, não vai ser fácil. Mas se você for realmente tão inteligente quanto diz ser, vai olhar para dentro de você e perceber que está tudo errado. Está tudo errado. A sua forma de enxergar as coisas está errada. Suas prioridades estão erradas. Você está errada. Toda essa escuridão está errada. A sua vida vai ser aquilo que você determinar que ela vai ser. Se você só olhar para os problemas, só terá problemas. Um atrás do outro. A vida tem possibilidades infinitas, e você só vê as impossibilidades porque sua visão está distorcida. Você tem que jogar tudo fora e começar de novo. Tirar o foco do seu umbigo. Está na igreja e acha que é de Deus, mas não tem nenhum fruto que confirme isso. Criou um deus para você, como acha que ele deveria ser, e acha que isso é o máximo que pode alcançar dEle. Não dê ouvidos às vozes negativas que dizem que você já tentou de tudo e que não tem mais jeito. Você precisa nascer de novo. Esquecer tudo o que acha que sabe, abrir mão de tudo o que você acha que é. Porque você esteve anos dentro da igreja, mas nunca conheceu Deus.

Cogite a hipótese de não ter entendido nada durante o tempo em que esteve lá. Você estava errada o tempo todo. Você pode ter uma vida nova, pode ser uma nova criatura, com uma nova mente, mas, para isso, terá de abrir mão dessa vida velha aí. Comece do zero. Acompanhe sua mãe à Universal e não perca mais seu tempo. Mas vá como se não conhecesse nada, como se nunca tivesse ido em igreja nenhuma. Casar não vai resolver o seu problema. Sair de casa não vai resolver o seu problema. Ter sucesso não vai resolver o seu problema. É possível viver sem esse vazio, sem essa angústia. Você pode ter paz interior e começar a ver a vida com outros olhos. Começar a viver, de verdade. Não espere por ninguém. A decisão é sua.

 

UPDATE:

Pra variar, encontrei algo no blog do nosso amigo Renato Cardoso (sim, porque ele aparece tanto por aqui que já é amigo do blog) que tem tudo a ver com esse post. Transcrevo aqui um trechinho que vai fazer com que você entenda exatamente por que a mudança na minha mente possibilitou uma mudança radical em toda a minha vida. Minha mente antes era guiada pela dúvida. Hoje, pela fé. “Fé” não como sinônimo de religião, mas como sinônimo de “certeza de coisas que se esperam”. Essa é a velha Vanessa confrontada com a nova Vanessa:

“A dúvida vê os obstáculos. A fé vê o caminho. A dúvida vê a escuridão da noite. A fé vê o romper do dia. A dúvida receia dar um passo. A fé voa nas alturas. A dúvida pergunta, ‘Quem acredita?’ A fé responde, ‘Eu’.”

 

Imagine viver todos os dias tendo a certeza de que tudo vai dar certo e de que tudo vai melhorar, sempre. Imagine acordar tendo a certeza de que você será melhor naquele dia do que no dia anterior. Imagine viver sabendo que você pode fazer tudo o que você quiser, e conseguindo conquistar o que você determinou, ainda que com muitas lutas. Imagine saber que o Todo-Poderoso está com você, não para consolar, mas para guerrear as suas guerras. Imagine conseguir enfrentar seus medos e vencer, imagine conseguir superar até as coisas mais insuportáveis, imagine conseguir encarar as coisas com leveza e sorrir mesmo em meio à guerra. Imagine ter estabilidade emocional. Imagine não ser escravo do medo. Imagine não ser escravo de ninguém. Deu para entender agora por que hoje sou tão feliz? Clique para ler o texto inteiro no blog Renato Cardoso.