mar1

A abertura do Mar Vermelho, na novela Os Dez Mandamentos, foi uma sequência extraordinária. Não só pelos efeitos especiais, foi muito mais do que isso. Todo o Brasil parou para ver. Não apenas a abertura, na terça, mas o fechamento, na quarta. Participamos de um momento histórico, sem dúvida. E foi muito legal ver os comentários do pessoal ao vivo no Twitter. Toda a sequência, desde a aproximação do Faraó até sua volta ao Egito foi memorável.

As palavras de dúvida de Datã, Corá e Abirão, a fé de Moisés “Não tenham medo…fiquem calmos e vejam o livramento que o Senhor dará….Deus lutará por vocês”. A resposta de Deus, deixando claro que a atitude de fé é que moveria a mão dEle. Se ninguém caminhasse em direção ao mar, ele não se abriria: “Por que estão clamando? Diga ao povo que marche!”.

A arrogância do Faraó, ordenando a perseguição mesmo diante do mar aberto, mesmo diante do poder inegável do Deus dos hebreus. O povo hebreu dependendo 100% de Deus, caminhando pelo meio do mar (exatamente como na descrição Bíblica: pés enxutos, parede de água à direita e à esquerda)…a perseguição e o encerramento, com o mar se fechando sobre o exército egípcio. O exército provavelmente morreu esmagado pela água, sem nem chance de se afogar. Ramsés observando, sozinho e derrotado. Nos olhos de Moisés, o pesar pelas escolhas erradas do ex-amigo. E o alívio pelo fim da perseguição. Foi de tirar o fôlego.

Porém, algumas pessoas ficaram confusas, dizendo que a novela estava errada, pois, na Bíblia, o Faraó morria. Isso não é verdade. A Bíblia diz que os cavalos e cavalarianos do Faraó morreram, mas não fala nada do Faraó ter morrido. Diz que ele estava com o exército, mas só menciona a morte do exército, olha só: “Porque as águas, tornando, cobriram os carros e os cavaleiros de todo o exército de Faraó, que os haviam seguido no mar; nenhum deles ficou.” (Êxodo 14.28)

Se ler desde o início do capítulo, vai perceber que diz que Faraó foi até lá com o exército, mas não o menciona entrando com ele no meio do mar. Provavelmente ficou observando e saiu sozinho e envergonhado, mesmo. Se viu impotente diante do poder de Deus e se viu reduzido ao que realmente era: humano. O que, convenhamos, foi muito mais forte do que se tivesse morrido.

.

UPDATE: Nosso leitor Tales citou Salmos 134.15, que poderia sugerir que Faraó morreu: “mas derrubou a Faraó com o seu exército no Mar Vermelho(…)”. Essa é uma descrição poética, uma música feita muitas gerações depois. O relato histórico está em Êxodo, escrito por quem viu os fatos.  Em Êxodo 15.4, a canção de Moisés diz que “Lançou no mar os carros de Faraó e o seu exército; e os seus escolhidos príncipes afogaram-se no Mar Vermelho”. Se Êxodo dá a entender que Faraó chegou até lá, mas quem se afogou foi o exército que ele levou, não daria para a autora colocar Faraó no meio do mar. Sinceramente, não creio que Moisés se esqueceria de anotar esse detalhe.

A propósito, eu sou totalmente a favor do autor ser criativo para preencher as lacunas e conseguir transpor a história bíblica para o roteiro. Não tolero distorções como o filme Noé, mas não sou crente xiita que acha que as únicas falas de Moisés deveriam ser as que ele mesmo escreveu ou que personagens e cenas extras não deveriam ser criados. Porém, na escolha de manter o Faraó vivo, não foi esse o caso. Então, achei que valeria esclarecer.

.

PS: Sim, sumi por alguns dias, mas já voltei, tá? Nos dias em que tenho que fazer pesquisas mais extensas, não sobra muito cérebro para fazer algum post no blog. 😛

PS2: Tem artigo meu na página 2 (Ponto de Vista) da Folha Universal desta semana (edição 1231), uma versão condensada do texto sobre os atrasildos do Enem (condensada e bem melhorada…não sei por que não me imponho limite de caracteres aqui no blog também rs. Os textos ficam melhores quando os edito psicoticamente).

PS3: É bem capaz de eu voltar a esse assunto da abertura do Mar Vermelho. Ainda estou processando a informação rs.