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Há dois exemplos muito interessantes que Jesus dá quando fala sobre oração e que mudaram minha percepção de como pedir as coisas para Deus. O primeiro deles está em Lucas 11.5-9

“Disse-lhes ainda Jesus: Qual dentre vós, tendo um amigo, e este for procurá-lo à meia-noite e lhe disser: ‘Amigo, empresta-me três pães, pois um meu amigo, chegando de viagem, procurou-me, e eu nada tenho que lhe oferecer’. E o outro lhe responda lá de dentro, dizendo: ‘Não me importunes; a porta já está fechada, e os meus filhos comigo também já estão deitados. Não posso levantar-me para tos dar’; digo-vos que, se não se levantar para dar-lhos por ser seu amigo, todavia, o fará por causa da importunação e lhe dará tudo o de que tiver necessidade. Por isso, vos digo: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e a quem bate, abrir-se-lhe-á.”

E a continuação é aquele mesmo trecho do final do post de ontem, que fala sobre pedir o Espírito Santo (é importante sempre entender o contexto dos versículos que a gente lê). Note que esse exemplo não diz que Deus não quer ajudar ou não quer ser amigo. O foco está no comportamento daquele que pede (afinal de contas, Ele usou essa história para nos ensinar a maneira certa de pedir). O que Ele descreve aqui é uma pessoa tão decidida naquilo que quer que não fica com dodóizinho. Porque o “normal” da maioria dos humanos de hoje em dia, que são MEGA dodóis seria ficar chateado com o que o amigo disse.

“Puxa, isso é jeito de falar comigo?” “Ele me mandou não importunar! Nunca mais vou falar com ele!” “Ah, é assim, é? Então não conte mais comigo para nada!” “Puxa, eu não esperava ser tratado assim…”

A razão das pessoas se magoarem e se ofenderem tão facilmente hoje em dia é que somos levados pela nossa cultura atual a nos colocarmos no centro do universo. Nosso umbigo é o sol, ao redor do qual todo o resto precisa girar. Então, se alguém fala de uma maneira mais seca, a pessoa já se sente atingida em seu ponto mais frágil: o ego.

Parafraseando o Ramsés, de Os Dez Mandamentos, o ego grita: “Como OUSA falar assim comigo?”, a emoção aflora, em carne viva. Nessa síndrome de Ramsés, centrada em si mesma, a criatura mal consegue usar sua fé. Não tem como! Porque entra na emoção de tal forma que começa a se achar injustiçada e pensar mal do outro, que o “agrediu”. E a coisa toma um contorno de novela mexicana, porque o que o ser humano mais sabe fazer na vida é drama. E essa é a receita para a praga das trevas tomar conta da vida do indivíduo.

Já o amigo importuno, não está nem aí. Ele sabe o que precisa e está determinado a alcançar. Ele não é mal-educado ou agressivo, é apenas definido naquilo que foi fazer à porta do amigo. É a descrição perfeita da fé que não desiste, que não desanima, que se recusa a ficar chateada ou ofendidinha. O amigo importuno sabe que está sendo chato. Sabe que não tem o menor direito de estar ali na porta do outro à meia-noite. Mas conhece muito bem o Amigo a quem está pedindo. Ele sabe que esse Amigo é bom e que tem o melhor pão do mundo. Então, por saber muito bem quem é o Dono do pão, ele insiste até conseguir.

Em outra ocasião, falando desse mesmo assunto, Ele contou a seguinte história:

“Disse-lhes Jesus uma parábola sobre o dever de orar sempre e nunca esmorecer: Havia em certa cidade um juiz que não temia a Deus, nem respeitava homem algum. Havia também, naquela mesma cidade, uma viúva que vinha ter com ele, dizendo: Julga a minha causa contra o meu adversário.

Ele, por algum tempo, não a quis atender; mas, depois, disse consigo: Bem que eu não temo a Deus, nem respeito a homem algum; todavia, como esta viúva me importuna, julgarei a sua causa, para não suceder que, por fim, venha a molestar-me.

Então, disse o Senhor: Considerai no que diz este juiz iníquo. Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-los? Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça. Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra?”  (Lucas 18.1-8)

Novamente, aqui Ele não está comparando Deus a um juiz iníquo. O foco é ensinar como devemos agir nossa fé ao clamar a Deus. Ele usa como exemplo o comportamento da viúva insistente que, assim como o amigo importuno não desiste enquanto não recebe a resposta. Mais uma importunadora que passa por cima de seu ego para insistir, focada naquilo que sabe que deve fazer.

Por essa razão, Jesus termina perguntando se quando Ele voltar encontrará fé na terra. Porque o que Ele descreveu é a verdadeira fé: definida, desprovida de nhenhenhém, que não tem vergonha de ser chata. Como a daquela mulher que Ele mesmo elogiou:

“Partindo Jesus dali, retirou-se para os lados de Tiro e Sidom. E eis que uma mulher cananeia, que viera daquelas regiões, clamava: Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de mim! Minha filha está horrivelmente endemoninhada. Ele, porém, não lhe respondeu palavra.

E os seus discípulos, aproximando-se, rogaram-Lhe: Despede-a, pois vem clamando atrás de nós. Mas Jesus respondeu: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel. Ela, porém, veio e O adorou, dizendo: Senhor, socorre-me!

Então, Ele, respondendo, disse: Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos. Ela, contudo, replicou: Sim, Senhor, porém os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos. Então, lhe disse Jesus: Ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se contigo como queres. E, desde aquele momento, sua filha ficou sã.” (Mateus 15.21-28)

Note aqui a personalidade de Jesus. Nada a ver com aquele “Jesus” católico com cara de dor de barriga, com peninha das pessoas, fraco e emotivo. Se você ler essa passagem pensando que Jesus era esse da dor de barriga, vai ficar bastante confuso e achar que ela não faz sentido. Mas se entender como Ele é, de fato, vai perceber o que Ele fez aqui.

A demora dEle em atendê-la e a aparente rejeição fez com que a fé daquela mulher se fortalecesse ainda mais. Ela não se importou com o jeito que foi tratada. Não estava nem aí para seu umbigo. Ela tinha total consciência das prioridades e sabia muito bem o que queria. Sua fé era definida. Jamais ficaria magoada, triste, se sentindo vítima. Ela não estava ali na posição de vítima. Estava ali sabendo exatamente a Quem estava clamando. E não sairia sem a resposta.

Não é exatamente o que Ele disse que deveríamos fazer quando deu o exemplo do amigo inoportuno e da viúva chata? Essa é a fé que nos dá o Pão de que precisamos, mesmo de madrugada. Essa é a fé que faz com que nossa causa seja julgada. Essa é a fé que nos dá o Espírito Santo. Essa é a fé que transforma cachorrinhos em filhos. A fé que não busca reconhecimento. A fé que não se vitimiza. A fé que não tem pena de si mesma. A fé que não busca a peninha. A fé que não fica de nhenhenhém. A fé que sabe a Quem está clamando e, por isso, nunca vai desistir.

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#JejumdeDaniel #Dia15

PS: Eu deveria agir naturalmente, com um ar blasé, mas não consigo. Fiquei muito feliz ao ver que alguns escavadores ocultos (e outros nem tão ocultos assim rs) se comunicaram comigo no post anterior 🙂 . Embora eu seja da opinião de que devemos escrever mesmo quando parece que ninguém nos lê (eu creio, pela fé, mesmo, que sempre tem alguém lendo e que para aquela pessoa aquela palavra fará diferença), é sempre uma pequena festa ler depoimentos de leitores para quem este blog tem sido útil. É como encontrar amigos em uma trilha. Estamos no mesmo espírito, juntos na mesma caminhada, nas subidas íngremes, nos lugares escorregadios, aprendendo a permanecer firmes no Caminho. Quanto a quem não comenta: eu amo vocês, mesmo assim rs. Estou convicta de que os leitores deste blog são os melhores do mundo. 🙂

PS2: Coloquei o PS do post anterior em uma página própria, pois achei que seria uma boa forma de explicar a política de comentários deste blog. Está no link Seu comentário sumiu?