Esse é o título da matéria que saiu na Revista Lola deste mês (Setembro), que tem a Andréa Beltrão na capa. Sou uma das entrevistadas da matéria. De início, sob o efeito entorpecente do trabalho gráfico que Nik Neves fez em cima da foto da Ricota. Na verdade o impacto foi extremamente positivo porque liberei que usassem qualquer foto do meu facebook e escolheram justamente uma foto em que ela aparece em primeiro plano. E como sou gateira de carteirinha e mãe coruja de meus gatos, imagina que amei a coisa toda sem nem mesmo ler direito.
Tentei ler o texto e cheguei a começar a escrever algo sobre ele neste blog, o início rascunho foi o seguinte: “como a conversa com a jornalista foi bastante longa, ela teve que resumir e, nesse processo, muitas coisas ficaram concisas demais e algumas informações parecem sobrar no depoimento. ”  Depois da poeira baixar, resolvi ler com mais cuidado e vi que o problema não foi a concisão, mas a falta de cuidado com o contexto ao resumir a conversa.  O mais engraçado é que ela me perguntou o que eu tinha achado, eu disse (ainda sob o efeito da ilustração). Ela apenas comentou que sabia que eu seria uma entrevistada crítica e não me respondeu mais. Depois que eu li com cuidado e vi diversos pontos dos quais não gostei, achei melhor nem escrever novamente para a moça, afinal de contas, ela já estava com a opinião que teria se lesse o que eu tenho a dizer, antes mesmo de ter lido…risos…
A impressão que eu tive ao ler novamente foi que ela não entendeu muito bem o que eu queria dizer. Se fosse escrito em terceira pessoa, eu não reclamaria. O problema é que em um depoimento escrito em primeira pessoa, o leitor imagina que aquilo tenha sido escrito (ou dito), ipsis literis, pelo entrevistado. Se eu tivesse acesso ao texto final, faria alguns ajustes (deixaria do mesmo tamanho, mas mudaria algumas coisas) e, aí sim, seria meu depoimento. Como não tive, do jeito que ficou eu só posso dizer que é a interpretação que alguém fez daquilo que eu disse, mas eu não assino embaixo. Só não vou pontuar tudo o que eu não gostei porque realmente acho desnecessário, mas algumas coisas me incomodaram um bocado.
Algumas sentenças que parecem iguais para outras pessoas, para mim soam completamente diferentes. Por exemplo, no meio do assunto, disse que ajudei a cuidar dos meus sobrinhos quando bebês (quando meu sobrinho mais velho nasceu – prematuro – eu ia todos os dias para a casa de minha irmã ajudá-la a cuidar do bebê enquanto ela descansava, ou então ela não conseguiria dormir nunca. De minha sobrinha eu cuidei mais, pois nasceu na casa da minha mãe enquanto eu morava lá. Com os outros, eu só tive contato durante viagens que fiz à casa de meus irmãos, onde brinquei de tia), brinquei com eles quando cresceram,  mas quando você é tia, por exemplo, e cansa da brincadeira, entrega a criança para a mãe. Se for meu filho, vou entregar para quem? Foi parar no texto como: “Entre 2000 e 2002 ajudei a cuidar dos filhos das minhas duas irmãs e dos meus dois irmãos. Era o máximo ficar com eles, trocar fraldas, brincar, mas chegava um momento em que eu me cansava e ficava aflita para colocar a criança nos braços dos pais”.
Pô, o que parece isso? Parece que a criatura fica de saco cheio das crianças e quer jogar no colo de alguém. Não é esse o sentido do que eu disse, o que eu falei foi bem mais sutil (ou será que me expresso tão mal? Entrevistas, só por escrito, ok? Eu não sei falar). A palavra “aflita” não é algo que faça parte do meu vocabulário, justamente porque eu sei o que ela significa e aflição não é algo que eu costume sentir…risos…o que eu quis dizer foi simplesmente o que eu disse: quando você tem um filho, ele é seu, e você não tem a liberdade de passar a responsabilidade para outra pessoa quando se cansa e quer voltar para a sua vida, simplesmente porque aquela responsabilidade é sua. E não pode ter um filho quem não quiser assumir esse tipo de responsabilidade. Estou simplesmente sendo honesta. Mas não fico aflita para me livrar de meus sobrinhos, o cerne da questão aqui é que eles não são responsabilidade minha. Ponto.
Outra coisa que me incomodou foi que, ao argumentar que não importa a criação que você dê, não há garantias de que a pessoa irá assimilar a educação dada, que até certo ponto os pais têm controle sobre a criação dos filhos, mas a partir de um determinado momento, não podem mais interferir, cada um tem seu caráter, cada um faz suas escolhas (explico melhor isso no texto mais abaixo), eu mencionei que havia visto exemplos disso em minha família, mas achei que não valia a pena tocar nesses assuntos e não dei detalhes, nem disse nada além.
Poxa, se eu não dei detalhes, é porque o assunto não deve ser mencionado, afinal de contas, ficaria uma informação incompleta solta no texto. Foi o que aconteceu. A pessoa agrupou tudo o que eu disse sobre a minha família em um bloco só e ficou assim: “Vi que, por mais que se dediquem os filhos, chega uma hora em que perdem o controle e se veem diante de alguém que não tem nada a ver com eles. Não existe garantias, e eu vi isso na minha família. Entre 2000 e 2002, ajudei a cuidar dos filhos das minhas duas irmãs e dos meus dois irmãos.  Era o máximo ficar com eles, trocar fraldas, brincar, mas chegava um momento em que eu me cansava e ficava aflita para colocar a criança nos braços dos pais”.
Você há de convir que a frase “Não existe garantias, e eu vi isso na minha família” dá a impressão de que a sentença seguinte irá explicar o que foi dito aqui. E como a sentença inicia com “Entre 2000 e 2002, ajudei a cuidar dos filhos das minhas duas irmãs (…)” você  entende que o problema foram os sobrinhos, que eu vi, com meus sobrinhos, que não existiam garantias. Coitadinhos!…hahahaha…esses bichinhos são as melhores pessoas da família! Eu só achei que não havia necessidade de me aprofundar na análise, e graças a Deus que não o fiz. Vai que a criatura resolvesse colocar na matéria?
Por fim, o começo: também me incomodou o título do depoimento, mas isso eu comentei no rascunho que já estava preparado e que segue abaixo, sobre minha decisão de não ter filhos.
“Mas o texto talvez nem esteja tão bom quanto eu penso, não sei, minha impressão ficou totalmente obliterada pela ilustração de Nik Neves…eu não sabia qual foto seria usada, mandei várias opções e a Luciana ainda teve acesso ao meu Facebook para escolher a foto que achasse melhor. Tive uma grata surpresa ao abrir a revista e me deparar com dois olhos verdes gigantes da Ricota, ofuscando tudo ao seu redor. Sou mãe coruja de gatinho!! Lindaaaa!!! A moça soube me ganhar: escolheu uma foto minha com a gatinha e já era, filha, poderia até escrever que eu torturo criancinha e as mastigo picadas no café da manhã, que eu nem notaria.
Agora vamos ao assunto. Antes, apenas um comentário a respeito de algo que eu realmente detestei na matéria: o título do meu depoimento. “Pensei, pensei, pensei, até achar motivos para não ter” dá a impressão de que a criatura queria muito ter e teve de se esforçar horrores para encontrar algum motivo para abrir mão de sua vontade.  Felizmente quando você lê o texto, entende o que significa o título, mas não sei se para todos desfaz a impressão ruim inicial. Na verdade, eu não precisei pensar muito. Um título mais próximo da realidade seria: “Pensei bem e decidi não ter” ou “Pensei, por isso decidi não ter” ou mesmo “Quanto mais pensava, menos motivos achava para ter”.
Quando me casei, estava decidida a ter filhos. Seriam três, um atrás do outro, para que crescessem juntos. Não queria esperar muito, planejava engravidar no primeiro ano. O Davison, um pouco mais consciente do que eu, tinha noção do tamanho da responsabilidade de ter um filho, e queria esperar quatro anos. Conversamos e negociamos um prazo que, para mim, parecia mais equilibrado: dois anos.
Não foi preciso nem um ano para que eu me desse conta de que seria loucura ter um filho no início do casamento. Ganhei uma gatinha filhote da minha amiga Claudia Letti e na mesma semana buscamos o gatinho que tínhamos adotado da Andrea Lambert. A Ricota mal tinha três meses e o Tiggy, quatro. Lembrar de alimentar, limpar a caixa de areia, educar, tentar fazê-los me compreender…logo em seguida, eles ficaram doentes. Foi um corre corre atrás de veterinário, vai fazer exame, corre para a farmácia, a Ricota tomou vacina e teve reação, vomitou, ficou amuadinha…liga para a veterinária…um sufoco atrás do outro. Pensei: “estou assim por causa de um gato…e se fosse um bebê?” Assim como o filhote de gato, um bebê depende 100% da mãe, e não é ruim você parar a sua vida para se dedicar totalmente a uma criança, mas você tem de estar disposta a isso. Eu não estava.
Convivi com meus sobrinhos enquanto eram bebês. Pouco ou muito, passei um período com todos eles. Troquei fraldinhas, brinquei…amo crianças e elas costumam gostar muito de mim, também. Por isso muita gente me enche a paciência, dizendo que eu seria uma excelente mãe. Seria, sim, mas também criaria um alienígena, pois não desejo este muito para ninguém e sei que a tendência do nosso mundo é só piorar. Olhe ao redor. As crianças estão piores, os adolescentes estão piores, os adultos estão piores…a sociedade tem se enfiado em um caos que não tem mais volta.
Eu sou bem feliz porque finalmente encontrei uma direção para a minha vida, mas até chegar aqui foi uma luta terrível e tenho consciência de que a maioria das pessoas não consegue alcançar a paz que eu tenho hoje. A esmagadora maioria vive na angústia, na ansiedade, na depressão, à base de medicamentos, sem futuro, sem perspectiva, pensando em morrer por simplesmente não querer mais a vida que tem vivido, mas sem saber que é possível ter uma nova vida sem precisar encarar fisicamente a morte. Para que vou trazer outra pessoa a um mundo assim?
Alguém pode me dizer que eu tenho uma visão pessimista. Não tenho, não, eu sou até bastante otimista. Mas encaremos a realidade! Eu não tenho interesse em criar alguém que se adapte a este mundo. Eu não suportaria conviver com alguém que conseguisse ser adaptado a este mundo podre. Sem contar que ninguém antes de engravidar se prepara para o nascimento de uma criança excepcional, por exemplo, ou mesmo que tenha uma doença ou fique tetraplégico precisando de cuidados intensivos. Novamente, não que isso a desqualifique enquanto pessoa, mas a mãe tem de estar preparada para isso quando decide que ela virá ao mundo. Me lembro agora do lindo texto Bem-vindo à Holanda, que você pode ler no Autor Desconhecido, clique aqui para ler.
Aí a pessoa apela: mas e a vontade de Deus? Alguém me recitou: “Está escrito: Crescei e multiplicai” – ao que eu completei – “…e enchei a Terra. A Terra já está cheia, não precisamos mais nos multiplicar”. E é ridículo, você tem de ficar defendendo algo que diz respeito apenas a você. Eu não faço campanha para que as outras mulheres não tenham filho (embora realmente não ache nada inteligente continuar colocando gente em um mundo superpopuloso, enquanto  milhares de crianças são abandonadas pelos pais), se você quiser fechar os olhos para a realidade e ter seus filhos só porque eles são bonitinhos ou pela atenção que você recebe durante a gravidez, ou por razões emocionais, para sentir o tal “amor incondicional” (que se fosse tão incondicional assim, impediria tantas mães de jogar seus filhos nas latas de lixo) que seus hormônios prometem lhe dar, vá em frente.
Se você prefere achar que isso é vontade de Deus (só porque Ele fez os seres humanos com órgãos sexuais para que se reproduzam, se quiserem), que é destino, beleza, o problema é que não há quem me pergunte: “mas você não vai ter filhos?” que não tente me convencer de que eu devo, sim, ter e que vou me arrepender amargamente pelo resto de minha vida se não o fizer (fora o clássico comentário: “mas quem vai cuidar de você quando envelhecer?” como se filho fosse garantia de cuidado e companhia na velhice…). Não precisei pensar muito para ver que criar um ser humano é uma responsabilidade enorme e que eu não posso transferir para a babá, a empregada ou – pior – a televisão.
Também não precisei pensar muito para enxergar que as pessoas têm sua própria personalidade e que por melhor que eu crie alguém, não posso garantir que aquela pessoa irá assimilar a educação que dei. Se não fosse assim, não teríamos tantos filhos dando desgosto às suas mães, enquanto seus irmãos acabam se tornando gente decente. Ou seus irmãos são iguaizinhos a você? Seus tios são idênticos à sua mãe? Mesma criação, mas personalidades diferentes e -muitas vezes – caráter diferente, também.
Não precisei pensar muito para ver que eu não estava certa de que seria uma boa ideia trazer alguém para este mundo. Costumo dizer que gosto muito de meus filhos para permitir que venham ao mundo. O período em que passei evangelizando em favelas me fez ter ainda mais certeza de que ter filhos hoje em dia não deveria sequer ser uma opção. Vi lugares que são verdadeiras plantações de almas para o inferno. Jovens sem futuro morrendo cedo demais, mas não antes de fazerem um, dois ou mais filhos que terão o mesmo futuro sombrio pela frente. Mães com uma coleção de filhos, mas sem dinheiro para colocar um prato na mesa.
Acho engraçado quem tenta apelar para o lado emocional: “Ah, você diz isso porque não tem filhos”. Lógico, nem pretendo ter.  Ou “é um amor que você não vai encontrar em lugar nenhum, é um amor que eu nunca imaginei que existisse” Acredito nisso, mas eu não sinto falta. Não tenho esse vazio dentro de mim. Não me sobrou nenhum vazio. Então para que vou tentar preencher um vazio que não existe? Não faz sentido!
Para mim, aliás, ter filhos deveria ser uma ação totalmente altruísta. Não posso ter filhos buscando sentir um amor que não encontraria em nenhum lugar, ou para suprir um vazio que existisse em mim ou no relacionamento, isso não é justo! Não é justo usar uma pessoa, uma criança, para suprir uma carência. Não é justo e não vai funcionar, porque essa criança vai se desenvolver, crescer, ela precisa ser criada para ter vida própria, vai conhecer alguém, casar, ou mesmo sair de casa antes disso.
Vai querer formar sua própria família e em muitos casos passará semanas, meses ou anos sem te ver, ligando de vez em quando, e é saudável que seja assim. É errado você chorar e fazer chantagem emocional para que ela almoce em sua casa todos os domingos, por exemplo, ou tentar se intrometer nas escolhas dela.Um pai e uma mãe têm de ser suficientemente desprendidos para ver seus filhos fazendo escolhas erradas, não seguindo seus conselhos e quebrando a cara. Eu não estou disposta a isso. Assumo, admito, e deixo as figurinhas eternamente como poeirinhas cósmicas. No que depender de mim, ninguém nasce aqui, não.
E depois de sete anos de casamento, as pessoas bem que poderiam parar de fazer esse tipo de cobrança, mas acho que isso só acontecerá quando eu tiver idade para ser avó. Agora, tem aqueles que dizem: “ah, mas você tem 31 anos, se não tiver filhos, vai se arrepender mais tarde”. Mais tarde, quando, cara-pálida? Eu decidi isso com 24 anos, já tenho 31, se não me arrependi até agora, por que raios me arrependeria mais tarde?
Eu tenho muito mais motivos do que os que citei. Esses dias me lembrei de mais um! A coitada da criaturinha passaria ainda por uma eritroblastose fetal e por uma incompatibilidade ABO. Eu sou O negativo e meu marido é AB positivo. Quem sabe isso não seja um sinal dos céus de que realmente não deveríamos jamais pensar em gerar um descendente?…risos…
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ate08.set 034

Esse é o título da matéria que saiu na Revista Lola deste mês (Setembro), que tem a Andréa Beltrão na capa. Sou uma das entrevistadas da matéria. De início, sob o efeito entorpecente do trabalho gráfico que Nik Neves fez em cima da foto da Ricota, eu achei que tinha gostado do texto. Cheguei a escrever, no rascunho de um post: “Mas o texto talvez nem esteja tão bom quanto eu penso, não sei, minha impressão ficou totalmente obliterada pela ilustração de Nik Neves…eu não sabia qual foto seria usada, mandei várias opções e a jornalista ainda teve acesso ao meu Facebook para escolher a foto que achasse melhor. Tive uma grata surpresa ao abrir a revista e me deparar com dois olhos verdes gigantes da Ricota, ofuscando tudo ao seu redor. Sou mãe coruja de gatinho!! Lindaaaa!!! A moça soube me ganhar: escolheu uma foto minha com a gatinha e já era, filha, poderia até escrever que eu torturo criancinha e as mastigo picadas no café da manhã, que eu nem notaria.”

Tentei ler o texto e cheguei a começar a escrever algo sobre ele neste blog, o início rascunho foi o seguinte: “como a conversa com a jornalista foi bastante longa, ela teve que resumir e, nesse processo, muitas coisas ficaram concisas demais e algumas informações parecem sobrar no depoimento. ”  Depois da poeira baixar, resolvi ler com mais atenção e vi que o problema não foi a concisão, mas a falta de cuidado com o contexto ao resumir a conversa.  A impressão que eu tive ao ler novamente foi que ela não entendeu muito bem o que eu queria dizer.

Se fosse escrito em terceira pessoa, eu não reclamaria. O problema é que em um depoimento escrito em primeira pessoa, o leitor imagina que aquilo tenha sido dito, ipsis literis, pelo entrevistado. Se eu tivesse acesso ao texto final, faria alguns ajustes (deixaria do mesmo tamanho, mas mudaria algumas coisas) e, aí sim, seria meu depoimento. Como não tive, do jeito que ficou eu só posso dizer que é a interpretação que alguém fez daquilo que eu disse, mas eu não assino embaixo. Só não vou pontuar tudo o que eu não gostei porque realmente acho desnecessário, mas algumas coisas me incomodaram um bocado.

Algumas sentenças que parecem iguais para outras pessoas, para mim soam completamente diferentes. Por exemplo, no meio do assunto, disse que ajudei a cuidar dos meus sobrinhos quando bebês (quando meu sobrinho mais velho nasceu – prematuro – eu ia todos os dias para a casa de minha irmã ajudá-la a cuidar do bebê enquanto ela descansava, ou então ela não conseguiria dormir nunca. De minha sobrinha eu cuidei mais, pois nasceu na casa da minha mãe enquanto eu morava lá. Com os outros, eu só tive contato durante viagens que fiz à casa de meus irmãos, onde brinquei de tia), brinquei com eles quando cresceram,  mas quando você é tia, por exemplo, e cansa da brincadeira, entrega a criança para a mãe. Se for meu filho, vou entregar para quem? Foi parar no texto como: “Entre 2000 e 2002 ajudei a cuidar dos filhos das minhas duas irmãs e dos meus dois irmãos. Era o máximo ficar com eles, trocar fraldas, brincar, mas chegava um momento em que eu me cansava e ficava aflita para colocar a criança nos braços dos pais”.

O que parece isso? Parece que a criatura fica de saco cheio das crianças e, irritada, quer jogar no colo de alguém. Não é esse o sentido do que eu disse, o que eu falei foi bem mais sutil (ou será que me expresso tão mal? Entrevistas, só por escrito, ok? Eu não sei falar). A palavra “aflita” não é algo que faça parte do meu vocabulário, justamente porque eu sei o que ela significa e aflição não é algo que eu costume sentir…risos…o que eu quis dizer foi simplesmente o que eu disse: quando você tem um filho, ele é seu, e você não tem a liberdade de passar a responsabilidade para outra pessoa quando se cansa e quer voltar para a sua vida, simplesmente porque aquela responsabilidade é sua. E não pode ter um filho quem não quiser assumir esse tipo de responsabilidade. Estou simplesmente sendo honesta. Mas não fico aflita para me livrar de meus sobrinhos, o cerne da questão aqui é que eles não são responsabilidade minha. Ponto.

Outra coisa que me incomodou foi que, ao argumentar que não importa a criação que você dê, não há garantias de que a pessoa irá assimilar a educação dada, que até certo ponto os pais têm controle sobre a criação dos filhos, mas a partir de um determinado momento, não podem mais interferir, cada um tem seu caráter, cada um faz suas escolhas (explico melhor isso no próximo post), eu mencionei que havia visto exemplos disso em minha família, mas achei que não valia a pena tocar nesses assuntos e não dei detalhes, nem disse nada além.

Poxa, se eu não dei detalhes, é porque o assunto não deve ser mencionado, afinal de contas, ficaria uma informação incompleta solta no texto. Foi o que aconteceu. A pessoa agrupou tudo o que eu disse sobre a minha família em um bloco só e ficou assim: “Vi que, por mais que se dediquem os filhos, chega uma hora em que perdem o controle e se veem diante de alguém que não tem nada a ver com eles. Não existe garantias, e eu vi isso na minha família. Entre 2000 e 2002, ajudei a cuidar dos filhos das minhas duas irmãs e dos meus dois irmãos.  Era o máximo ficar com eles, trocar fraldas, brincar, mas chegava um momento em que eu me cansava e ficava aflita para colocar a criança nos braços dos pais”.

Você há de convir que a frase “Não existe garantias, e eu vi isso na minha família” dá a impressão de que a sentença seguinte irá explicar o que foi dito aqui. E como a sentença inicia com “Entre 2000 e 2002, ajudei a cuidar dos filhos das minhas duas irmãs (…)” você  entende que o problema foram os sobrinhos, que eu vi, com meus sobrinhos, que não existiam garantias. Coitadinhos!…hahahaha…esses bichinhos são as melhores pessoas da família! Eu só achei que não havia necessidade de me aprofundar na análise, e graças a Deus que não o fiz. Se não fosse esses pontos que dizem respeito a terceiros (mais especificamente, aos meus sobrinhos e seus pais), eu nem escreveria este texto, mas precisei esclarecer esses detalhes porque conheço o meu eleitorado.

Por fim, o começo: também me incomodou o título do depoimento, no rascunho que já estava preparado e que se transformou no próximo post, sobre minha decisão de não ter filhos, também explico:

“Antes, apenas um comentário a respeito de algo que eu realmente detestei na matéria: o título do meu depoimento. “Pensei, pensei, pensei, até achar motivos para não ter” dá a impressão de que a criatura queria muito ter e teve de se esforçar horrores para encontrar algum motivo para abrir mão de sua vontade.  Felizmente quando você lê o texto, entende o que significa o título, mas não sei se para todos desfaz a impressão ruim inicial. Na verdade, eu não precisei pensar muito. Um título mais próximo da realidade seria: “Pensei bem e decidi não ter” ou “Pensei, por isso decidi não ter” ou mesmo “Quanto mais pensava, menos motivos achava para ter”.

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ate08.set 028

UPDATE: Como tem gente entrando pelo Google e lendo apenas este post, peço encarecidamente que leiam o próximo post (clique aqui para ler), no qual eu explico com detalhes a minha decisão.

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2 Comments on Filhos, eu???

  1. Obrigado pelo elogio Vanessa, espero não ser indiciado por trafico de entorpecentes.
    beijos

    Nik

    • Olha, Nik, não sei se você se salva de um inquérito policial e de um processo criminal por tráfico de entorpecentes(ou poderia ser associação ao tráfico, se você trabalhasse em equipe), pois seu trabalho é potencialmente perigoso, principalmente quando feito sobre foto de gatinha com olhos verdes gigantes. Deveria vir com tarja preta e ser vendido com retenção de receita (amarela).

      Mas parabéns, mais uma vez, a ilustração ficou realmente excelente! Você tem um dom. Mas como disse o sábio tio do homem aranha, um grande poder exige uma grande responsabilidade. Use seu poder com responsabilidade e não deixe pessoas semanas sem conseguir ler um texto por causa do poder entorpecente de suas ilustrações, sem aviso prévio. O mundo precisa de você. Beijos!

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