Tive a felicidade de participar de uma aula com o Moacyr Scliar no  Curso de Formação de Escritores e Agentes Literários (RIP), na Unisinos. Alegres parênteses na minha vida, que se abriram e se fecharam, mas que guardei em uma caixinha importante, colorida e bem decorada, junto com a cena literária gaúcha, as edições da Feira do Livro de Porto Alegre, as oficinas maravilhosas e gratuitas da Feira do Livro (reduz a Bienal a pó), os expoentes da literatura e da ilustração, que estarão para sempre no meu coração, fazendo rimas bregas com o ditongo nasal decrescente “ão”. 🙂

Esse é uma crônica dele de que gosto muito e que precisava compartilhar 🙂 .

 

A VIDA ENTRE PARÊNTESES

(Moacyr Scliar. Jornal Zero Hora, 05/02/1992)

Leitor pergunta por que uso tantos parênteses nas minhas crônicas (leitores inteligentes conseguem descobrir no texto particularidades significativas). A pergunta me fez pensar (não chega a ser um evento raro na minha existência, mas pensar entre parênteses não era algo que eu fizesse com freqüência). E então me dei conta de que os sinais gráficos, mais que as letras (por muito importantes que estas sejam), veiculam emoções. Quanta emoção numa exclamação! E pode haver dúvida maior que a do ponto de interrogação? Sobre isso sempre somos reticentes… Mas temos que admitir que certos sinais, como, por exemplo, a vírgula, esta pequenina serpente que, de espaço em espaço, atravessa o caminho, sempre acidentado, de nossa frase, é uma evidência, não muito clara, decerto, mas evidência, sim, de nossa indecisão.

Já os parênteses (a discussão a respeito foi propositalmente omitida no parágrafo anterior) têm uma significação (alguns não admitirão que é uma significação, mas enfim), os parênteses, dizia eu quando os parêntese me interromperam, traduzem não apenas uma forma de escrever, mas, (o que é mais importante), um modo de viver. Sim, porque se pode viver (ainda que não plenamente) entre parênteses. O garoto (ah, esses garotos) que no meio do tema se distrai pensando na sua coleguinha (aquela lindíssima) está vivendo entre parênteses. O executivo, que no meio da tarde (nessas horas que os americanos chamam de “menores” mas que para muitos são as maiores), sai para uma escapada (e deem a esta escapada a interpretação que vocês quiserem) está vivendo como? (a pergunta era para ficar soando retoricamente, mas não me furto a dar aqui a resposta: entre parênteses).

Sim, confesso: gosto de parênteses (deve ser uma espécie de perversão). Uma vez escrevi um livro chamado (O Ciclo das Águas). O título era assim mesmo, entre parênteses, (eu queria simbolizar com isto um ciclo fechado). Deu tanta confusão que, nas edições seguintes, tive de tirar os parênteses (para escapar dos parênteses, só mesmo assim, em novas edições. Lamentável é que a vida tenha uma única edição. Muitas vezes esgotada. Muitas vezes entre parênteses).

1 Comment on A vida entre parênteses

  1. Ola, tudo bem?
    Eu gostaria de ler os livros de Elizabeth George mais eu queria saber se os livros dela e bom e se ela e de Deus para eu poder ler.

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