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Estava me lembrando dia desses de um comportamento mucho loco que eu tinha há muitos anos, quando eu ainda não conhecia as coisas que conheço hoje e vivia feito um zumbi, movida por minhas emoções, como 98% da humanidade. Isso não faz mais parte da minha vida e hoje tenho verdadeiro horror a esse tipo de coisa. E, talvez por trauma, me policio para nunca mais ligar esse super drenador de energia, que vivia ligado 24 horas na minha cabeça. Mas se você ainda tem esse mau hábito, eu espero que meu relato o ajude a enxergar que isso não é uma coisa legal e que você tem o poder de excluí-lo de sua vida:

Se eu tivesse me encontrado com alguém e tido uma conversa qualquer, inevitavelmente, depois da conversa, passaria horas – ou dias – pensando “eu poderia ter dito isso” ou “eu deveria ter dito aquilo”. O que – descobri depois – era inútil, pois a conversa já tinha acontecido, a pessoa não estava mais naquele lugar e provavelmente nem se lembrava do diálogo. Mas eu estava lá, presa naquele lugar, falando com uma pessoa imaginária.

E pior ainda (talvez) eram as vezes em que eu criava diálogos na minha cabeça que ainda não tinham sequer acontecido. É a versão master-plus do “antecipar coisas ruins”. Eu imaginava a pessoa falando x, então eu respondia y. Ficava horas naquela discussão interminável e irritante, que nunca chegaria a lugar algum porque – obviamente – eu não estava falando com ninguém.

E as conversas nos grupos de discussão? Era muito comum eu me enfiar em alguma discussão na internet sobre qualquer coisa, a respeito da qual eu certamente tinha uma opinião muito firme, e entrar em um embate sem fim. Sentia um prazer meio mórbido na retórica. Eu amava aquilo. E odiava, também. Deixava minha resposta enorme e super bem articulada, desligava o computador e a discussão continuava na minha cabeça.

Eu ficava brava com a pessoa e iria defender meus argumentos até no inferno (às vezes meio que literalmente), e ficaria conversando com a pessoa dentro da minha cabeça, onde quer que eu fosse. “Se ela disser tal coisa, eu responderei isso…se ela disser aquilo, eu responderei aquilo outro”…e carregava o Hater comigo por todos os lugares, o que, obviamente, me deixava sempre estressada. Eu acho, sinceramente, que eu estava dando a maior corda para um ser invisível de outra dimensão, sugador de energia. Ele se alimentava da minha energia vital enquanto me fazia brigar com uma pessoa imaginária. Fiquei terrivelmente estressada, a ponto de adoecer. Uma das coisas mais burras que já fiz com a minha cabeça. Até hoje não sei como eu suportava.

Hoje em dia, eu não tenho mais esses espírito belicoso. Sim, eu tenho opiniões fortes. E sim, eu gosto de defendê-las e não tenho o menor problema em expor essas opiniões e meus argumentos. No entanto, eu não discuto mais. Não tenho saco para ficar batendo boca ad infinitum, nem com pessoas reais, muito menos com pessoas imaginárias. Se a pessoa estiver interessada em entender e aprender, meus argumentos estão todos à disposição. Porém, discutir opiniões é contra os meus princípios. Acho insuportável. Não discuto do lado de fora, mas também não discuto do lado de dentro. Se as conversas com pessoas imaginárias ameaçam aparecer, já corto imediatamente. Entrego para Deus e entendo que não posso mudar a opinião de ninguém que não esteja aberto a isso.

E quanto a reuniões e conversas que ainda vão acontecer, também não fico antecipando e imaginando que se a pessoa disser isso, eu direi aquilo. Simplesmente peço a Deus que me dê direção, que me dê sabedoria e me faça saber o que falar. E que tudo saia de acordo com o que Ele quer. E se depois eu me lembrar que não falei isso ou que devia ter falado aquilo, também não levo o pensamento adiante. Entendo que se eu entreguei a reunião a Deus, estava tranquila e, mesmo assim, não me lembrei de mencionar o assunto x, é porque ele não deveria ter sido abordado, mesmo. Se eu me lembrei e não falei, também não me torturo. Penso: “não falei porque escolhi não falar. Agora não posso mais reclamar”. E viro a página com facilidade.

As pessoas imaginárias agora conversam sozinhas com os seres sugadores de energia em uma dimensão paralela, porque comigo não têm mais assunto. Sem alimentá-las, minha cabeça ficou muito mais tranquila, sem aquela confusão de pensamentos inquietantes e sem jogar meu tempo na lata do lixo imaginando diálogos que nunca existiram. E garanto que 90% do estresse da minha vida foi embora só por me livrar desse hábito sugador de energia.

6 Comments on Não converse com pessoas imaginárias

  1. Também me identifiquei muito ,até estava pensando que era uma doença sei lá mas ,tudo melhora tudo passa .

  2. Meu caso é meio parecido, mas converso também assuntos banais, como se estivesse jogando conversa fora com pessoas conhecidas. Penso na pessoa e começo a bater papo, a pessoa me responde ou indaga e eu vou falando em pensamento. Às vezes me imagino em um debate sobre algum tema polêmico e acabo falando em voz alta e gesticulo, fico tão empolgada e irada … Somente depois brigo comigo mesma por estar vivendo algo imaginário. Sei lá se isso é loucura hehehe, mas desde a infância sempre tive muita imaginação e brincava sozinha imaginando estar com minha prima ou alguma outra criança que eu gostava.

  3. Muito bom texto; identifiquei-me porém, tenho problemas mais complexos: faço exatamente como vc fazia, mas aibda tenho uma sala de conferência, com inúmeros seres invisíveis. Estou batalhando contra isso. Seu relato ajudou-me em minha árdua labuta! Abraços! 😉

  4. Eu faço isso o tempo todo fico imaginando discussões que nunca aconteceram na minha cabeça, fico nervoso e estressado com isso, acaba que está sugando muito minha energia

  5. Oi Vanessa,

    Morri de rir com o seu texto. Me identifiquei demais. Eu fazia isso na minha adolescencia depois parei. Fiquei sem falar sozinha por muito tempo. Depois dos 40 isso voltou com toda forca! Talvez seja porque mudei para outro pais e me sinto sozinha, ai vem a necessidade de tagarelar o dia inteiro. No meu caso, eu nao preciso de uma briga. Quando eu terminei de ler o seu texto eu comecei a te responder em voz alta. Bom, ai eu parei e escrevi em vez de falar. Concordo com voce, se perde muita energia, tempo e eu fico estressa. Atualmente, estou trabalhando nisso. E quando eu comeco a falar eu pego meu tablet e escrevo. Foi assim que eu parei a primeira vez. Vamos ver se funciona agora! Abracos.

  6. Como esse texto me ajudou, Vanessa! Eu sempre me preocupo com uma conversa que tive com alguém, fico pensando no que deveria ter dito e não disse, no que vou dizer no caso de tocarmos no assunto novamente e em como me arrependo por ter dito algo que não deveria ter dito ( que eu acho que não deveria ter dito, porque às vezes a pessoa nem prestou atenção direito no que eu disse) e fico me martirizando por uma coisa tão pequena. Li esse texto ontem e quando um diálogo imaginário começou a se formar na minha cabeça hoje à tarde, mudei os pensamentos para o meu trabalho e me esforcei para não deixar a conversa doida ir adiante. Passei o restante do meu dia bem, deixei tudo nas mãos de Deus, não me estressei e evitei uma dor de cabeça, o que sempre acontecia quando eu deixava a conversa rolar na minha cabeça. Obrigada!

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