Jejum-de-Daniel

A vida moderna gira em torno de informação. Quando falo de “informação” não estou me referindo apenas a notícias, jornalismo ou livros. “Informação” é qualquer conteúdo a que você tenha acesso, não importa se útil ou inútil. Seu feed de notícias, a timeline da sua rede social, os milhões de negocinhos a que você se expõe para entretenimento: as músicas que ouve, os filmes a que assiste, os vídeos que vê no youtube, as novelas que acompanha na TV, os programas de auditório, enfim, tudo o que estimula seus sentidos e transmite dados para o seu cérebro.

Em teoria, estimular sentidos e transmitir dados é uma coisa boa. Cansei de falar das vantagens de ler e sou amiga de novidades, de descobertas, aprender coisas, conhecer novos lugares e comer coisas diferentes. Porém, nossa sociedade já cruzou a linha do bom senso nesse aspecto há muito tempo. Hoje, não há limites para coisa nenhuma. Como consequência, você mergulha em uma sobrecarga de estímulos e não se dá conta do que isso faz com a sua cabeça e com a sua vida.

O excesso de informação hoje é um problema crônico da nossa sociedade. É o responsável por grande parte dos casos de ansiedade que lotam consultórios e enchem os bolsos dos fabricantes de psicofármacos. Quando são expostas a uma quantidade absurda de informação, como acontece diariamente, as pessoas não conseguem processá-las. Isso diminui a capacidade analítica, como se a mente fosse um processador sobrecarregado. Não dá tempo de analisar, não há espaço para pensar. Isso também aumenta a ansiedade, pois você sempre tem a impressão de estar desatualizado e perdendo alguma coisa. Também aumenta as dúvidas, pois quanto mais se expõe a informações, mais decisões precisa tomar. Algumas informações conflitam com outras, e, com a capacidade analítica mais baixa, você não tem ferramentas para analisar o que faz sentido e o que não faz. Se as dúvidas estão em alta, a ansiedade vai aumentar ainda mais. E a pessoa entra em uma bola de neve que, como toda boa bola de neve, só vai aumentando, aumentando, aumentando…  O psicólogo britânico David Lewis chama isso de “Síndrome da Fadiga Informativa”.

Paradoxalmente, o excesso de informações nos torna mais superficiais. Sem ter como processar tantos dados, não analisamos quase nada e aqueles estímulos, em vez de nos ajudar, causam curtos-circuitos. A única maneira de não entrar nessa loucura é saber selecionar o que vai entrar na sua mente e o que vai tomar o seu tempo, com base na resposta a uma pergunta muito pessoal: “o que eu quero para a minha vida?”. O problema é que não é possível fazer esse tipo de análise com um monte de entulhos emaranhados em sua cabeça. A melhor maneira de parar com essa loucura alimentada por emoções, sensações e instintos é usar seu poder de decisão e…parar com essa loucura! Aí você vai descobrir que era meio que viciado no negócio todo e pode ter sérias crises de abstinência. Portanto, melhor do que cortar completamente algo que fazia parte integrante de todas as horas, minutos e segundos de sua vida é substituir esses velhos hábitos por novos hábitos. E essa é a proposta do jejum que eu faço de tempos em tempos. Na primeira vez, fiz sozinha. Da segunda vez, aproveitei o  surgimento do primeiro Jejum de Daniel, fazendo algo mais consciente. Desde então, acho que já foram umas oito vezes nos últimos quatro anos. É um período Detox mental.

Como toda a nossa sociedade foca excessivamente nos estímulos emocionais e físicos, durante 21 dias nos focamos em estímulos espirituais, ou seja, a parte mais trabalhada é a mente. Por isso o Jejum de Daniel é muito mais eficiente do que um jejum de informações genérico. A ideia não é apenas cortar o excesso de informações, porque se você não fortalecer seu espírito, quando acabar o jejum não vai conseguir se controlar para usar as fontes de informação; voltará a ser usado por elas.

No Jejum de Daniel não nos abstemos de informações. Nos abstemos apenas das informações seculares, isto é, das informações que não tenham conteúdo cristão. Livros com conteúdo espiritual cristão, filmes cristãos, blogs e vídeos com essa mesma filosofia são “liberados” nessa dieta de 21 dias. Como a oferta desse conteúdo é bem menor, conseguimos tempo e paz de espírito para analisar o que estamos consumindo. Será que esse livro cristão é realmente cristão? O que esse filme está querendo ensinar realmente faz sentido? Perguntas que não nos fazíamos antes começam a ser introduzidas ao nosso dia a dia.

Incluímos alguns tipos de meditação em nossa rotina: fazemos orações sinceras e orgânicas (não religiosas) a Deus, meditamos em trechos bíblicos, buscamos o preenchimento interior com o Espírito Santo por meio de orações e de reuniões especiais. Cremos que, ao nos encher do Espírito de Deus, teremos autocontrole, teremos mais amor pelos outros, nos aproximaremos de Deus e poderemos ajudar outras pessoas que hoje estão sofrendo. Se a maioria da população tivesse os padrões de pensamento de Deus e visse as pessoas como Ele vê, teríamos um mundo mais justo e menos hipócrita. Com certeza, teríamos muito menos religiosos sendo reverenciados, e muito mais excluídos sendo ajudados.

Outra coisa, não adianta passar 21 dias lendo a Bíblia e se juntar aos colegas no intervalo para fofocar e falar abobrinha. O Jejum é um período em que você alimenta o seu relacionamento com Deus, logo, deve evitar conversas fúteis, que nada têm a ver com Ele. Alguém já imaginou Jesus de fofoquinha nos corredores da empresa ou falando do colega de forma maldosa? Se isso faz parte de sua rotina, aproveite para desintoxicar disso também. São péssimos hábitos, aparentemente “inocentes”, mas que fazem mal a quem pratica.

Por tudo isso que expliquei, o Jejum é, também, um período para você aprimorar sua capacidade analítica atrofiada. Temos algumas ideias básicas sobre o que é o Jejum e como fazê-lo (clique aqui, se passou batido pelo link para a página que explica tudo), mas você vai usar as informações sobre qual é o objetivo do Jejum para, com bom senso, saber o que deve ou não fazer. No começo, você pode se sentir meio perdido e sem saber o que fazer, como se um buraco tivesse sido aberto em sua rotina. Também pode se sentir um ET por não jogar os joguinhos que todo mundo está jogando, por não ver TV quando todo mundo está vendo ou por não ter as conversas diárias que costumava ter no Whatsapp, Facebook e outros comunicadores (algumas pessoas podem até cobrar ou se indignar, como se fossem donas do seu tempo). Mas essa sensação de “etezice” também é importante. Se desconectar deste mundo por um período é absolutamente necessário para conseguir o distanciamento que você precisa ter caso queira aprender uma forma de viver por conta própria, diminuindo a influência da mídia, da propaganda e do espírito deste mundo.

Tudo é uma questão do que você quer para a sua vida. Há algum tempo eu fiz uma escolha. Optei por ser útil, por ser diferente, por quebrar o ciclo destrutivo na minha vida. Por ser feliz em um mundo de infelizes; por ser alegre em um mundo de tristeza; por ser cor em um mundo cinza; por ser luz em um mundo escuro; por ser completa em um mundo vazio; por ter certezas em um mar de dúvidas; por doar em um mundo de tomadores; por me desenvolver em um mundo de estagnação espiritual. Optei por nadar contra a corrente, por ver possibilidades em um mundo de impossibilidades. Optei por tomar a pílula vermelha que me permitiria conhecer a verdade e entender o mundo além da máscara que ele usa. Não é fácil. Não é lá muito confortável. Mas é a porta para sair dessa loucura e retomar algum controle sobre o nosso futuro – não apenas neste mundo, eu creio.

 

PS: Eu irei escrever no blog durante esses 21 dias, falando sobre a experiência do Jejum (para ninguém achar que todos os participantes ficam pisando em nuvens e ouvindo coros celestiais enquanto só você enfrenta dificuldades nesse período) e as coisas que – tenho certeza – vou aprender e passar a vocês. Serão 21 dias de conteúdo analítico sob o ponto de vista de uma mente cristã. E pretendo fazer as resenhas de livros bíblicos que muita gente me pediu para continuar fazendo. Provavelmente os posts não serão tão longos quanto este, porque meu tempo está beeeem reduzido, mas farei o melhor para ter neste blog um conteúdo útil para ajudar a todos nós.

 

 

6 Comments on Jejum de informações, Jejum de Daniel – Por que fazer?

  1. Nunca tinha ouvido falar da “Síndrome da Fadiga Informativa”, mas é bem isso mesmo… São tantas informações, tantas coisas novas o tempo todo, que há momentos que nos deparamos com pensamentos angustiantes do tipo: “Eitaaaa… o que eu faço agora?”.

    Aceitar o desafio de ficar 21 dias longe de toda essa sobrecarga e desenvolver hábitos novos e saudáveis, é uma atitude inteligente e de coragem, que com toda certeza nos torna pessoas melhores em todos os sentidos.

    • Acho que a gente “sai da Matrix”, literalmente, Ana. Eu já sofri dessa síndrome, em uma época em que tínhamos muito menos informação sendo atirada na nossa cara. Imagino só o que não sofre o pessoal mergulhado nisso hoje em dia. Acho que o cérebro entra em curto e se recusa a funcionar. Por isso vemos tanta gente com preguiça de pensar por aí. Eles só repetem os pensamentos dos outros, argumentos que não foram desenvolvidos por eles, que nem sequer conseguem sustentar. Li um pesquisador certa vez (ainda vou escrever sobre isso) dizendo que muitos não conseguem focar atenção em nada por mais de três minutos, e mesmo durante esses três minutos, a atenção é superficial. Isso está criando um exército de pessoas superficiais. Depois as pessoas não entendem a razão de eu dizer que não desejo este mundo para ninguém…

      Beijos!

  2. Oi Vanessa! 🙂
    Seu post realmente é revolucionador, porque além de nos fazer ter uma ideia CLARA do que é o Jejum de Daniel, conseguimos entender também o porque é tão importante e porque deveríamos fazê-lo. Concordo, por experiência, que se nos analisarmos, todo esse excesso de informação não útil e que vem de todos os lados, nos deixa atordoadas, como se tivesse uma bagunça na mente, e que quando as cortamos é como se espaços fossem ficando vazios na nossa cabeça 🙂
    Mas o final do seu post foi o que mais me chamou a atenção. É uma questão de inteligência e de personalidade também aceitar o desafio de fazer o Jejum, mas que vale (muito!) a pena, por que não estamos só nos esvaziando, mas sim enchendo de algo que traz realmente sentido a nossa vida, algo que nos faz ter vontade de viver, de ser e de fazer; é a força, proteção e o amor de Deus que se torna mais claro e nítido nesse período, onde nos voltamos com mais força e verdadeira atenção à Ele.
    Muitos beijos com carinho!

  3. Oi Vanessa, que legal vc vai escrever no blog durante os 21 dias de jejum 🙂
    Já estou ansiosa para ler as resenhas dos livros.

  4. Bom dia Vanessa! Como sempre me surpreendendo com suas analises. Estarei junta com você, me alimentando de um conteúdo verdadeiramente cristão. Aprendo muito com a sua forma de abordar os assuntos. Obrigada, que Deus a abençoe.

  5. Bom dia Vanessa!! Como sempre me surpreendendo com suas analises. Estamos juntas nessa fé, buscar não só nesse período, ser melhores do que o mundo quer que sejamos. Obrigada pelas postagens, aprendo muito pela forma que aborda os assuntos. Que Deus a abençoe. Abraço.

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