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Quanto mais o tempo passa, mais me convenço de que uma massa cada vez maior de brasileiros vive no modo zumbi, dirigido pela mídia. Aquela, que diz a quem você deve odiar, a quem você deve amar, de qual filme você deve gostar e o que deve vestir. Pois é. Ela, que passou meses dizendo que o Brasil estava acabando, que o mundo estava desabando e que estávamos à beira do caos. 

E agora, com a crise econômica, o cenário político instável, empresas demitindo e uma epidemia de doenças virais transmitidas por um mosquito que ninguém consegue controlar, a mídia manda todo mundo parar e “cair na folia” (“folia”…quem usa essa palavra em 2016?) — e o brasileiro, ontem tão indignado com os problemas do país, simplesmente obedece.

Não acho que ficar reclamando do governo resolva alguma coisa (muito pelo contrário…), mas estranho a mudança brusca de atitude nessa época do ano. Todo mundo interrompe a vida pra “festejar” (o quê?) e encher as ruas de lixo para juntar água e criar Aedes aegypti.

A primeira vez que passei por São Paulo, em uma viagem de ônibus interestadual, vi restos de carros alegóricos jogados em um terreno, apodrecendo a céu aberto. Isso foi no final da década de 90. Quando me mudei para cá, cinco anos atrás, vi a mesma cena, em um terreno maior na Barra Funda, na rua Abrahão Ribeiro. Elefantes gigantes de isopor se decompuseram diante dos olhos de quem quisesse ver, o ano inteiro. Com eles, todos os demais carros alegóricos do carnaval anterior.

Muda o prefeito e tudo continua igual. Ano após ano, essa situação se repete. Aquele terreno na Abrahão Ribeiro agora abriga a construção da tal “Fábrica do Samba”, erguida com dinheiro público pela prefeitura de São Paulo (e nem adianta xingar só o PT, a obra foi iniciada na gestão anterior), mas o lixo do carnaval continua jogado atrás de um muro na marginal Tietê, a céu aberto, juntando água para mosquito da dengue.

Mosquito esse que também tem transmitido o Zika, vírus que causa microcefalia em fetos e, aparentemente, outras sequelas neurológicas. Apesar de essa informação não ter sido devidamente divulgada ainda, o vírus também é sexualmente transmissível. E o carnaval, você sabe, é aquela “festa” em que todo mundo fica com todo mundo e o sexo rola solto, junto com muito álcool e mentes vazias.

Apesar das campanhas que pedem uso de preservativo, sejamos honestos: que pessoa bêbada se lembra de preservativo? O álcool mata neurônios e inibe o raciocínio, além de prejudicar a coordenação motora. Ou seja, as campanhas são só para inglês ver (assim como as outras campanhas “educativas” para carnaval, como “se beber, não dirija” ou “diga não ao assédio”).

Agora, olha que linda combinação: criamos Aedes aegypti o ano inteiro dentro de cabeças gigantes de monstros de isopor semidecompostos e, agora que estão fortinhos e cheios de Zika, picando todo mundo, vamos fazer uma festa em que um bando de gente bêbada fica pulando ao som de tambores e fazem sexo para espalhar mais vírus por aí (fora o HIV, HPV e tantos outros que estão no menu do carnaval)…. Oi? Não faz sentido.

Assim como não faz sentido, para a minha cabeça (racional demais), que um país pare durante quase uma semana. Você quer seguir a vida normalmente, mas não pode porque está tudo fechado, todos em recesso. E a mídia (na verdade, quem a controla) não está nem aí. Na quarta-feira de cinzas, depois de todos os acidentes nas estradas, de todos os assassinatos em bailes de carnaval, depois de todas as infecções por vírus, de todos os acidentes nas ruas, de todos os comas alcoólicos, de todos os estupros e traumatismos cranianos, quem sobreviver vai à missa receber cinza na testa e está tudo ok.

Aí, provavelmente, vai voltar a posar de defensora da honestidade e dos bons costumes, alardeando a corrupção do partido X, do partido Y, dos políticos, dos empresários e de quem o mestre mandar, mas sem criar celeuma em torno da corrupção que corre solta no carnaval brasileiro. Não entra na minha cabeça fazer a cobertura de um evento financiado pelo crime organizado, vender a “festa” para o público como se fosse uma grande celebração de alegria enquanto sabe o que, de fato, está rolando ali.

Sei que as pessoas usam o carnaval como válvula de escape, assim como usam as baladas de final de semana e toda a lista interminável de entretenimento que a nossa sociedade tenta nos convencer de que precisamos. Mas enfiar a cabeça em um buraco no chão não vai resolver os problemas. A sensação de bem-estar é temporária (se é que existe) e pode ter resultados catastróficos, se a pessoa estiver dentro das estatísticas de desgraças que, depois do feriado, a mídia inevitavelmente vai divulgar.

A hipocrisia não é exclusividade dos religiosos. Ela faz parte da vida daqueles que optaram por viver de acordo com o que sentem, de acordo com suas vontades e com aquilo que lhes é conveniente, sejam eles religiosos, ateus ou da coluna do meio.

Quanto mais o tempo passa, mais percebo que, com o mundo do jeito que está, vale a pena assumir a esquisitice e ser um alienígena por aqui. Não faço a menor questão de participar da cultura do “esqueci o cérebro em casa e coloquei uma televisão no lugar”.

PS: lixocar3O terreno foi parcialmente limpo, para receber o lixo do carnaval atual, mas ainda é possível ver restos de carros alegóricos do carnaval anterior, apodrecendo a céu aberto. Nosso amigo A. aegypti manda beijos.

PS2: Ah, e a mídia está tri feliz, anunciando a chegada de turistas do mundo inteiro, que vieram para ser picados pelo Aedes aegypti e levar a praga da Zika para o resto do globo. Uhu! Vamos espalhar uma doença horrorosa para todos os continentes. Isso, sim, é diversão.

PS3: Não vamos nos esquecer de outro efeito colateral do sexo (principalmente feito sem camisinha, com álcool e sem cérebro): a gravidez! Isso, aquele negócio que, misturado com o Zika vírus (sempre ele) traz bebezinhos microcéfalos ao mundo. É hora de comemorar?

8 Comments on Os mosquitos e as cabeças gigantes de isopor

  1. Bom dia, Vanessa…!!! Expresso aqui a minha indignação também, pois me parece que realmente estamos vivendo em um mundo de descerebrados, ou talvez no mundo dos televisivos. Como você, de forma inteligente, observou: esquecem os cérebros, mas não as televisões. Gosto quando você fala que somo “ALIENÍGENAS”. Na verdade somos sim, pelo que cremos, pelo que vivemos e pelo que pregamos. Ser inteligente, racional, equilibrado, maduro, coerente, … etc, são características de pessoas (ou ET’S) que , verdadeiramente, não combinam com esse mundo em que vivemos. Mas, … graças a DEUS por isso…!!! Continuemos a nossa caminhada rumo ao mundo que não tem nada, absolutamente, a ver com esse daqui. Um abraço e que DEUS te abençoe…!!!

  2. A indignação é grande, mas o viver à base de sentimentalismo impera no mundo e anestesia a mente das pessoas, você mostra a realidade, mas é bem da forma como você colocou, perto dos foliões “somos alienígenas”.
    O pior de tudo é que isso não terá fim e a tendência é piorar, infelizmente.

  3. Infelizmente, o mundo de hoje em dia acha que prazeres temporários que trarão péssimos resultados mais tarde como : DOENÇAS, DESGRAÇAS, ACIDENTES E ETC … são mais valiosos que o cérebro delas. Não consigo entender o que todo ano essas pessoas comemoram, ficar pulando e celebrando o que ?!
    Eu te entendo vanessa , para esse mundo burro e esquisito, nós somos de outro planeta, porque não fazemos parte do mundo feito de pessoas “zumbis” deles, somos de outro planeta sim, dos que pensam !
    APROVEITANDO, QUERIA PERGUNTAR SE VOCE TEM ALGUMA PREVISÃO PARA VOLTAR A ESCREVER DICAS DE LIVROS E AQUELA SÉRIE, LIVROS NÃO SÃO O QUE PARECEM ?
    obrigado .

  4. As pessoas tem uma personalidade tão definida nas redes sociais quanto a determinados assuntos, que se elas tivesse essa mesma personalidade na vida “offline” com certeza não seriam enganadas por essas comemorações feitas em um mundo em caos.

  5. Vanessa, esqueci de mencionar sobre o outro “trabalho” q a mídia e os outros meios estão fazendo com as crianças. Em toda a programação dos canais infantis só fala disso! A criança na folia, a fantasia pro bailinho pra não sei o q…
    Na escola é a mesma coisa!
    Eu nem consigo descrever o tamanho da minha indignação!!!
    Tenho uma filha de 04 anos q fica perguntando pela fantasia de carnaval, eu tento explicar, mas é uma briga desleal. Isso pq eles transformam tudo em um “sonho” e vendem tudo como algo muito inocente e saudável.
    Nessas horas eu me arrependo muito de ter trazido minha filha a esse mundo podre…e por muito amá-la não devia ter engravidado.

  6. E sem contar q muitos desses bebezinhos vão nascer sem pai,pq normalmente a mãe não sabe pra quem foi q ela “deu”…ou talvez nem se lembre..e se ela resolver criar, normalmente cresce de qq jeito, em meio à violência de toda natureza.
    Mas é carnaval, a festa da alegria!!!!!
    Oi?

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