Abrir mão da própria vida, no cristianismo, não é amarrar explosivos ao corpo e explodir sinagogas. Abrir mão da própria vida é, voluntariamente, deixar velhos hábitos, pensamentos e reações para agir de acordo com a justiça e os princípios éticos da Palavra de Deus. Aí o crente lê isso e já pensa: “ah, isso eu já fiz! Já parei de usar drogas, de beber, de fazer isso e aquilo…já larguei a prostituição, a vida do crime e hoje faço x, y e z na igreja”. E a criatura realmente acha que isso é abrir mão da própria vida…

Mudança de hábitos não é mudança de caráter. O que a gente mais vê por aí é crente que tem toda a aparência e fala evangeliquês, mas destila crueldade, preconceito e malícia. Tudo porque nunca entregou porcaria nenhuma. Ou melhor, só entregou porcaria. A vida, mesmo, que é bom, nada. Eu já fui uma dessas. 

Das coisas ruins, a gente abre mão com facilidade. O problema é abrir mão das coisas boas. Quando entendi que tinha que entregar toda a minha vida a Deus, entendi também que o que valesse a pena manter, Ele mesmo colocaria de volta, mas agora, no seu devido lugar. Fiz o que nunca havia feito. Abri mão até do que eu mais gostava, que era escrever. Estava há um tempo sem escrever (porque estava doente), então vivia ansiosa por retomar essa parte da minha vida que era tão importante para mim e para a qual eu tinha me preparado tanto. Mas quando decidi entregar minha vida, entreguei também aquela ansiedade. Estava disposta a não ser mais escritora, se Ele achasse que era melhor.

Parei de frequentar redes sociais, deixei meu blog às moscas e interrompi todos os projetos ligados a escrita. Não fazia sentido decidir nada para a o meu futuro naquele momento se estava entregando tudo. Já estava doente e parada, mesmo, então entreguei absolutamente tudo. Minhas convicções antigas e recentes, minhas decisões, meu passado, presente, futuro, as coisas que eu havia aprendido nas outras igrejas e também na Universal (nessa época, eu já tinha dez anos de Universal e a vida inteira de cristianismo), as dúvidas, o meu jeito, meus hábitos, vontades e relacionamentos.

De algumas coisas eu realmente gostava, mas como já estava de saco cheio de viver aquela mesma vidinha complicada que de tempos em tempos simplesmente travava em depressão, entendi que nenhum preço era alto demais a se pagar. Afinal de contas, o que estava em jogo era muito maior e mais duradouro do que qualquer coisa que eu tinha para entregar.

Esse foi o começo de tudo. Quando decidi zerar tudo e agir como se estivesse chegando agora. Admiti que se eu tivesse entendido alguma coisa direito antes, minha vida não estaria daquele jeito. Se estava, era porque eu tinha entendido tudo errado. Então, era hora de começar a acertar.

Não é difícil fazer isso. É parecido com morrer. Se eu decido morrer, nada mais me importa. Não se leva nada para o além. Então, o que você deixaria para trás se morresse é exatamente o que precisa deixar para trás para nascer de Deus e receber o Espírito Santo, vivendo uma nova vida neste mundo. Mas isso exige uma dose considerável de confiança, não é? E é justamente isso que faz a diferença.

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2 Comments on Abrindo mão da própria vida

  1. Muito forte Vanessa , amo seus posts que são bem diretos e práticos.Epero por mais posts nesse jejum, vamos abrir mão pelo melhor de Deus!

    Bjs.

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