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Identificando a voz do gremlin — Parte 3 

Além de serem centralizados no “eu” e de terem forte componente emocional negativo, outra característica importante de grande parte dos pensamentos prejudiciais é a presença de adjetivos negativos. Exemplo: horrível, terrível, insuportável, incapaz, impossível etc. Faz parte do drama. Ou é o material de construção do drama. Nem todos vêm com adjetivos, mas é muito comum que venham e já vou explicar por quê.

Adjetivite negativus é uma doença gravíssima (que eu acabei de inventar) que gera na pessoa uma compulsão por rotular tudo e todos com um adjetivo negativo desnecessário, deixando tudo pior do que já é.

Não foi simplesmente o atendente da lanchonete que trouxe com bacon o sanduíche que você pediu sem bacon. Foi o atendente burro da lanchonete horrorosa que trouxe com um bacon nojento o sanduíche que você pediu. A essa altura do campeonato, um problema que seria naturalmente ruim, já se tornou um desastre.

As coisas acabam sendo mais pesadas do que deveriam ser e esse é um tijolinho no grande edifício do estado de drama, da depressão, da ansiedade e da sensação generalizada de que nada nunca vai dar certo. E esses são alguns dos muitos estragos que essa doença causa na pessoa. Pensamento negativo gera vida negativa. 

Sem contar quando esses adjetivos negativos vêm relacionados a você mesmo: burro, inútil, idiota, incompetente, incapaz, inferior, etc. Só servem para colocá-lo para baixo e enfraquecer seu espírito. Vai por mim, você não precisa disso.

Vamos ao nosso amigo dicionário: 

Adjetivo: Palavra que modifica um substantivo, expressando uma qualidade, uma característica ou uma quantidade daquilo a que se refere.

Note que o adjetivo não é um elemento neutro. Ele modifica o substantivo. Algo que tinha um significado sem o adjetivo, adquire um novo significado com o adjetivo. Uma menina é apenas uma menina. Mas se você coloca um adjetivo, ele modifica a menina aos seus olhos e aos olhos da gramática: menina bonita é diferente de menina feia, que é diferente de menina burra, que é diferente de menina inteligente, que é diferente de menina ridícula, que é diferente de menina alta, etc. “Um carro” pode ser qualquer carro. Mas um carro azul é específico. E é diferente de um carro verde, que é diferente de um carro vermelho…

Adjetivos são assim, diferenciam as coisas, as pessoas e as situações. Eles podem ser negativos ou positivos, mas não acredito em adjetivos neutros. Carro azul é neutro? Depende do contexto. Se você gosta de azul, ele é melhor que um carro de outra cor. Mas se você não gosta de azul, ele é pior. Talvez a palavra “neutro” pudesse ser um adjetivo neutro. Mas se você pensar bem, quando eu digo que algo é neutro, de alguma forma é um rótulo que faz você enxergar esse algo de uma maneira específica, não?

Enfim, quando coloca um adjetivo, você dá ao adjetivado algo que vai fazer com que ele tenha um peso diferente do que teria sem o adjetivo. Adjetivos, em si, não são necessariamente ruins. Eles nos ajudam a definir melhor o mundo e, por isso, devem ser muito bem escolhidos. O problema não é o adjetivo, em si. O problema são adjetivos negativos utilizados sem critério (e quase compulsivamente) em nossas palavras ou pensamentos.

A adjetivite negativus é transmitida por picada de gremlin. Assim que o monstrinho que vive empoleirado no seu ombro começa a sugerir pensamentos negativos na sua cabeça e você os aceita como verdade, ele inocula um veneno que faz com que tudo comece a ser pintado com as cores que ele escolher.

Alguns pensamentos gremlinianos vêm recheados de adjetivos negativos justamente porque eles precisam modificar sua visão a respeito das situações, pessoas, eventos e de si mesmo. E, para modificar a visão (para o bem ou para o mal), o primeiro passo é modificar as palavras usadas para definir a coisa retratada.

Ao usar palavras negativas para definir algo, você direciona sua interpretação para o lado negativo — por isso é importante cuidar as palavras que saem da sua boca ou para as quais você faz um ninhozinho na sua cabeça. Você pode escolher quais vai manter e quais vai rejeitar.

O direcionamento de interpretação pode ser feito tanto por meio dos adjetivos negativos quanto pela presença de termos definitivos e generalizações. Mas isso é assunto para outro post. 🙂 .

Parte 1: Tudo eu

Parte 2: Pensamentos gerados por sentimentos.

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*Para quem está chegando agora: “gremlin” é como chamo os monstrinhos invisíveis que imagino sentados em nossos ombros sugerindo pensamentos negativos. Eu os imagino com aquela cara dos monstrinhos do filme Gremlins, principalmente para não querer um troço desses no meu ombro. 

 

2 Comments on Adjetivite negativus aguda

  1. Acompanhando todos os textos dessa série. A mudança é difícil, mas tão simples e clara que quando estamos deixando a mente ser guiada pelos gremlins não conseguimos ver nem o primeiro passo a ser dado.

    Um, beijo, Vanessa! 😀

  2. Muito bacana eu estou realmente trabalhando em relação a isso …Evito falar coisas negativas sobre mim e quando vem algo em relação as outras pessoas também não comento e tiro logo dá mente com algum pensamento positivo a outra pessoa.
    Adjetivite negativus é uma doença gravíssima (que eu acabei de inventar) haha com certeza doença terrível ainda bem que tem cura .Um forte abraço !!!

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