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ELEIÇÕES 2010 E OS APROVEITADORES DA BOA FÉ E DA CREDULIDADE EVANGÉLICA

UPDATE: Se em 2010 não havia ainda um candidato adequado aos valores cristãos, em 2018 os candidatos de esquerda tiraram a máscara se mostraram abertamente contrários aos evangélicos, motivo que me fez mudar completamente minha opinião, principalmente a respeito do PT. Vou manter os textos da época aqui, como registro histórico, mas que fique claro que, conforme me informei mais a respeito das bases dos partidos de esquerda, percebi o quanto eu fui ingênua nas cinco eleições presidenciais em que dei meu voto ao PT. Nunca mais. Se quiser saber mais, clique aqui para ler o texto que escrevi sobre as eleições de 2018.

Texto original no site da segunda igreja Presbiteriana de Belo Horizonte: Clique para ler.

Rev. Sandro Amadeu Cerveira (02/10/10)

 

Talvez eu tenha falhado como pastor nestas eleições. Digo isso porque estou com a impressão de ter feito pouco para desconstruir ou no pelo menos problematizar a onda de boataria e os posicionamentos “ungidos” de alguns caciques evangélicos. [1]

Talvez o mais grotesco tenham sido os emails e “vídeos” afirmando que votar em Dilma e no PT seria o mesmo que apoiar uma conspiração que mataria Dilma (por meios sobrenaturais) assim que fosse eleita e logo a seguir implantaria no Brasil uma ditadura comunista-luciferiana pelas mãos do filho de Michel Temer. Em outras o próprio Temer seria o satanista mor. Confesso que não respondi publicamente esse tipo de mensagem por acreditar que tamanha absurdo seria rejeitada pelo bom senso de meus irmãos evangélicos. Para além da “viagem” do conteúdo a absoluta falta de fontes e provas para estas “notícias” deveria ter levado (acreditei) as pessoas de boa fé a pelo menos desconfiar destas graves acusações infundadas. [2]

A candidata Marina Silva, uma evangélica da Assembléia de Deus, até onde se sabe sem qualquer mancha em sua biografia, também não saiu ilesa. Várias denominações evangélicas antes fervorosas defensoras de um “candidato evangélico” a presidência da república simplesmente ignoraram esta assembleiana de longa data.

Como se não bastasse, Marina foi também acusada pelo pastor Silas Malafaia de ser “dissimulada”, “pior do que o ímpio” e defender, (segundo ele), um plebiscito sobre o aborto. Surpreende como um líder da inteligência de Malafaia declare seu apoio a Marina em um dia, mude de voto três dias depois e à apenas 6 dias das eleições desconheça as proposições de sua irmã na fé.

De fato Marina Silva afirmou (desde cedo na campanha, diga-se de passagem) que “casos de alta complexidade cultural, moral, social e espiritual como esses, (aborto e maconha) deveriam ser debatidos pela sociedade na forma de plebiscito” [3], mas de fato não disse que uma vez eleita ela convocaria esse plebiscito.

O mais surpreendentemente, porém foi o absoluto silêncio quanto ao candidato José Serra. O candidato tucano foi curiosamente poupado. Somente a campanha adversária lembrou que foi ele, Serra a trazer o aborto para dentro do Sistema Único de Saúde (SUS) [4]. Enquanto ministro da saúde o candidato do PSDB assinou em 1998 a norma técnica do SUS ordenando regras para fazer abortos previstos em lei, até o 5º mês de gravidez [5]. Fiquei intrigado que nenhum colega pastor absolutamente contra o aborto tenha se dignado a me avisar desta “barbaridade”.

Também foi de estranhar que nenhum pastor preocupado com a legalização das drogas tenha disparado uma enxurrada de-mails alertando os evangélicos de que o presidente de honra do PSDB, e ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso defenda a descriminalização da posse de maconha para o consumo pessoal [6].

Por fim nem Malafaia, nem os boateiros de plantão tiveram interesse em dar visibilidade a noticia veiculada pelo jornal a Folha de São Paulo (Edição eletrônica de 21/06/10) nos alertando para o fato de que “O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, afirmou nesta segunda-feira ser a favor da união civil e da adoção de crianças por casais homossexuais.” [7]

Depois de tudo isso é razoável desconfiar que o problema não esteja realmente na posição que os candidatos tenham sobre o aborto, união civil e adoção de crianças por homossexuais ou ainda a descriminalização da maconha. Se o problema fosse realmente o comprometimento dos candidatos e seus partidos com as questões acima os líderes evangélicos que abominam estas propostas não teriam alternativa.

A única postura coerente seria então pregar o voto nulo, branco ou ainda a ausência justificada. Se tivessem realmente a coragem que aparentam em suas bravatas televisivas deveriam convocar um boicote às eleições. Um gigantesco protesto a-partidário denunciando o fato de que nenhum dos candidatos com chances de ser eleitos tenha realmente se comprometido de forma clara e inequívoca com os valores evangélicos. Fazer uma denuncia seletiva de quem esta comprometido com a “iniqüidade” é, no mínimo, desonesto.

Falar mal de candidato A e beneficiar B por tabela (sendo que B está igualmente comprometido com os mesmo “problemas”) é muito fácil. Difícil é se arriscar num ato conseqüente de desobediência civil como fez Luther King quando entendeu que as leis de seu país eram iníquas.

Termino dizendo que não deixarei de votar nestas eleições.

Não o farei por ter alguma esperança de que o Estado brasileiro transforme nossos costumes e percepções morais em lei criminalizando o que consideramos pecado. Aliás tenho verdadeiro pavor de abrir esse precedente.

Não o farei porque acredite que a pessoa em quem votarei seja católica, cristã ou evangélica e isso vá “abençoar” o Brasil. Sei, como lembrou o apóstolo Paulo, que se agisse assim teria de sair do mundo.

Votarei consciente de que os temas aqui mencionados (união civil de pessoas do mesmo sexo, descriminalização do aborto, descriminalização de algumas drogas entre outras polêmicas) não serão resolvidos pelo presidente ou presidenta da república. Como qualquer pessoa informada sobre o tema, sei que assuntos assim devem ser discutidos pela sociedade civil, pelo legislativo e eventualmente pelo judiciário (como foi o caso da lei de biossegurança) [8] com serenidade e racionalidade.

Votarei na pessoa que acredito representa o melhor projeto político para o Brasil levando em conta outras questões (aparentemente esquecidas pelos lideres evangélicos presentes na mídia) tais como distribuição de renda, justiça social, direitos humanos, tratamento digno para os profissionais da educação, entre outros temas. (Ver Mateus 25: 31-46) Estas questões até podem não interessar aos líderes evangélicos e cristãos em geral que já ascenderam à classe média alta, mas certamente tem toda a relevância para nossos irmãos mais pobres.

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NOTAS

[1] As afirmações que faço ao longo deste texto estão baseadas em informações públicas e amplamente divulgadas pelos meios de comunicação. Apresento os links dos jornais e documentos utilizados para verificação.

[2] Hospital da Alma – o cristão verdadeiro não deve votar na Dilma

[3] Último Segundo – Marina rebate declarações de Silas Malafaia


Ver também

Líder evangélico ataca Marina

 

[4]Serra é o único candidato que já assinou ordens para fazer abortos quando ministro da saúde 

[5] CFMEA Norma técnica

[6] Gazeta do povo – Intelectuais pedem legalização da maconha

[7] Serra se diz a favor da adoção de crianças por gays

[8] Eclesia – Revista

Fonte: Segunda Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte

2/10/2010

PS: Não se esqueçam de divulgar a lista de emails falsos contra a Dilma, com os links para os textos que provam que são falsos, estou atualizando à medida em que recebo novos hoaxes. Clique aqui para ver

PS2: Também deixo a minha carta aos evangélicos, explicando que ainda que você acredite abortar é pecado e quem faz vai para o inferno ou que casamento homossexual é pecado e aceitá-lo é contra os princípios cristãos, e ainda se Dilma fosse a favor de implementar tudo isso, não seria motivo para celeuma ou para não votar nela. Clique aqui para entender o porquê.

 

PS3:Votar nulo ou em branco não é opção, é omissão. Você está entregando o país à escolha dos outros, e sofrerá as consequências da escolha alheia. Seja consciente.

PS4: Amigo Cristão, peça orientação de Deus e não olhe Dilma com maus olhos por causa das mentiras que ouviu. Não seja preconceituoso. Se você não tem certeza se as mentiras são verdade ou não, presuma inocência, aja e pense nela como inocente. Isso é ter bons olhos. E Jesus disse (está escrito) que se teus olhos forem bons, todo teu corpo será luminoso,; se teus olhos forem maus, todo teu corpo andará em trevas. Quem quer fazer teus olhos maus quer que teu corpo ande em trevas.

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UPDATE: Se em 2010 não havia ainda um candidato adequado aos valores cristãos, em 2018 os candidatos de esquerda tiraram a máscara se mostraram abertamente contrários aos evangélicos, motivo que me fez mudar completamente minha opinião, principalmente a respeito do PT. Vou manter os textos da época aqui, como registro histórico, mas que fique claro que, conforme me informei mais a respeito das bases dos partidos de esquerda, percebi o quanto eu fui ingênua nas cinco eleições presidenciais em que dei meu voto ao PT. Nunca mais. Se quiser saber mais, clique aqui para ler o texto que escrevi sobre as eleições de 2018.

Carta aos evangélicos, sobre Dilma

UPDATE: Se em 2010 não havia ainda um candidato adequado aos valores cristãos, em 2018 os candidatos de esquerda tiraram a máscara se mostraram abertamente contrários aos evangélicos, motivo que me fez mudar completamente minha opinião, principalmente a respeito do PT. Vou manter os textos da época aqui, como registro histórico, mas que fique claro que, conforme me informei mais a respeito das bases dos partidos de esquerda, percebi o quanto eu fui ingênua nas cinco eleições presidenciais em que dei meu voto ao PT. Nunca mais. Se quiser saber mais, clique aqui para ler o texto que escrevi sobre as eleições de 2018.

No dia 10 de Setembro, foi publicado no Maria Frô um vídeo   http://mariafro.com.br/wordpress/?p=19096 com um pastor batista chamado Paschoal Piragine, que circula no youtube em um culto de sua igreja, apresentando um vídeo tendencioso, em tom emocional e alarmista, dizendo que se Dilma for eleita, teremos a disseminação da iniquidade em nossa pátria. Isso porque – segundo ele – o PT e Dilma são a favor do aborto e do casamento homossexual. Diz esse pastor ao seu rebanho que a única forma de salvar-nos dessa catástrofe é votando no PSDB….(como SE o PSDB fosse contra o aborto…risos…). Vi o mesmo vídeo em outros blogs e pipocam diversos textos atrelando Dilma à legalização do aborto, práticas anti-cristãs, legalização de casamento entre pessoas do mesmo sexo e perseguição à igreja através de reformas constitucionais. Alguns comentários de pessoas horrorizadas com as informações com as quais têm sido bombardeadas, mostram cristãos totalmente rendidos às mentiras propagadas, muitos vociferando de maneira bastante agressiva, chamando Dilma de anticristo para baixo.

Apesar dos comentários a que me refiro refletirem o pensamento da minoria dos evangélicos, essa minoria repassa emails falsos e comenta os posts dos blogs, fazendo parecer que fala em nome de todos os evangélicos. Eu peço licença para tentar falar com essas pessoas, em uma linguagem que lhes seja familiar, na esperança de que ao menos algumas delas (as realmente sinceras, não as mal intencionadas, essas jamais ouvirão) me dêem ouvidos, ou parem para pensar. Já há algum tempo, a oposição teve uma “maravilhosa” idéia: manipular os evangélicos, para diminuir o apoio a Dilma Roussef. A grande mídia, que sempre nos desprezou, nos vê como massa de manobra, como ignorantes manipuláveis e facilmente enganáveis. Reitero o que sempre disse: a opinião desse senhor Piragine é a da minoria dos cristãos. Felizmente nosso povo não é mais ignorante como na época em que acreditava que Lula queria fechar igrejas.

Deus, no início de sua conversa com o profeta no livro bíblico de Isaías, faz um pedido muito nobre: “Vinde, pois, e arrazoemos”…em outras traduções já li “Vinde, e raciocinemos juntos”. Arrazoar é expor seus argumentos alegando razões. Acredito, então, que este seja o pedido que Ele faz aos que se dizem dele: “Vem aqui, vamos raciocinar”. Vejo cristãos horrorizados, repetindo o que ouviram por aí: “Dilma é a favor do aborto, Dilma é a favor da legalização da iniquidade, o PT tem princípios contrários aos princípios cristãos”, etc. etc. etc. Esta semana, o novo hoax (mentira propagada pela internet) diz que Dilma afirmou em entrevista a um jornalista (qual o nome dele?) de um jornal local (qual jornal?), na inauguração de um comitê (qual comitê?) em Minas Gerais (em qual data?): “Nem Cristo querendo me tira essa vitória”. Ela nunca disse isso, mas jogaram essa afirmação em um email falso, que circula em tons alarmistas. O problema não é apenas o fato de estarmos caindo feito patinhos na armadilha da oposição, mas os argumentos que são utilizados para o não-voto em Dilma Roussef, principalmente: legalização do aborto e da união civil entre homossexuais. Você realmente já parou para pensar nisso?

A Igreja Católica é contrária a métodos contraceptivos. Por isso, dificulta ao máximo o trabalho de distribuição de preservativos entre a população da África, que sofre com a disseminação da AIDS, coloca-se abertamente contra e ainda diz à população que preservativos não são eficazes no combate ao HIV, prestando um desserviço à humanidade. Milhares de pessoas morrem por não terem tido acesso a prevenção enquanto era tempo. E a Igreja Católica chega ao ponto de criticar governos, em alguns países, pela iniciativa de distribuir preservativos aos jovens. E nós achamos um absurdo. Não se importam com as vidas ceifadas diariamente pela Aids? Não se importam com as crianças que ficam órfãs, ou doentes, e sofrem até a morte? A alegação é que o sexo só é permitido depois do casamento e que o adultério é pecado, logo, não haveria melhor forma de prevenção à AIDS do que seguir os dogmas da igreja. O raciocínio é lógico, mas todo mundo é católico? Todo mundo é cristão? Não. Então os que não são cristãos, ou que não seguem à risca os dogmas, merecem, como punição, a doença, sofrimento e morte? Não é isso o que Jesus ensina. Ele fala de amor, Paulo fala de abençoar os que nos perseguem, Jesus fala em amar os inimigos, quanto mais àqueles que não são nossos inimigos, só não tiveram a oportunidade de conhecer o Deus que conhecemos. Jesus era bastante duro com aqueles que usavam de falta de amor travestida de religião. Ele não atacava “pecadores”, atacava religiosos. É essa a indignação de Deus no primeiro capítulo de Isaías: contra os religiosos que diziam servir a Deus, mas aos quais Deus nem sequer ouvia, pois as mãos deles “estão cheias de sangue”. É a eles dirigida a repreensão do livro de Malaquias, do início ao fim. Nós olhamos para o Vaticano, que – por uma posição retrógrada e fria- permite o sofrimento e a morte de milhares, e nos indignamos. Conseguimos compreender nos olhos daquelas crianças soropositivas da África, sem a menor esperança de futuro, todo o sofrimento causado pela falta de amor de quem se diz representante de Deus.

Muitas mulheres morrem todos os dias no Brasil vítimas das consequências de abortos feitos em clínicas clandestinas, a maioria sem as mínimas condições de higiene, muitas feitas apenas com o objetivo de ganhar dinheiro, e dane-se a adolescente desesperada que não queria aquele filho. Algumas estão apenas assustadas com a novidade, e poderiam até mudar de idéia, caso fossem orientadas por um psicólogo na clínica, ou mesmo um assistente social. Mas por que uma clínica clandestina contrataria um profissional desses? A idéia é não dar tempo para que elas pensem, assim garante-se o recebimento do dinheiro. O resultado são muitas mulheres traumatizadas, úteros machucados, arrependimento, alguns suicídios, morte.

Você, cristão, que acredita que uma mulher que faça aborto vai para o inferno, pense comigo:  o fato de o aborto não ser legalizado faz com que ela deixe de abortar? Não, pois sempre existe alguém que conhece uma clínica, ou mesmo um remédio ou “chazinho” que pode causar graves sequelas. As chances de ela morrer em uma clínica clandestina ou em um aborto feito em casa são infinitamente maiores do que em um aborto feito por médicos, em um hospital. O feto, se já é uma vida, vai para o céu, em ambos os casos. Já a mãe, se morrer, não vai para o inferno? Você quer que ela vá para o inferno? Imagino que não, se você realmente for cristão.  Se não for possível impedí-la de abortar, então pelo menos que haja menos chance de morrer, pois assim ela ainda tem chance de ser salva, não? Mas o correto seria ela não abortar! – você me diz – Assim como o correto seria que as pessoas não tivessem relações sexuais fora do casamento, isso evitaria a Aids. Mas não é essa a realidade. Pode ser a realidade dentro de nossas igrejas (e nós sabemos que não é bem assim…), mas o presidente da república não deve governar apenas para as nossas igrejas, pois isso não pode usar nossos dogmas em suas diretrizes de governo, pois estão lidando com a realidade do mundo. Por isso o Estado é laico: senão daqui a pouco teríamos os Umbandistas dizendo o que podemos ou não fazer, os católicos dizendo o que podemos ou não fazer, os espíritas dizendo o que podemos ou não fazer, os budistas dizendo o que podemos ou não fazer, os satanistas dizendo o que podemos ou não fazer…e aí? Não se sentiriam todos no mesmo direito?

E o casamento gay? Antes de mais nada, cabe ressaltar que no programa Roda Viva, da TV Cultura, Dilma afirmou “Sou a favor da união civil. Acho que a questão do casamento é religiosa. Eu, como indivíduo, jamais me posicionaria sobre o que uma religião deve ou não fazer. Temos que respeitar” (em tempo: Marina Silva disse exatamente a mesma coisa, vide link ao final do texto) Vamos tentar entender essa afirmação: União Civil é uma coisa. Casamento é outra. Nós, enquanto cristãos, podemos nos posicionar firmemente contra o casamento gay (cerimônia religiosa) dentro de nossas igrejas. A igreja é livre para não permitir, baseada na Bíblia, esse tipo de cerimônia na instituição, e o governo não tem nada com isso. Pode orientar como pensa e o que sugere para resolver a questão, pode defender seus princípios, dentro dos estatutos de sua igreja, sem, no entanto, jogar a pessoa no fogo do inferno enquanto ela está viva, aqui. Porém, não podemos nos colocar em um embate para limitar os direitos dessas pessoas enquanto cidadãos. Não é por fazê-las sofrer e passar dificuldades no dia-a-dia que faremos com que se convertam, pelo contrário, pois quanto mais perseguidos somos, mais convictos nos tornamos, não é mesmo? E quanto mais forem perseguidos, menos se interessarão pelo evangelho. Não é limitando direitos civis que os traremos até nós, mas mostrando o amor com que Deus acolhe aqueles que querem seguí-lo e o próprio Espírito Santo fará o resto.

O que é a “união civil”? Em que isso é diferente de casamento? União civil é apenas o reconhecimento do Estado, do relacionamento entre aquelas duas pessoas. Isso lhes dá direitos como incluir o parceiro como dependente no plano de saúde ou na declaração de imposto de renda (abatendo despesas médicas e educacionais do parceiro), pensão alimentícia em caso de separação entre outras coisas que não farão a menor diferença para mim ou para você e também não alterarão em nada a situação dessas pessoas diante de Deus. Se o leitor cristão diz que Deus não aceita essa união como um casamento legítimo, então diante de Deus nada muda, certo? Nesse caso, por que o escândalo? Por que a celeuma? Qual é o problema? O fato de não haver união civil impede que casais homossexuais morem juntos? Não, não impede. Então o que estamos querendo evitar? Contra o que exatamente estamos lutando? Paulo diz que nossa luta é espiritual, e se queremos fazer algo por essas pessoas, devemos investir no que realmente importa e não em querer dizer o que o governo deve ou não legalizar. O fato de o aborto e a união civil homoafetiva serem legalizados transformará o Brasil em uma Sodoma e Gomorra? De maneira nenhuma! O governo só será capaz de organizar algo que já existe. Pergunto ao evangélico protestante: o cigarro é liberado. Você fuma? A cachaça é liberada. Você vive bêbado pelas ruas? O bêbado que se converte se livra da cachaça e não volta a beber, mesmo o álcool sendo droga legalizada. A pessoa é livre para fazer suas escolhas, e faz a escolha correta, desde que bem instruída. E que o país continue a ser livre, que o Estado continue a ser Laico, que possamos distribuir nossos panfletos nas ruas, evangelizar nos presídios e hospitais, fazer trabalho social e núcleos nas favelas. Vamos eleger deputados comprometidos com a nossa causa, para defender nossos direitos lá dentro, para defender nossas igrejas e para dar melhores condições de vida aos menos favorecidos, mas jamais para se intrometer nos direitos civis de outros pessoas usando como argumento algo que elas sequer entendem.

Não há nenhuma ameaça ao cristianismo na posse de Dilma ou no PT.  Não nos deixemos manipular. Os fatos são bem outros, e eles não falam. Não dizem que a grande mídia, que esculacha a Dilma e o PT, nunca nos respeitou e jamais perdeu uma oportunidade de nos ridicularizar e nos caluniar. A Globo, com suas novelas, sempre buscava retratar os evangélicos da maneira mais estereotipada possível, por que acreditaríamos nela agora? Por que nos uniríamos a ela? Por que repetiríamos o que ela nos diz, como se fosse verdade? Se quando fala a nosso respeito, sempre usa de mentiras, calúnias e distorce a verdade? Nunca nos respeitou. Não dizem que o governo do PT foi o que mais favoreceu a liberdade religiosa e o crescimento das igrejas. Não dizem que as mesmas fontes que dizem hoje que Dilma é contra os cristãos diziam que Lula fecharia as igrejas. Ele fechou? Alguém se lembra desse terrorismo ideológico? Mas e Marina Silva? Ela não é evangélica? Sim, mas mesmo sabendo que o que se diz na grande mídia é mentira, opta por ficar calada e deixar o circo pegar fogo e quando convidada a opinar, joga mais lenha na fogueira, concordando com o que é dito. De que lado ela está? Da Globo, da mídia manipuladora, a mesma que nos pinta como ignorantes, burros, pobres e analfabetos? Marina, na questão polêmica do aborto, joga a bomba no colo da população e diz que fará plebiscito. Plebiscito para que? Para incitar uma briga, uma guerra onde só o evangelho sairá perdendo (não importa o resultado do processo)? Não misturemos as coisas. Não há necessidade de plebiscito para isso, já que trata-se de direitos que serão utilizados apenas pelos interessados. Não é algo que afetará a sociedade, como um todo. Marina quer lavar as mãos e jogar a responsabilidade em cima da população.

A escolha é de cada um de nós, mas eu, sinceramente, pensando na igreja, não vejo escolha melhor do que continuar no caminho já iniciado pelo Lula. E se você tem outra opinião, que seja a sua, não baseada naquilo em que emails mentirosos querem que você acredite, nem em argumentos que nos transformem em fariseus que coam mosquitos e engolem camelos. Vamos entender de uma vez por todas que o presidente de um país deve governar para toda a população, e lutar pelos direitos do povo, independente de suas opiniões pessoais.  O dia em que um presidente do Brasil resolver enfiar Jesus goela abaixo da população, pode ter certeza de que Deus não ficará aqui para ver o resultado. E eu também não. Deixo, para sua reflexão, dois vídeos que fazem um bom contraponto àquele do pastor Piragine. Ouça com atenção até o final.

 


 

Leia também:

O uso do preservativo e a posição de Igreja Católica

Igreja Católica na guerra contra preservativos

Posição da Aliança Batista a respeito do vídeo do Pr. Piragine:

Marina defende união civil de homossexuais

Marina defende união civil de bens entre homossexuais

Serra defende união civil de homossexuais

Dilma defende união civil de homossexuais

A campanha contra Dilma nas Igrejas

Pastores Evangélicos que apóiam Dilma

 

UPDATE: Se em 2010 não havia ainda um candidato adequado aos valores cristãos, em 2018 os candidatos de esquerda tiraram a máscara se mostraram abertamente contrários aos evangélicos, motivo que me fez mudar completamente minha opinião, principalmente a respeito do PT. Vou manter os textos da época aqui, como registro histórico, mas que fique claro que, conforme me informei mais a respeito das bases dos partidos de esquerda, percebi o quanto eu fui ingênua nas cinco eleições presidenciais em que dei meu voto ao PT. Nunca mais. Se quiser saber mais, clique aqui para ler o texto que escrevi sobre as eleições de 2018.