Li este livro por indicação de uma amiga, ela gostou muito e queria saber minha opinião. Achei importante escrever esta resenha porque 99% das opiniões que li a respeito deste livro diziam a mesma coisa: o contrario do que eu achei.

Primeiro, todo mundo disse que se emocionou com o livro, que se debulhou em lágrimas… não tenho tanta facilidade assim para chorar. E me pergunto: o que leva alguém a gostar de um livro que lhe faz chorar convulsivamente? Uma lagriminha aqui outra ali, a gente até entende, mas eis algo que você não deve exercitar em sua vida: o sentimentalismo extremo. Prefira livros que não dependam 100% do seu coração para viver…podem até te emocionar, dentro dos limites da normalidade, mas não devem ser escritos com o único objetivo de arrancar lágrimas do leitor, como parece ser o caso de “O melhor de mim” (The best of me), de Nicholas Sparks, Editora Arqueiro. (Alguns spoilers na resenha, mas nada que mate sua leitura.)

Quando contei a história do livro para o meu marido, ele arregalou os olhos e disse “Credo, que cara azarado!” – referindo-se a Dawson, o pobre protagonista. Uma ou outra desgraça é normal, mas uma sequência infinita de desgraças faz do livro uma novela mexicana difícil de engolir. Muitos clichês, personagens estereotipados, narrativa fraca, a história previsível do começo ao fim e um final que me fez revirar os olhos e dizer: “Sério que você vai terminar assim, Nicholas?” Eu já tinha adivinhado o final pouco depois da metade do livro.

Li recentemente um livro mais antigo desse autor, “Diário de uma paixão”, e o declínio é visível. “Diário” tem uma trama sólida, a historia parece ter um objetivo e você entende a evolução do relacionamento do casal de protagonistas.  Já com Dawson e Amanda você não vê essa evolução. Os dois se apaixonam na adolescência e vivem um namoro proibido, pois ela é de uma família tradicional e ele é o rapaz bonzinho que nasceu em uma família de criminosos e sofre preconceito na cidade por seu sobrenome. Acabam terminando o relacionamento porque ele não quer atrapalhar a vida da moça. Ela vai para a faculdade, onde conhece Frank e se casa.

Dawson acaba preso por atropelar acidentalmente o único médico da cidade (drama + drama). Depois de cumprir pena, o rapaz vai morar sozinho e trabalhar em uma plataforma de petróleo, que acaba explodindo (o que não faz a menor diferença na história, é só para marcar o momento em que Dawson começa a ver um vulto –  sessão do descarrego nele! – e acrescentar drama).

A narrativa é mais contada do que mostrada (é a diferença entre ouvir alguém contar uma história e participar dela). Pouco esforço em envolver o leitor na cena faz com que ele sinta a solidão de Dawson, ao ser colocado para escanteio pelo autor. Infelizmente, não foi proposital, não se trata de estratégia literária.

Dawson e Amanda se reencontram quando um grande amigo dos dois morre. Então você vê o-que-não-é-amor aflorando imediatamente. Amanda está casada com Frank, um alcoólatra, com quem tem três filhos (tiveram quatro, mas uma morreu de câncer no cérebro ainda muito pequena…novela mexicana mode on). O casamento está em crise e ela revê seu namorado de adolescência. O livro passa aquela ideia falsa do amor-sentimento, que nasce e cresce sozinho…também passa a ideia de que Dawson e Amanda foram “feitos um para o outro”  e que ele é seu “verdadeiro amor”.

Você não pode amar alguém que você não conhece, isso não é amor. Como Amanda pode “amar” um cara que ela mal conhece? Mesmo que algum dia realmente tenha amado Dawson, depois de 20 anos ele não é mais o homem que ela conheceu. E vice-versa.  O mundo está acostumado a ver o amor desta maneira e por isso há tanta gente frustrada sentimentalmente. Mas ok, isso é ficção, e se o livro fosse bom talvez nem me importaria tanto.

Me perguntaram se “O melhor de mim” seria classificado como “literatura fast-food”. Eu diria que ele está mais para fast food com alucinógenos. Talvez uns cogumelos suspeitos tenham substituído o champignon. Porque se você se envolver com o livro, pode se pegar fazendo coisas que jamais faria na vida real, por exemplo, torcendo para que Amanda traia o marido, abandone a família e fique com um homem que lhe é completamente desconhecido.

Mesmo que isso não faça a menor diferença para mim ou para você, eu não consigo deixar de pensar que esse é o tipo de romance que se une às novelas e aos filmes de Hollywood para reforçar a imagem equivocada do amor, alimentando fantasias inúteis na cabeça de muitas mulheres (principalmente). Sem contar o fato de exercitar o sentimentalismo exacerbado ao trazer lágrimas sem o menor propósito.

Li em algumas resenhas a respeito do caráter de Dawson…ele não guarda ressentimentos, mesmo passando por terríveis injustiças…realmente, é o personagem mais interessante da trama…se não for o único. Mesmo assim, também não foi bem construído e não é suficiente para sustentar o livro.

O que esse livro traz, no final? Nada. Nenhum conteúdo verdadeiro, nada a acrescentar de realmente bom.  A menos que você tenha conseguido se emocionar e ache que isso é positivo em algum aspecto.

PS: No final do livro tem a propaganda de “O Casamento” (The Wedding), de Nicholas Sparks, que ainda não li, mas fiquei curiosa para ler. Não pensem que Nicholas Sparks é o pior escritor do universo, não é, ele sabe escrever. O problema é que quando um escritor faz um livro com o único objetivo de mexer com os sentimentos do leitor, corre o risco de errar a mão. Não conheço todo o trabalho desse autor, mas espero que esse tipo de coisa seja exceção.

Vanessa Lampert

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* Resenha originalmente publicada em:http://www.cristianecardoso.com/pt/portfolio/livros/