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Sobre o filme Ressurreição

Depois de muito tempo sem resenha, temos aqui hoje uma super resenha de um FILME! Soube que o filme Ressurreição (Risen) vai estrear no catálogo do Univer dia 1 de agosto e me perguntaram se eu já vi e o que achei. Como os trailers de divulgação revelam bastante sobre o filme, não creio que seja problema falar de alguns detalhes. Mas não quero só falar da história, porque isso você consegue em qualquer lugar. O que quero é falar sobre a experiência de assistir a este filme e o que ele me passou.

A primeira vez que ouvi falar de “Ressurreição” foi em um trailer no cinema. Na hora, fiquei desconfiada, porque parecia muito bem produzido e trazia atores conhecidos de Hollywood, como Joseph Fiennes e Tom Felton (traumatizada por causa do Noé, do Aronofsky, que era bem produzido, com atores famosos, mas não tem nada de bíblico). No entanto, Ressurreição foi uma grata surpresa. 

O filme, do cineasta Kevin Reynolds, conta a história da ressurreição de Cristo pelos olhos de Clavius, um romano incrédulo, inicialmente devoto de Marte, o deus romano da guerra (dá uma certa peninha da oração que ele faz a Deus diante da estátua de Marte…tipo, sem noção alguma o rapaz).  Clavius é um tribuno militar (tribuno era uma patente militar superior ao centurião) que é incumbido por Pilatos da ingrata tarefa de encontrar o corpo de Jesus. O filme começa com um Clavius maltrapilho e sozinho, que conta sua história para o equivalente a “dono do bar” da região. 

De cara, descobrimos que Barrabás não durou muito. Não reparei nisso da primeira vez que assisti, mas Clavius e seus soldados debelam uma rebelião e o líder dos rebeldes é Barrabás, que havia sido solto poucas horas antes, no lugar de Jesus, que foi crucificado. Sim, isso é um pequeno spoiler, mas comento porque fiquei chocada com o fato de não ter notado esse detalhe da primeira vez (meu marido também não notou). Por isso é importante assistir mais de uma vez aos filmes que a gente gosta. Alguma coisa sempre passa despercebida enquanto ainda estamos nos ambientando à história (pelo mesmo motivo, também costumo ler mais de uma vez os livros de que gosto).

Clavius é um homem ambicioso. A História conta que muitos tribunos na época usavam a posição para tentar uma vaga no senado. Com Clavius não é diferente. Em certo momento, ele confessa que seu sonho de ter posição e poder em Roma é em busca de ter uma família, paz e um dia sem morte. Fiquei pensando nesse diálogo e no quanto ele resume a busca de cada ser humano. Todo mundo quer segurança para sentir paz e ter vida. 

Pense bem. Tudo o que as pessoas buscam tem como objetivo final vida e paz. Querem família para ter segurança, e querem segurança para ter paz e vida. Até a corrida atrás de dinheiro e poder, que vemos diariamente, não é pelo dinheiro ou pelo poder, em si. As pessoas querem dinheiro e poder em busca de segurança, para ter paz e poder sentir um pouco de vida dentro de si. Um dia sem morte, que Clavius tanto anseia, não é apenas um dia sem matar ou sem ver sangue. É um dia sem aquela sensação de ausência de vida, sem aquele vazio que causa tanta insegurança e medo. 

Muitos hoje estão vivendo dias de morte. A morte chamada depressão, a morte chamada ansiedade, a morte chamada medo, a morte chamada vazio, a morte que se traduz em dias inúteis, em dias sem sentido, em dias de tédio que a pessoa tenta disfarçar com festas, luzes, bebida, drogas, remédios, amizades, namoros, ideologias, leituras, jogos, vídeos, entretenimento ou qualquer outra coisa que a distraia da morte que arrasta seus dias. Essa era a dor de Clavius, que podemos ver com clareza em seu olhar cansado.

O aspecto do filme em sua primeira parte realmente transmite bem isso. A impressão que tive é que o ambiente estava sempre sujo, quente, com pessoas suadas e mosquinhas onipresentes (deu uma certa agonia das mosquinhas, confesso). Os cenários são bem fiéis ao local e à época e tudo no filme ajuda a contar a história. Realmente me senti vivendo tudo aquilo com Clavius. 

Como a narrativa é mostrada pelo ponto de vista de Clavius, toda a história da morte e ressurreição nos parece meio distante, de início. Achei isso muito positivo, é como olhar uma escultura conhecida por outro ângulo e poder observar detalhes ainda não vistos. Clavius não tem o menor interesse nos judeus. Parece estar sempre cansado e entediado. Depois de matar Barrabás, é incumbido por Pilatos da tarefa de quebrar as pernas de Jesus, para apressar Sua morte. Quando chega em frente à Cruz, encontra Jesus já morto (e o ator que faz Jesus sabe fazer uma cara de morto bem morto mesmo — assustador). E é neste momento que a história dele começa a caminhar junto da história que conhecemos. 

O tribuno fica encarregado também de selar o túmulo de Jesus e deixar guardas romanos cuidando do local (o cara pega os piores trabalhos). Quando Pilatos o chama novamente, é para reportar que o sepulcro foi aberto e o corpo desapareceu. Ele se oferece para investigar, e Pilatos exige que encontre o corpo (tô falando, piores trabalhos). Nessa nova e inútil missão, as mosquinhas se multiplicam, porque o tribuno decide desenterrar corpos de pessoas que morreram recentemente e revirar os dos crucificados (que nem enterrados eram). É como se Clavius descesse ao fundo do poço da morte, e o espectador sente isso (eu, pelo menos, senti). 

Até que ele decide perseguir os seguidores de Jesus para, através deles, descobrir a verdade sobre o que aconteceu com o corpo. Durante os interrogatórios, as palavras dos seguidores de Jesus os fazem parecer loucos aos olhos de Clavius, e aos meus olhos também, porque eu estava vendo tudo através dos olhos dele. Um bando de malucos, mas aquelas palavras e aquelas convicções começam a intrigar o tribuno. Ele desconfia da história de um dos guardas do sepulcro e consegue uma revelação surpreendente do outro. Ao mesmo tempo em que a narrativa dele parece fantástica, ela causa em Clavius um profundo temor sobre o que estaria realmente acontecendo. Sua busca, primeiro, é pelo corpo (morte). Depois, passa a ser pela verdade (vida). E creio que foi esse desejo profundo de encontrar a verdade que fez com que Clavius, enfim, a encontrasse.

Obcecado pela verdade, Clavius acaba se encontrando com o próprio Jesus, vivo e sorridente, e sabe que precisa segui-Lo para entender o que aconteceu. A partir daí, os discípulos não parecem tão loucos (só um pouquinho), e a gente vai se familiarizando com eles e com o discurso deles aos poucos, à medida que eles se tornam menos estranhos para Clavius. O filme realmente nos leva pela história através dos olhos desse personagem. É muito bem executado. 

Não vou entrar em detalhes do encontro de Clavius com Jesus, porque são partes do filme que merecem ser observadas atentamente, sem minha interferência (e porque o trailer deixa isso de fora, então tudo o que eu disser será super spoiler). O que posso dizer é que, a partir do momento em que ele começa a buscar a verdade, dá para perceber uma mudança sutil no ambiente e em Clavius. As mosquinhas diminuem (ufa!), tudo fica mais leve e mais fácil de respirar. Em sua jornada com os discípulos e Jesus, a impressão que eu tive é que antes ele estava sedento e, agora, bebe um gole de água a cada encontro. Em seu olhar, seu leve sorriso maravilhado com o novo mundo que se abre para ele, ainda sem saber se o que está experimentando é real ou se é bom demais para ser verdade. No final, ele chega a uma conclusão.

Estava pensando no filme, quando o assisti pela segunda vez, e creio que tudo nessa história é, de certa forma, simbólico. Vejo a jornada de Clavius como uma metáfora da vida cristã, desde os momentos de incredulidade, em que se combate contra a fé, passando pela ignorância do início até a hora em que a pessoa começa, de fato, a crer e aquilo, enfim, muda a sua vida por completo. 

“Ressurreição” é um filme que vale muito a pena ser visto com olhar de quem mergulha na história para viver, na pele do tribuno, o que todo mundo que busca “um dia sem morte” deveria viver. 

O único ponto que eu mudaria, no finalzinho, eu já resolvi na minha imaginação (a gente sempre preenche lacunas com a imaginação, não é?). O filme termina antes da história de Clavius ter um fim, então não sabemos o que ele vai fazer após sua última cena com Pedro. Na minha cabeça, ele depois reencontra os discípulos, recebe o Espírito Santo e ajuda na evangelização dos gentios e na formação das primeiras igrejas. Esta, aliás, seria uma excelente continuação da história. 

 

 

PS. Já disse, mas é bom lembrar, para quem passou batido pela informação no primeiro parágrafo: A partir desta segunda, dia 1 de agosto, “Ressurreição” entra no catálogo do Univer, então estará disponível para os assinantes que quiserem assistir a qualquer horário e dia.

PS2. A propósito, atualmente o Univer é a única plataforma de streaming que estamos assinando aqui em casa. Além dos filmes, novelas bíblicas e documentários, tem meus conteúdos preferidos: as reuniões, o programa Entrelinhas e a Escola do Amor. Cansamos de passar raiva com a outra (você sabe qual) que assinamos durante anos…

PS3. Curiosidade: A primeira vez que vimos o trailer deste filme foi no cinema, minutos antes da exibição do filme Os Dez Mandamentos

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Livros que não são o que parecem – A divina revelação do inferno

Se a resenha anterior, da infinita série “Livros que não são o que parecem” era de uma ficção não-religiosa, a desta semana não poderia ser mais religiosa. Há algumas semanas, nossa leitora Andressa me perguntou a respeito desse livro, que ela leu quando era de outra denominação. Aproveito para usá-lo como representante de todos os outros livros contemporâneos de gente que diz que foi para o céu ou para o inferno.
Não haveria problema algum em ler este livro como uma ficção, uma alegoria de como as pessoas continuam sofrendo fisicamente no inferno depois da morte, DESDE QUE o leitor saiba que, ao contrário da afirmação da autora, ela não vivenciou essas coisas. É ficção e deve ser lido como ficção (se alguém quiser ler).
A Bíblia nos fala claramente sobre o inferno. Diz que ele não foi feito para os seres humanos, mas para o diabo e os demônios. Depois que o homem desobedeceu a Deus e passou a seguir o diabo, suas próprias ações o levam ao inferno, a menos que se arrependa e aceite a salvação oferecida por Jesus. Jesus descreve o inferno como “fogo inextinguível, onde não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga” (Marcos 9.45-46). Mas Mary Baxter foi para lá?

 

  “Além disso, por um período de 30 dias Jesus levou-me ao inferno. O Senhor apareceu à mim em 1976 e disse-me que eu havia sido escolhida para uma missão especial. Ele disse: “Minha filha, me manifestarei a você para que tire as pessoas da escuridão para a luz. OSenhor Deus a escolheu com o objetivo de escrever e registrar as coisas que lhe mostrarei e falarei. Vou revelar-lhe a realidade do inferno, para que muitos possam ser salvos, muitos se arrependam dos seus maus caminhos, antes que seja tarde. Sua alma será tirada do seu corpo por mim, o Senhor Jesus Cristo, e transportada ao inferno e a outros lugares que eu quero que você veja. Mostrarei também a você algumas visões do céu e outros lugares, e lhe darei muitas revelações.”

 Vamos por partes. Jesus esteve aqui na Terra e sabia que isso ficaria registrado em quatro livros, certo? Se era tão importante assim dar detalhes sórdidos sobre o inferno, por que Ele não o fez enquanto estava por aqui? Por que não baseou seus ensinamentos nisso? Aliás, eu considero que o que ele achava importante dizer sobre o inferno, ele disse.

O Jesus de Mary Baxter fala muito parecido com ela mesma. Eu, sinceramente, não vi grande diferença entre os dois personagens, o que é um indicativo de história inventada por quem ainda não tem muita habilidade com escrita. Usa as mesmas palavras, as mesmas frases, o mesmo estilo. Outra coisa estranha é que furou o disco do Jesus que acompanhava a mulher. “você está aqui para que o mundo saiba que o inferno é real”, “o que você está vendo é real”, “o inferno é real”,  “isso é real”, “o mundo deve saber que é real”.

Há muitos pontos questionáveis neste livro e que me mostram que ele veio da cabeça da autora e não de uma revelação espiritual. Como, por exemplo, o momento em que ela conta uma visão (pág.107) que Jesus teria lhe dado do trono de Deus:

“O ar ao redor do trono estava cheio de pequenos querubins, cantando e beijando o Senhor na face, nas mãos e nos pés […] O querubim tinha línguas de fogo sobre as suas cabeças e nas pontas de cada asinha.”

Note que é uma figura pequena, infantil. E, de fato, no original, ela diz: “was filled with baby cherubim, singing and kissing the Lord upon His face, His hands and His feet”.

Essa figura de querubim-bebê é uma criação do catolicismo, com base em um deus pagão romano, o Cupido, deus do desejo sexual descontrolado e do “amor” erótico. A figura de um bebê alado, na mitologia pagã, se chama “putto”, seria um cupido jovem. Por que ao redor do trono REAL de Deus alguém veria figuras mitológicas pagãs em vez de anjos como os descritos na Bíblia (adultos, pra começar).

O inferno que o livro descreve tem características diferentes do que está na Bíblia (formato, local, seções, atividade, etc.), Na imaginação da autora, o inferno teria braços, pernas, estômago, mandíbulas, como um corpo humano.

A estrutura do livro A Divina Revelação do Inferno foi copiada de A Divina Comédia (“comédia” era uma história que terminava bem, enquanto “tragédia” era uma história que terminava mal), poema clássico da literatura publicado em 1472, por Dante Alighieri (que trabalhava para a igreja romana). Algumas similaridades: Dante é guiado por Virgílio (que ele chama de Mestre) ao inferno, purgatório e céu, assim como Mary Baxter é guiada por Jesus ao inferno, ao céu e a outros lugares, como o planeta das crianças abortadas e o futuro apocalíptico.

Em A Divina Comédia, o inferno é formado por diversos círculos e cada uma dessas partes do inferno tem características próprias, que ele descreve; assim como em A Divina Revelação do Inferno o inferno tem a forma de um corpo humano e cada uma de suas partes tem características próprias, que a autora descreve.

Em A Divina Comédia, em cada uma das partes uma alma atrai a atenção de Dante, que ouve o “testemunho” dela e explica ao leitor a razão daquela alma estar ali, com um ensinamento final. É exatamente a dinâmica do relato de A Divina Revelação do Inferno, em cada uma das partes uma alma atormentada atrai a atenção de Mary Baxter, que ouve o testemunho dela e explica ao leitor a razão daquela alma estar ali, com um ensinamento final.

Em ambos há descrições de celas e de diferentes tipos de torturas (e há religiosos no inferno de Dante, também). Os demônios estão à vontade, as imagens são parecidas e as sensações e questionamentos, também. No inferno, Dante tem muita pena das pessoas e muito medo do que vê, como Baxter. Mas Dante mistura mitologias, tem um desenvolvimento mais complexo e algumas alegorias.

Ele foi mais honesto, pois sempre deixou claro que escreveu ficção (ainda que com intenção de despertar as pessoas para a realidade espiritual — do jeito católico dele), enquanto Mary Baxter afirma categoricamente que sua experiência foi real. Ela passou inclusive a viver das palestras que era convidada a fazer como profetisa, contando suas visões e revelações do inferno e do céu.

‘O homem continuou: “Senhor, algumas pessoas da minha família acabarão vindo para cá, porque também não se arrependerão. Por favor, Senhor, deixe-me ir dizer a eles que devem se arrepender de seus pecados enquanto eles ainda estão na terra. Não quero que eles venham para cá.” Jesus respondeu: “Eles têm pregadores, professores e pastores —todos ministrando o Evangelho. Esses falarão a eles. Eles também têm as vantagens dos modernos meios de comunicação e muitos outros meios para aprenderem de Mim. Eu enviei obreiros para que eles possam crer e serem salvos. Se eles não acreditarem no Evangelho, tampouco serão convencidos, mesmo que alguém se levante dos mortos.”

Opa! Plágio! Plágio! Já li isso em algum lugar…mas em vez de Jesus, era Abraão…lembra da história do rico e do Lázaro?

 “No inferno, estando em tormentos, levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio. Então, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro igualmente, os males; agora, porém, aqui, ele está consolado, e tu em tormentos. E, além de tudo, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que querem passar daqui para vós outros não podem, nem os de lá passar para nós. Então replicou: Pai, eu te imploro que o mandes à minha casa paterna, porque tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de não virem também para este lugar de tormento. Respondeu Abraão: Eles têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. Mas ele insistiu: Não, pai Abraão, se alguém dentre os mortos for ter com eles, arrepender-se ao. Abraão, porém, lhe respondeu: Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos. “(Lucas 16.23-31)

Em vários pontos do Novo Testamento, cita-se “Moisés e os Profetas” como sinônimo de “Escrituras Sagradas” (Lucas 24.44, Atos 28.23) Ou seja, Abraão estava dizendo que se a Palavra de Deus não era suficiente, então não adiantaria mandar mais ninguém! Ao copiar esse trecho Bíblico, o Jesus de Mary Baxter se contradiz. Porque se não se convencerão mesmo que alguém se levante dos mortos, o que ela foi fazer no inferno?

 Para completar, o Jesus de Mary Baxter a abandona e ela é arrastada por demônios. Torturada, sente dores horríveis, como a carne sendo arrancada de seu corpo… Quando ele finalmente volta:

 ‘Jesus respondeu carinhosamente: “Minha filha, o inferno é real, mas você jamais poderia ter certeza plena até que você mesma o experimentasse. Agora você conhece a verdade e sabe o que é estar perdida no inferno. Agora pode falar aos outros sobre ele. Tive que deixar você passar por tudo isso, para que você viesse a conhecê-lo sem nenhuma dúvida.”‘

Mas também não faz sentido. Se ela jamais poderia ter certeza plena até que ela mesma o experimentasse, de que adiantaria falar aos outros sobre ele?

Em seguida, o trecho que me fez ter vontade de mandar Mary Baxter para a sessão do descarrego:

 “Quando acordei no dia seguinte, estava muito doente. Durante quatro dias eu recordei os horrores do inferno com os seus tormentos. Durante a noite eu acordava gritando e dizendo que haviam vermes rastejando em mim. Fiquei com muito medo do inferno. Fiquei doente por muitos dias após ter sido largada nas mandíbulas do inferno. Tinha que dormir com a luz acesa. Precisava ter a Bíblia comigo o tempo todo e a lia constantemente. (…) Jesus dizia: “A Paz, aquieta-te” e a Paz entrava em minha alma. Mas, poucos minutos depois eu acordava gritando, histérica de medo. (…) Sentia tanto medo de voltar ao inferno, que tinha até medo algumas vezes de ter Jesus perto de mim”

Como se tudo isso não fosse o bastante, o livro termina com uma “visão” de um futuro muito doido. Distopia, Big Brother (livro 1984, de George Orwell) e apagador de mentes:

 “Quando olhava, vi um outro homem no escritório muito zangado com a besta. Ele exigiu falar com ele (a besta é um homem). Ele gritava com toda força. A besta apareceu e parecia bem educado quando disse: “Vem , posso ajudá-lo a resolver os seus problemas.” A besta levou-o, então, para uma sala grande e pediu que se deitasse numa mesa. A mesa e a sala lembravam uma sala de emergência de hospital. Deram-lhe uma anestesia e o transportaram para uma máquina grande. A besta prendeu alguns fios na cabeça do homem e ligou a máquina. Na parte superior da máquina estavam as palavras: “Este apagador de mentes pertence a besta, 666.” Quando o homem saiu da mesa, seus olhos tinham um olhar vazio e seus movimentos lembravam os de um zumbi num filme. Vi uma grande mancha branca no alto da sua cabeça, eu sabia que a sua mente tinha sido cirurgicamente alterada, para que deste modo ela pudesse ser controlada pela besta. A besta disse: “E agora, senhor, não está se sentindo melhor? Eu não lhe disse que cuidaria de todos os seus problemas? Eu dei-lhe uma mente nova. Não terá mais problemas nem preocupações.” O homem não respondeu.”

A prova final de que Mary Baxter inventou tudo isso é o seguinte trecho, que ela escreve antes de descrever sua experiência de ser torturada pela segunda vez (ah, é, o “Jesus” a abandona pela segunda vez, sem explicação plausível):

 “O que você vai ler agora, o deixará assustado. Oro para que isto o assuste o suficiente para fazer de você um crente. Oro para que você se arrependa de seus pecados, a fim de que nunca venha para este lugar.”

Comoassim, Mary? “Oro para que isto o assuste o suficiente para fazer de você um crente”?? Então um crente nada mais é do que um incrédulo assustado? Veja o perigo de se tentar fazer a obra de Deus na força do braço.

A conclusão final: o livro é uma ficção ruim. Uma tentativa de fazer um A Divina Comédia Gospel, usando a carta de “revelação” para que ninguém possa contradizê-la (sob o risco de estar contradizendo Jesus, imagina!). É o relato ficcional de uma mentirosa bem-intencionada. Se você quiser ler como ficção, fique à vontade. Só não saia por aí dizendo que Jesus realmente levou a mulher para o inferno.
Apesar da forma como ela decidiu apresentar essa ideia ser errada, o inferno é real, sim. A palavra de Deus é bem clara a respeito dele. Não sabemos se ele tem alguma forma (pouco provável) ou subdivisões. Nele, há fogo, choro e ranger de dentes. Há tormento que não se compara ao sofrimento que a pessoa passou neste mundo, afinal de contas, no mundo há coisas boas, mas no inferno não há mais nada de bom. Há fogo que queima e não consome nem ilumina. Há escuridão e trevas de tal forma que se alguém realmente fosse até lá, não enxergaria nada para contar a história (seria um livro bem esquisito). Não há plataformas em que se possa andar. Não há salinhas de isolamento. Há fogo, dor e tormento. Por toda eternidade.
Deus não quer que ninguém vá para o inferno — nem para avisar a outras pessoas. O ser humano abriu seu caminho para lá quando se afastou de Deus. Passaremos a eternidade ao lado de quem escolhemos servir e viver durante nossa vida neste mundo. A morte pode chegar a qualquer momento e devemos escolher, ainda neste mundo, onde iremos passar a eternidade. Esta vida deve ser um treinamento para nos tornarmos cidadãos do Reino de Deus, seguindo as Palavras do verdadeiro Senhor Jesus, o da Bíblia. Só assim teremos condições de viver com Ele para sempre.
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Vanessa Lampert
PS:  Essa resenha deu alguns filhotinhos. Tem mais um trechinho deste livro em outro texto, ainda mais absurdo e perigoso, “Pessoas não são demônios”. (Clique aqui para ler). E o texto “Sobre viagens ao inferno e ‘Profecias’ em geral” Clique aqui para ler.