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O que é um petista?

Já faz um tempinho que quero escrever a respeito disso. Pessoas tentam desqualificar meus argumentos (e os seus, também, provavelmente) dizendo que “vêm de uma petista”. Eis mais uma frase que faz com que o cérebro da criatura, aos meus olhos, encolha até se transformar em uma ervilha.

De uma vez por todas: uma coisa é votar na Dilma, ou no PT, outra completamente diferente é ser petista. Até onde eu sei, petista é uma pessoa filiada ao PT e com histórico de militância. Eu não sou filiada a partido político, e só participei da campanha, muito discretamente, em 2002, por conta própria, com minha irmã, porque queríamos tirar o PSDB do governo. Na era FHC, em 99/2000, eu estava na universidade federal e o governo não liberava verba para nada, a intenção era matar as universidades de fome, para forçar uma privatização. Só se falava nisso, e já nos preparávamos para começar a receber boletos de mensalidades. A parca verba que a UFMS recebia era concentrada na faculdade de Medicina e, o que sobrava, na de direito, e mesmo lá, faltava muita coisa.

Na faculdade de jornalismo, que eu fazia, não tinha verba para nada. Os computadores do laboratório de redação não davam para a metade da sala, não tinha verba nem para comprar papel higiênico, quem quisesse, levava de casa. A universidade vivia com mais da metade de suas luzes apagadas, para economizar, e também por causa do racionamento de energia. É uma região perigosa, e tivemos diversos casos de estupros e assaltos no campus. Não me lembro de ninguém na época que defendesse a continuidade daquele processo de depredação, embora a maioria realmente tivesse medo do Lula transformar o Brasil em uma ditadura comunista (coisa que ele teve 8 anos para fazer e não fez. Está, ao contrário, prestes a transformar o Brasil em uma potência capitalista), e outros torciam profundamente para que o Lula transformasse o Brasil em uma ditadura comunista, e devem ter se decepcionado profundamente…talvez hoje votem no PC do B ou no PSOL. Acabei, por conta disso, deixando a faculdade. Retomei o jornalismo em 2002, em uma universidade particular.

Desde que me conheço por gente, minha inclinação foi sempre para a esquerda, ou algo que se pode chamar de centro-esquerda. Sou protestante, o protestantismo é, em essência, revolucionário. Não existe possibilidade de extrema direita em meu contexto histórico. Hoje o PT é o que mais se aproxima de meu modo de ver as coisas, mas isso não me faz uma petista, acho que não tenho o direito de me denominar assim.

Vamos explicar também que “petista” não é ofensa, não é xingamento. Se você se deparar com um verdadeiro petista e chamá-lo de “petista” ele ficará bem feliz e lisonjeado. Eu acho que o elogio não me cabe, por isso não o aceito. E te acharei bastante imbecil por não saber a diferença entre um petista e um mero eleitor da Dilma. Eu sei a diferença entre um tucano e um mero eleitor do Serra, por exemplo. Ou o fato de você ter votado no Serra te transforma, automaticamente, em um tucano? Se você acha isso, está muito enganado.

As criaturinhas não perdem a oportunidade de nos chamar de “petistas” (como se fosse uma ofensa grave) só por declararmos voto à Dilma e combatermos o abuso e absurdo da manipulação do PSDB+Pig. Eu sei por quê. As pessoas gostam de criar rótulos e cada rótulo contém o título e uma descrição. Se te tascam um rótulo na testa, já automaticamente assumem que você se encaixa na descrição pré-concebida no rótulo.

Você vota na Dilma? É Petista! Acha que a Globo manipula? É Petista! Petista é quase que uma sub-espécie. Você deixa de ser humano e passa a ser meramente Petista. Então nada do que você diga é digno de crédito, afinal de contas, você é um Petista!  E se você é um petista – pensa a pessoa – eu não preciso me esforçar para pensar no que você diz e ver se faz sentido ou não. Simplesmente bloqueio tudo e não dou crédito, pois você é um petista.

Para mim isso é puro exercício de ignorância, de quem não admite que possa haver verdade em uma opinião contrária. Fecha os olhos, tapa os ouvidos e começa a cantar, bem alto: “lálálálálá-lá, você é petistaaaa, petistaaa”. Se você não votou na Dilma, e quando vê uma opinião contrária, já pensa: “é um petista!” Faça um favor à sua imagem pública: não externe esse tipo de pensamento.  Talvez no futuro você tenha a real noção do quão ignorante isso te faz parecer e se envergonhe. Melhor não deixar esse tipo de registro para a posteridade.


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PS: A maioria do pessoal que eu conheço e que militou na internet a favor de Dilma não é petista. Assim como eu, grande parte dessa militância só se engajou na campanha depois de se indignar com a postura agressiva e manipuladora da imprensa contra Dilma. Se a campanha da oposição tivesse sido mais educada e com menos participação do PIG, eu teria votado na Dilma de qualquer maneira (provavelmente, já que noPSDB eu jamais votaria, e após pesquisar suficientemente, não votaria na Marina), mas pelo menos não teria feito campanha, nem me esforçado para conseguir votos. A oposição deu tantos tiros no pé, desde o começo, que nem sei como ainda consegue andar.

PS2: Minha luta nessa eleição foi principalmente contra parcela golpista da imprensa, e sempre deixei isso muito claro. É a minha tônica neste blog.

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Vencemos

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Vencemos o preconceito, vencemos as mentiras, a manipulação, o jogo baixo. Agora é tentar conscientizar os que votaram no Serra por repulsa à Dilma e que neste momento, aguardam o Apocalipse. Espero que um dia eles percebam que compraram uma ideia equivocada e aprendam a não ir na onda de boataria, como foram.

Dilma entra para a história como a primeira presidente eleita do Brasil. Essa mulher, que suportou a tortura e a prisão na ditadura, conseguiu suportar a tortura psicológica desses dias de campanha. Agora as pessoas que tiverem interesse e boa vontade, poderão conhecer a verdadeira Dilma, não aquela dos videozinhos toscos editados e retirados de seu contexto, disponíveis no youtube só para endossar o preconceito. Também não aquela das edições da Globo, que ora quer mostrá-la como poste anencéfalo, ora quer mostrá-la como descontrolada, grossa e autoritária.

Agora, quem se interessar, poderá descobrir uma Dilma extremamente inteligente, com um raciocínio lógico afiadíssimo, bem humorada, um pouco tímida, mas forte, segura e firme em suas opiniões, ao mesmo tempo educada. Durante esse período em que me dediquei a pesquisar sobre ela, descobri uma pessoa de personalidade tão rica, que me parece uma estupidez tremenda alguém analisá-la de uma forma tão reducionista. Tão reducionista quanto analisam Lula, e o chamam de analfabeto só por ele não ter curso superior e por usar linguagem coloquial. Quando alguém me diz que Dilma não sabe falar (ou que Lula não sabe falar, ou que ele é analfabeto), logo me lembro de diversos pronunciamentos e entrevistas impecáveis que já assisti com eles e imediatamente a impressão que eu tenho é que o cérebro da pessoa, aos meus olhos, começa a encolher, encolher, até transformar-se em uma ervilha.

Essa campanha me fez repensar diversas coisas, ainda estou analisando tudo o que aconteceu. Vi o pior lado de algumas pessoas, mas também descobri que existe muito mais gente que gosta de pensar fora da caixa, que tem prazer em pesquisar e raciocinar, muito mais do que eu achava que tivesse. E isso me deu uma alegria incomensurável, uma esperança à qual me agarro: a de que nem tudo está perdido e que uma imprensa mais justa e informativa é possível. Valeu, Dilma. A luta continua. Não vou mudar de assunto tão cedo. Quem não gosta, que tire ferias do blog. Tem uma galera bem bacana conversando, e é com eles que quero continuar a falar.

Obrigada, Deus, por ter nos permitido essa vitória sobre as forças malucas do pior lado da direita, que se uniu para apoiar Serra.


PS: Dilma deu a primeira entrevista para a Record!!! Valorizou quem esteve ao lado da verdade, mostrou que é justa. AMEI! Adeus, PIG, recolha-se à sua insignificância.

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