Amo esses títulos autoexplicativos. No final das contas, o que vai pegar seu leitor no meio daquele emaranhado de outros livros é o título, não é mesmo? A menos que ele já saiba quem você é, o que não era o caso.  ”Pare de reclamar e concentre-se nas coisas boas” é a versão “título óbvio” que a editora Sextante deu para “A complaint free world” (“Um mundo livre de reclamações”), escrito por Will Bowen. – O que não me espanta, já que é a mesma editora que traduziu “The Servant” (“O servo”), de James Hunter, para “O monge e o executivo”. 🙂

A ideia de “Pare de reclamar e concentre-se nas coisas boas” é bem interessante. A proposta é ficar 21 dias sem reclamar, sem se lamentar, sem criticar e sem falar mal dos outros. “Moleza” – pensei. Li o livro para ter certeza de que não se tratava de uma atitude de conformismo diante dos problemas. Não é. Ao menos eu entendi que não é se conformar com tudo, mas não ficar reclamando e se lamentando o tempo todo. Achei que o livro poderia ser mais bem desenvolvido, eu o faria com o dobro de páginas (tem apenas 140), para deixar a coisa mais clara, pois alguns pontos ficaram resumidos demais. Mas este é um livro do qual eu não posso reclamar…hahaha… Felizmente, Will dá vários exemplos e conta histórias que nos permitem entender até o que ele não explicou.

Bem, vamos ao desafio: 21 dias sem reclamar, certo? Você deve usar algum objeto para controle, o grupo de Will escolheu uma pulseira, que deveria ser colocada em um dos braços. Assim que você se pegar reclamando, troque a pulseira de braço e recomece a contagem. Segundo ele, leva de 4 a 8 meses para completar os 21 dias seguidos sem reclamações. Apenas as reclamações e críticas que saírem pela sua boca (ou seus dedos, no caso de digitar) contam, as que ficarem apenas em sua mente, não. A pulseira ajuda a tornar o hábito consciente.

Segundo o autor, talvez você tenha que se afastar de amigos e familiares fofoqueiros ou reclamadores compulsivos que atrapalhem seu esforço (até porque depois que você se tornar uma pessoa sem reclamações, não terá muito assunto com eles…rs…), principalmente porque eles podem te fazer voltar ao vício de reclamar e fofocar. Ele orienta a não tomar parte em conversas de reclamação. Seu interlocutor pode se queixar, criticar ou fofocar, mas você deve ficar quieto (se reclamar da reclamação dele, terá de mudar sua pulseirinha de lado…rs…), sem retorno, a conversa se esvaziará.

Bem, lá fui eu fazer o desafio. As primeiras 24 horas foram tranquilas, cheguei ao cúmulo de monitorar meus pensamentos até durante o sonho (sou uma criatura disciplinada, amigos)! Eu pensava “não, não vou dizer isso porque é uma reclamação, deixa eu reformular a frase para uma sentença mais positiva”. Sério, eu fiz isso dormindo. No entanto, no dia seguinte, acordei com um torcicolo e reclamei…depois, reclamei de não ter colocado a roupa para lavar (Poxa, levanta e vai lavar a roupa, de que adianta reclamar?*) e troquei minha pulseirinha imaginária de braço duas vezes antes mesmo do café da manhã. Não demorou muito e reclamei que meu cabelo estava muito ressecado. Coloquei a pulseirinha imaginária no outro pulso. Pouco tempo depois, lá estava eu falando de como ainda não tinha conseguido fazer a resenha do Casamento Blindado. Troca a pulseirinha de novo…fiquei chocada! Mesmo controlando, foram três reclamações seguidas! Bastou ter acordado com um incômodo físico para virar a miss rabugice 2012.

Não me considero uma pessoa “reclamona”, muito menos negativa, mas me espantei com a dificuldade que tive com esse desafio de não fazer comentários negativos e não reclamar em voz alta, aí reclamei de ter reclamado…rs… (No meu caso, tenho policiado meus pensamentos, também, pois sou expert em me criticar e cobrar demais de mim. E meus papos comigo mesma – obviamente – são feitos dentro da minha cabeça. Embora Will diga que os pensamentos acabam mudando quando mudamos o padrão de palavras, policio os pensamentos, embora não mexa na pulseirinha por eles.) Vou reler o livro para analisá-lo melhor, mas recomendo a leitura, sim. Qualquer coisa que te ajude a ter uma postura mais positiva diante da vida, faz diferença.

Uma coisa interessante que Will escreve é que a gente tem o péssimo hábito de dizer quando acontece algo ruim: “eu mereço!” ou “isso só acontece comigo” ou “tinha que ser assim!”, fazendo com que um recado seja enviado ao nosso cérebro (e ao universo), que tratará de providenciar mais coisas ruins, afinal de contas, merecemos… Então, o antídoto é: aceite as coisas boas que te acontecem! Aconteceu algo legal, mesmo que pequeno (como encontrar uma boa vaga no estacionamento), diga: “eu mereço!” ou “isso sempre acontece comigo!” ou “tinha que ser assim” ou “tudo sempre dá certo para mim”. Aos poucos você realmente vai acreditar nisso e começará a desenvolver esse novo padrão para a sua vida. Assim, você começa a se concentrar nas coisas boas, torna-se grato pelas coisas positivas que acontecem, mesmo as menores, que passavam despercebidas.

Will acreditou tanto nisso que colocou toda a sua igreja nesse desafio (ele é pastor de uma pequena igreja americana) e criou o movimento “Um mundo sem reclamação”, baseado nesses princípios. Óbvio que funciona, pois diminuir a quantidade de reclamações, críticas e fofocas fará com que você pare de exercitar os maus olhos. E, segundo a Bíblia, os olhos são a lâmpada do corpo, se teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso. Se teus olhos forem maus, todo teu corpo andará em trevas. Mudar do olhar mau para o olhar bom é sair das trevas para a luz.   Quer reclamar? Reclame para Deus. Mas reclame sabendo que ele resolverá, e esqueça, confie (isso poderia estar mais claro no livro, mas optaram por uma abordagem mais secular).

Vale a pena. É uma leitura divertida, um assunto interessante com uma proposta desafiadora – e eu AMO desafios. Você também deve gostar, imagino. E então? Que tal 21 dias seguidos sem se queixar, sem falar mal dos outros e sem criticar? Se quiser conhecer bem as regras e os argumentos, procure este livro em alguma livraria, ele é curtinho e fácil de ler. Eu vou reler o meu. Depois conversamos mais a respeito.

 

PS:  *Isso me lembra o dia em que eu comentei com minha mãe (ao telefone, pois ela mora em Campo Grande – MS), que não tinha lavado roupa durante o dia, e que já era noite, se eu lavasse àquela hora ela não ia secar, porque estava frio e com umidade alta e blá blá blá… Ela riu e disse, com seu jeito calmo: “Vanessa, você já parou para pensar que tudo o que tem a fazer é colocar as roupas dentro da máquina e apertar um botão? Imagina se tivesse que lavar todas elas à mão?” … Pense no tamanho da minha vergonha ao constatar o ridículo daquela reclamação, diante de um raciocínio tão claro? Na verdade, se você pensar bem, 98% das reclamações que fazemos ao longo do dia são ridículas assim. O que podemos resolver, podemos resolver. O que não podemos, tudo o que podemos (e precisamos) fazer é apresentar a Deus.

PS2: Isso também é colocar em prática Filipenses 4:8, lembra desse versículo?  ”Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, seja isso o que ocupe o vosso pensamento.”  No final das contas, Will está certo, se você se habituar a falar apenas o que é bom, vai se encher do que é bom. Afinal de contas, a boca fala do que o coração está cheio…e mudar o que você fala inevitavelmente irá alterar o conteúdo do seu coração e da sua mente.

Vanessa Lampert

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* Resenha originalmente publicada em:

http://www.cristianecardoso.com/pt/portfolio/livros/